Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

É todavia a partir da grande conquista de «vila notável», ou / 10 / melhor ainda, entre o desastre de Alcácer-Quibir em que a rica nobreza da vila apostara fortemente com outros sectores sócio-políticos, o assalto às muralhas e à vila por D. António e seus partidários e a Armada Invencível, que começa a desenhar-se, lenta mas progressivamente, o definhar desta rica povoação, dispersos os seus barcos, fustigado o litoral, por pirataria diversa, maus invernos, notório assoreamento da barra... e consequentes pestes, desolação e abandono.

Por isso o aspecto se torna algo diferente na segunda metade do século XVII, pior ainda por todo o século XVIII, pois se «em 1685 ainda a vila tinha 10.000 habitantes; em 1736 apenas tinha 5.300; em 1767, 4.400; em 1797, 3.500; estava pois a caminho de se extinguir».

Curiosamente, é neste período de recessão económica e populacional que crescem as casas religiosas e as grandes moradias da nobreza, como que a convite de F. Rodrigues Lobo, fazendo «cortes na aldeia» e, posteriormente, arrastados pelas ideias iluministas, mais ou menos filtradas, de D. João V a D. José, atribuindo menor importância a este sector social, a não ser que colaborante e subserviente, mas culto.

Pelos fins do século XVII e por todo o século de Setecentos desesperava-se a população aveirense e os seus representantes, face à dramática situação da barra fechada ou oscilando a sua abertura para o Norte e Sul, sem garantias de efectiva navegação, sem resposta eficaz por parte dos diversos monarcas, apesar de muitas diligências de engenheiros nacionais e estrangeiros.

De nada lhe valia o ouro do Brasil... Quase parecia uma vila fantasma!

Mas foi precisamente quando Aveiro se aproximava dos seus valores mais baixos que, na noite de 3 de Setembro de 1758, se verificou o atentado a D. José, sendo apontado como principal responsável o então Duque de Aveiro (o ducado havia sido criado na pessoa de D. João de Lencastre, filho de D. Jorge, bastardo de D. João II, que aqui passara alguns anos da sua infância com a tia, a princesa D. Joana, irmã do «Príncipe Perfeito»).

Como a querer reparar danos morais causados à vila de Aveiro, que se apressara a testemunhar ao rei a sua inteira fidelidade (e enquanto o duque era executado e confiscado os seus bens, extinguindo-se o ducado) e sem que houvesse qualquer petição nesse sentido, para mais atendendo ao estado de penúria da «vila notável». D. José, pela sua real benignidade, elevou Aveiro à categoria de cidade, em 11 de Abril de 1759, o que implicou também a criação de nova diocese, autorizada por Clemente XIV, em Abril de 1774.

O que, por outras palavras, se traduzia num claro rompimento religioso e político com a dependência de muitos séculos em relação à capital do Mondego.

Destas alterações político-religiosas vieram, naturalmente, benefícios gerais, traduzidos em novas construções (entre elas a Câmara e o Aqueduto), mas a fisionomia da nova cidade não se alterou, continuando a barra fechada e semi-alagadas as marinhas, deteriorando-se as condições de vida.

Esta situação só viria a ser ultrapassada quando, em 1808, após porfiados trabalhos, Luís Gomes de Carvalho conseguiu em definitivo a ligação da ria ao mar, seguindo-se, durante dezenas de anos, trabalhos de regularização das margens e manutenção do canal central, da cidade à barra.

Para o efeito e à falta de pedra na região, sacrificou-se grande parte das muralhas, autorizada que foi a demolição pelo Regente D. João, em 1802, consumada a partir de 1806.

Vista aérea da cidade

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