Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

 

A costa recuava por alturas de Esmoriz, segundo a geologia local insofismavelmente demonstra, passava em Estarreja, dava saída às águas do Vouga, Águeda e / 17 / Cértima, com suas fozes independentes, bordava Eirol, Cacia, Esgueira, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira, até atingir o Cabo Mondego, sempre recortando terreno firme.

As correntes carregadas de areias provenientes de erosões ao Norte, desde a Galiza, alinharam a costa, de Esmoriz ao Cabo Mondego, tal como hoje se encontra, em trabalho de muitos séculos; daí veio a resultar a ria de Aveiro; um cordão litoral se terá formado ao mesmo tempo que bancos de areia e ilhas surgiam no estuário, consequência dos grandes fundos da reentrância pelas areias, pelos depósitos aluvionares trazidos pelos rios que ali desaguavam, consequência, ainda, da acção dos ventos dominantes da região.

Marinhas de sal

Conquanto estivessem em jogo, desde o começo da idade actual que a terra vive, as causas que levaram à constituição da ria, o seu aparecimento com feição semelhante à que em nossos dias apresenta pode considerar-se ocorrido já no período histórico português. Com efeito, o portulano de Petrus Visconti, reproduzido no atlas do visconde de Santarém e modernamente estudado pelo comandante Rocha e Cunha, representa a região sem o cordão litoral e com a reentrância perfeitamente marcada; está datado de 1318, mas é considerado por este historiador como decalque doutro mapa alguns séculos anterior; o teor e a interpretação dos documentos conjugam-se também para fixar a constituição da ria em época posterior ao séc. XI.

A linha de maré foi recuando, devido aos assoreamentos e ao avanço das terras cultivadas, sabendo-se, por documentos, que chegava a Alquerubim ainda no séc. XI; entretanto formava-se o cordão litoral, surgiam ilhas, definiam-se canais, e toda a vasta laguna passou a servir de laboratório da indústria salineira; por toda ela existiram marinhas, de que os documentos guardaram lembrança fiel, preciosa para a reconstituição do antigo litoral; encontram-se limitados à actual zona de água salgada, bastante reduzida.

A ria recebe as águas do Vouga, do Águeda, do Antuã, do Cértima, do Caima, do rio Mau, da ribeira do Marnel, da ribeira do Pano, da vala da Capaneira, da vala do Arrujo, da Vergueira e da vaIa Negra; esta água doce espalha-se pelos braços da ria, modificando muito o grau de salinidade e prejudicando os trabalhos das marinhas.

A ria de Aveiro comunica com o Atlântico pela barra, cuja localização tem evolucionado bastante.

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