Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

Mais uma tentativa se faria ainda em 1802. Havia então dois engenheiros que se tinham especializado em hidráulica: eram o coronel / 21 / Reinaldo Oudinot, de nacionalidade francesa, e ao serviço do exército português desde 5 de Setembro de 1756, e o sargento-mor Luís Gomes de Carvalho, seu genro, antigo aluno laureado da Academia Real de Fortificação.

Em 1801 os engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho estavam trabalhando em obras no rio Douro, na cidade do Porto.

Neste mesmo ano o ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho decidiu aproveitar os vastos conhecimentos de hidráulica e larga experiência destes dois engenheiros para resolver o problema do melhoramento da barra de Aveiro que tinha certa semelhança com o da barra do rio Lis, obra que os dois haviam planeado com os melhores resultados.

Por ordem do príncipe regente D. João foi então consultado Reinaldo Oudinot acerca das possíveis obras a realizar. A resposta deste engenheiro foi animadora, e por isso, em ofício de 2 de Janeiro de 1802, este ministro convidava Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho a apresentarem-lhe o mais depressa possível um extracto das suas ideias acerca das obras em curso na barra de Aveiro, e das que eles poderiam empreender.

Os dois engenheiros vieram do Porto para Aveiro no dia 21 de Janeiro do mesmo ano e imediatamente começaram a trabalhar para o dito fim. No dia 17 de Abril remete Luís Gomes de Carvalho ao príncipe regente o primeiro plano e mapa para as obras que entendia deverem ser feitas. Os planos definitivos de Reinaldo Oudinot e de Luís Gomes de Carvalho foram remetidos a D. Rodrigo de Sousa Coutinho em Junho de 1802 e aprovados pelo príncipe regente. A aprovação foi comunicada aos dois engenheiros em aviso régio datado de 5 de Julho do mesmo ano.

O príncipe mandou guardar os originais dos planos no seu gabinete, e depositar duas cópias, uma na Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda e outra na Real Sociedade Marítima Militar e Geográfica.

Os dois planos eram idênticos quanto às obras a realizar, mas divergiam quanto ao modo de as executar. As obras consistiam essencialmente na abertura duma nova barra ao norte da que existia nos areais de Mira, e ficando situada cerca de 1.000 braças ao sul da capela da Senhora das Areias, na costa de S. Jacinto, e 7.850 braças ao norte da barra existente, ou sejam respectivamente 2.100 metros e 16.845 metros.

Os dois engenheiros dirigiram as obras e executá-las-iam conforme as circunstâncias aconselhassem. Reinaldo Oudinot ficou sendo o inspector das ditas obras, em acumulação com a inspecção e direcção das obras da barra do Porto.

Durante o resto do ano de 1802 e no ano de 1803 construiu-se o dique ou marachão através do rio, para ser continuado depois através do cordão de areias até ao mar. Mas nos fins deste ano surgiram grandes inundações na Ilha da Madeira, e por isso o coronel Reinaldo Oudinot foi mandado em comissão para a cidade do Funchal, para proceder a obras de urgência nas ribeiras desta cidade. Partiu para lá nos princípios de 1804, sendo já brigadeiro desde 14 de Dezembro de 1803.

Luís Gomes de Carvalho, por aviso régio de 30 de Dezembro de 1803, foi encarregado da inspecção e direcção das obras da barra de Aveiro e da do Porto durante a ausência de Reinaldo Oudinot.

Afinal este não voltou a dirigir as obras da barra de Aveiro, porque tendo as obras do Funchal demorado muito tempo a executar, lá faleceu aos 11 dias de Fevereiro de 1807. Entretanto Luís Gomes de Carvalho foi executando as obras com várias dificuldades e oposições.

Finalmente, em 3 de Abril de 1808, pelas 7 horas da tarde, foi concluída a abertura da nova barra, e as águas represadas correram violentamente para o mar. Ao fim de alguns dias a nova barra de Aveiro tinha na baixa-mar 18 a 22 palmos de profundidade e na praia-mar 28 a 30 palmos.

Então livre a entrada e saída das águas, acabavam-se as inundações dos campos e da cidade, melhoravam as condições sanitárias, melhorava a navegação, sobretudo a da laguna, que é duma riqueza incalculável, e renasciam as povoações ribeirinhas. Daí data a nova cidade de Aveiro, que de 3 de Abril de 1808 até hoje tem vindo num progresso crescente.
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Na imagem, vista aérea da ria de Aveiro e seu porto em 1985.
 

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