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Barra de Aveiro
A sorte
de Aveiro esteve sempre ligada à do seu porto. Enquanto a barra foi boa
e profunda, Aveiro foi próspera, rica, populosa. Quando a acção das
forças naturais exteriores – ventos dominantes, correntes e marés venceu
a acção das forças interiores – correntes fluviais – para o que muito
deve ter concorrido, segundo Rocha e Cunha «a transformação em salinas
duma grande extensão de sapais, permanentemente inundados, facto que
alterou profundamente a fisionomia da laguna (não esquecer que Aveiro é
um porto lagunar) e reduziu consideravelmente o volume da caldeira
interior, alterou o regime de marés, modificou a intensidade e direcção
das correntes, e facilitou por esta forma a acção das forças que
impeliam a barra (tornara-se uma barra móbil) no caminho sul», Aveiro
perdeu muito da sua importância.
As águas,
não tendo fácil saída para o mar, transbordavam, formando pântanos
pestilenciais. As febres palustres e outras dizimavam a população,
segundo constatava, a 27 de Janeiro de 1687, Cristóvão de Pinho
Queimado, acrescentando: «Se o sr. rei não nos acudir com o seu
braço real do qual ainda esperamos remédio a nossos males, daqui a pouco
mais de meio século não terá esta vila por moradores senão os que se
ocupam na pesca, alguns mercantes e aqueles que não tiverem meios de ir
para outras partes».
Já no
séc. XVII a barra se mostrava incapaz, pelo que os aveirenses, na
segunda metade do séc. XVIII, dirigiram uma petição ao Governo e este
resolveu que se fizessem obras no sentido de se meIhorar e fixar a
barra. E assim, vários engenheiros de fama, e alguns práticos, uns após
outros, elaboraram planos e executaram obras, mas estas nada produziram.
Fracassaram as obras de Carlos Mardel em 1756; as de João de
Sousa Ribeiro em 1757; as de Francisco Jacinto Polchet e
Francisco Xavier do Rego em 1758; as de Guilherme Elsden e
Isidoro PauIa Pereira em 1777; as de João Isepi em 1780; as
de Guilherme Valeré em 1788; as de Estêvão Cabral e
Luís de Allincourt em 1791.
No fim do
séc. XVIII a descrença na eficácia de quaisquer obras para melhorar a
barra ou abrir uma nova barra mais ao norte, era geral.
A
situação continuava crftica; e por isso a Câmara de Aveiro, em sua
sessão de 16 de AbriI de 1794, mais uma vez se ocupou do assunto e
deliberou pedir providências ao Governo para que se fizessem obras
eficazes. A região do baixo Vouga estava transformada num vasto pântano,
onde as marés mal se faziam sentir, resultando daqui a impossibilidade
da agricultura e do fabrico do sal e o aparecimento de graves epidemias.
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O
príncipe regente D. João, o futuro rei D. João VI, e o então ministro,
D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois conde de Linhares, acharam
justas as reclamações dos aveirenses e resolveram interessar-se por
elas.
Fundamentalmente, a ressurreição de Aveiro e do seu porto em 1808
deve-se a D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Di-lo o próprio e ilustre
engenheiro que planeou e executou as obras da barra, Luís Gomes de
Carvalho.
A questão
era delicada, pois tinham sido inúteis todas as anteriores tentativas
para melhorar a barra. |
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Aspecto de uma cheia, na
zona baixa da cidade,
devido à precaridade da barra,
em tempos passados.
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