Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

Jaime de Magalhães Lima

Nasceu em Aveiro, no dia 15 de Outubro de 1859, no centro desta região. Era filho dum pai nascido em Eixo, terra à beira do Vouga e pertencendo ao coração desta região. Em Eixo habitaram e se multiplicaram os seus antepassados, no correr de cerca de três séculos, querendo a tradição que o seu quarto avô fosse estrangeiro, sem todavia lhe designar a nacionalidade. Teria sido esse homem, e isso leva a crer, que fundou e exerceu a indústria de artefactos de cobre, se propagou e prosperou e que os filhos e os netos continuaram até meados do séc. XIX. Este seu quarto avô foi povoador notabilíssimo. Teve filhos sem conta e parece que só em um dia casou cinco filhas, o que lhe institui parente declarado de metade da freguesia, que tinha apenas cerca de duas mil almas. Mas o seu avô paterno não se contentou com as raparigas da vizinhança e foi casar a Vagos, a três léguas da sua casa, mas sempre à beira das águas do Vouga.

Jaime de Magalhães de Lima foi um Pensador de raiz poética.

A sua obra literária é a de um aristocrata de espírito e, por isso mesmo, numa terra de plebeus mentais, nunca foi – não podia ser – um escritor popular.

Poucos o leram. Alguns leram-no, página aqui, página além, enfastiadamente, porque aquilo desdizia do paladar vulgar de Lineu.

Saboreá-lo em profundidade foi prazer reservado a quem tem o gosto de fala discreta, mansinha, de toada poética, ritmo musical, fruto de meditação recolhida. E daí a razão por que os seus livros não tiveram renovadas edições e a única que tiveram se vendeu quase ao desbarato, em alfarrabistas. Para mais não pediu aos amigos, não mendigou aos jornalistas o clangor da propaganda. Discretamente sentiu, com muita arte escreveu, discretamente publicou, nenhum reclamo fez de si próprio, a ninguém pediu que lho fizessem. Tudo fez, num clima de modéstia, num discreto silêncio.

Faleceu na madrugada de 26 de Fevereiro de 1936.

 

João Afonso de Aveiro

Era filho de João Gonçalves, Alcaide-mor da Vila de Almoster, e de Catherina Garcia da Gama, ambos de nobre origem e de posição elevada.

Isso e os seus merecimentos levaram D. Diogo, quarto Duque de Beja e irmão de el-rei D. Manuel, a nomeá-lo um dos seus criados mais dignos de consideração.

Efectivamente, João Afonso tornara-se notável pela erudição, pelo talento e agudeza de espírito. Metrificava facilmente e conforme ao gosto do seu tempo.

O Cancioneiro de Garcia de Resende, publicado em Lisboa, em 1516, traz desde folhas 130 verso a 131 verso, algumas composições métricas deste aveirense.

Não será fácil saber-se se João Afonso deixou descendência.

Pela obra «Ressurreição de Portugal, a morte fatal de Castela», de que é autor Fernão Homem de Figueiredo, sabe-se que João Afonso de Aveiro vivia ao tempo de el-rei D. João lI, que em 1479 escrevera nos versos, intitulados «Perdição de Castela» e, que assim o afirmava um grave religioso do convento de S. Domingos de Lisboa, num livro escrito por ordem de el-rei D. Manuel.

O autor daquela obra, e no primeiro livro, chama a este aveirense pessoa insigne nas letras e varão nas virtudes.

João Afonso também deixou em verso e manuscrito um livro intitulado «Poesias Várias».


João de Sousa Pizarro

Era irmão da Baronesa de Almeidinha, falecida em Maio de 1861. Nasceu em 5 de Agosto de 1799. Era filho de Sebastião José de Sousa Quevedo Pizarro, capitão de Cavalaria e fidalgo da Casa Real e de Ignes José de Magalhães da Silveira.

Em 27 de Novembro de 1802, foi feito fidalgo da Casa Real e o respectivo diploma foi registado a folhas 309 do terceiro livro das Mercês e ordens régias, pertencente à Câmara de Aveiro.

Quando aqui se celebrou a cerimónia da quebra dos escudos pela morte de el-rei D. João VI, foi a bandeira da Câmara levada por João de Sousa Pizarro. Este indivíduo abraçou com entusiasmo as ideias políticas, proclamadas em 1820 e, como tal se salientou então e em 1823.

Em 1826, manifestou-se a favor da causa do primeiro Imperador do Brasil, salientando-se não pouco e chegando a praticar alguns excessos, dos quais felizmente não resultaram, senão alguns pequenos desgostos.

Na vida militar chegou ao posto de oficial superior e nos diversos recontros em que entrou contra os partidários do antigo regime, mostrou-se sempre valente e destemido.

Vítima da sua audácia, foi morto na batalha da Cruz de Morouço, em 1828. Alguns soldados do partido adverso trataram pouco respeitosamente o seu cadáver, pelo que foram repreendidos e castigados.

Era ele o único filho varão. Por sua morte, ficou herdeira, sua única irmã Maria Beneditina, que mais tarde teve o título de baronesa de Almeidinha.

 

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