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Mais uma
tentativa se faria ainda em 1802. Havia então dois engenheiros que se
tinham especializado em hidráulica: eram o coronel / 21 /
Reinaldo Oudinot, de nacionalidade francesa, e ao serviço do
exército português desde 5 de Setembro de 1756, e o sargento-mor Luís
Gomes de Carvalho, seu genro, antigo aluno laureado da Academia Real
de Fortificação.
Em 1801
os engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho estavam
trabalhando em obras no rio Douro, na cidade do Porto.
Neste
mesmo ano o ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho decidiu
aproveitar os vastos conhecimentos de hidráulica e larga experiência
destes dois engenheiros para resolver o problema do melhoramento da
barra de Aveiro que tinha certa semelhança com o da barra do rio Lis,
obra que os dois haviam planeado com os melhores resultados.
Por ordem
do príncipe regente D. João foi então consultado Reinaldo Oudinot acerca
das possíveis obras a realizar. A resposta deste engenheiro foi
animadora, e por isso, em ofício de 2 de Janeiro de 1802, este ministro
convidava Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho a apresentarem-lhe o
mais depressa possível um extracto das suas ideias acerca das obras em
curso na barra de Aveiro, e das que eles poderiam empreender.
Os dois
engenheiros vieram do Porto para Aveiro no dia 21 de Janeiro do mesmo
ano e imediatamente começaram a trabalhar para o dito fim. No dia 17 de
Abril remete Luís Gomes de Carvalho ao príncipe regente o primeiro plano
e mapa para as obras que entendia deverem ser feitas. Os planos
definitivos de Reinaldo Oudinot e de Luís Gomes de Carvalho foram
remetidos a D. Rodrigo de Sousa Coutinho em Junho de 1802 e aprovados
pelo príncipe regente. A aprovação foi comunicada aos dois engenheiros
em aviso régio datado de 5 de Julho do mesmo ano.
O
príncipe mandou guardar os originais dos planos no seu gabinete, e
depositar duas cópias, uma na Secretaria de Estado dos Negócios da
Fazenda e outra na Real Sociedade Marítima Militar e Geográfica.
Os dois
planos eram idênticos quanto às obras a realizar, mas divergiam quanto
ao modo de as executar. As obras consistiam essencialmente na abertura
duma nova barra ao norte da que existia nos areais de Mira, e ficando
situada cerca de 1.000 braças ao sul da capela da Senhora das Areias, na
costa de S. Jacinto, e 7.850 braças ao norte da barra existente, ou
sejam respectivamente 2.100 metros e 16.845 metros.
Os dois
engenheiros dirigiram as obras e executá-las-iam conforme as
circunstâncias aconselhassem. Reinaldo Oudinot ficou sendo o inspector
das ditas obras, em acumulação com a inspecção e direcção das obras da
barra do Porto.
Durante o
resto do ano de 1802 e no ano de 1803 construiu-se o dique ou marachão
através do rio, para ser continuado depois através do cordão de areias
até ao mar. Mas nos fins deste ano surgiram grandes inundações na Ilha
da Madeira, e por isso o coronel Reinaldo Oudinot foi mandado em
comissão para a cidade do Funchal, para proceder a obras de urgência nas
ribeiras desta cidade. Partiu para lá nos princípios de 1804, sendo já
brigadeiro desde 14 de Dezembro de 1803.
Luís
Gomes de Carvalho, por aviso régio de 30 de Dezembro de 1803, foi
encarregado da inspecção e direcção das obras da barra de Aveiro e da do
Porto durante a ausência de Reinaldo Oudinot.
Afinal
este não voltou a dirigir as obras da barra de Aveiro, porque tendo as
obras do Funchal demorado muito tempo a executar, lá faleceu aos 11 dias
de Fevereiro de 1807. Entretanto Luís Gomes de Carvalho foi executando
as obras com várias dificuldades e oposições.
Finalmente, em 3 de Abril de 1808, pelas 7 horas da tarde, foi concluída
a abertura da nova barra, e as águas represadas correram violentamente
para o mar. Ao fim de alguns dias a nova barra de Aveiro tinha na
baixa-mar 18 a 22 palmos de profundidade e na praia-mar 28 a 30 palmos.
Então
livre a entrada e saída das águas, acabavam-se as inundações dos campos
e da cidade, melhoravam as condições sanitárias, melhorava a navegação,
sobretudo a da laguna, que é duma riqueza incalculável, e renasciam as
povoações ribeirinhas. Daí data a nova cidade de Aveiro, que de 3 de
Abril de 1808 até hoje tem vindo num progresso crescente.
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Na imagem, vista aérea da ria de Aveiro e seu porto em
1985.
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