Terras da Nossa Terra - Ano 21, Abril de 1985

A trágica morte de D. Pedro, em Alfarrobeira, e a carga política / 7 / que se abateu sobre tão prestigiada figura do nosso Quatrocento em nada afectou o desenvolvimento de Aveiro, que continuou a crescer tanto dentro dos seus muros altos, como também fora, onde se acotovelavam estratos sociais mais pobres, de que resultou povoado diferente, do outro lado da ribeira. Era se quisermos, «o novo burgo», vivendo de mãos dadas entre a terra, a ria e as marinhas.

A atestar a rápida importância da vila, D. Duarte autorizou, em 1434, a realização de feira anual, conhecida ainda hoje por «Feira de Março». E na segunda metade do século XV, a vila era dos mais promissores centros urbanos do país.


Já entretanto nascera o convento de Jesus, também dominicano, que foi o escolhido pela infanta Joana, filha de D. Afonso V, para nele viver como freira domínica até à sua morte, em 12 de Maio de 1490. Com a sua presença e mesmo após a sua morte com fama de santidade vieram benefícios gerais tanto para a ordem como para a vila, de que a «santa princesa» foi honrosamente donatária.

Dir-se-ia que, com D. Pedro e com a Infanta D. Joana, Aveiro entrou no seu «século de ouro», para entrar em lento declínio após a tomada do país por Filipe II de Espanha, em 1580.

Participando decisivamente na expansão quatrocentista, daqui saíram, barra fora, por séculos de história, em direcção aos mais variados cantos do nosso império colonial, muitas figuras cimeiras da «gesta lusíada», nobres, clérigos, mercadores, mesteirais ou pescadores, como aconteceu em relação à pesca longínqua do bacalhau, que chegou a rivalizar em importância económica com o sal produzido pela vila de Aveiro.

E na transição para o século XVI, a vila tinha três instituições de carácter assistencial: o Hospital (confraria) da Senhora da Alegria, o Hospital de S. Brás, fundado por Fernão Vaz de Agomide em 1457, e a Santa Casa da Misericórdia.

Por outro lado, em meados do mesmo século, a vila podia orgulhar-se de ter cento e cinquenta barcos de mar alto, dos quais meia centena se dedicava fundamentalmente à pesca do bacalhau, nos mares da Terra Nova.

O que, evidentemente, implicava desenvolvida actividade de construção naval, a pouco e pouco instalada quase exclusivamente ao longo do Canal S. Roque, santo protector dos carpinteiros navais. Os reis lhes reconheceram o interesse da actividade, dando aos calafates de Aveiro, tanto D. Manuel em 1521, como D. João III, em confirmação, privilégios diversos «... e queremos, e nos... (continua na pág. seguinte)

 

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