Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

Barra de Aveiro

A sorte de Aveiro esteve sempre ligada à do seu porto. Enquanto a barra foi boa e profunda, Aveiro foi próspera, rica, populosa. Quando a acção das forças naturais exteriores – ventos dominantes, correntes e marés venceu a acção das forças interiores – correntes fluviais – para o que muito deve ter concorrido, segundo Rocha e Cunha «a transformação em salinas duma grande extensão de sapais, permanentemente inundados, facto que alterou profundamente a fisionomia da laguna (não esquecer que Aveiro é um porto lagunar) e reduziu consideravelmente o volume da caldeira interior, alterou o regime de marés, modificou a intensidade e direcção das correntes, e facilitou por esta forma a acção das forças que impeliam a barra (tornara-se uma barra móbil) no caminho sul», Aveiro perdeu muito da sua importância.

As águas, não tendo fácil saída para o mar, transbordavam, formando pântanos pestilenciais. As febres palustres e outras dizimavam a população, segundo constatava, a 27 de Janeiro de 1687, Cristóvão de Pinho Queimado, acrescentando: «Se o sr. rei não nos acudir com o seu braço real do qual ainda esperamos remédio a nossos males, daqui a pouco mais de meio século não terá esta vila por moradores senão os que se ocupam na pesca, alguns mercantes e aqueles que não tiverem meios de ir para outras partes».

Já no séc. XVII a barra se mostrava incapaz, pelo que os aveirenses, na segunda metade do séc. XVIII, dirigiram uma petição ao Governo e este resolveu que se fizessem obras no sentido de se meIhorar e fixar a barra. E assim, vários engenheiros de fama, e alguns práticos, uns após outros, elaboraram planos e executaram obras, mas estas nada produziram.

Fracassaram as obras de Carlos Mardel em 1756; as de João de Sousa Ribeiro em 1757; as de Francisco Jacinto Polchet e Francisco Xavier do Rego em 1758; as de Guilherme Elsden e Isidoro PauIa Pereira em 1777; as de João Isepi em 1780; as de Guilherme Valeré em 1788; as de Estêvão Cabral e Luís de Allincourt em 1791.

No fim do séc. XVIII a descrença na eficácia de quaisquer obras para melhorar a barra ou abrir uma nova barra mais ao norte, era geral.

A situação continuava crftica; e por isso a Câmara de Aveiro, em sua sessão de 16 de AbriI de 1794, mais uma vez se ocupou do assunto e deliberou pedir providências ao Governo para que se fizessem obras eficazes. A região do baixo Vouga estava transformada num vasto pântano, onde as marés mal se faziam sentir, resultando daqui a impossibilidade da agricultura e do fabrico do sal e o aparecimento de graves epidemias.


O príncipe regente D. João, o futuro rei D. João VI, e o então ministro, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois conde de Linhares, acharam justas as reclamações dos aveirenses e resolveram interessar-se por elas.

Fundamentalmente, a ressurreição de Aveiro e do seu porto em 1808 deve-se a D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Di-lo o próprio e ilustre engenheiro que planeou e executou as obras da barra, Luís Gomes de Carvalho.

A questão era delicada, pois tinham sido inúteis todas as anteriores tentativas para melhorar a barra.

Aspecto de uma cheia, na zona baixa da cidade,
devido à precaridade da barra, em tempos passados.
 

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