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A trágica morte de
D. Pedro, em Alfarrobeira, e a carga política / 7 / que se abateu sobre
tão prestigiada figura do nosso Quatrocento em nada afectou o
desenvolvimento de Aveiro, que continuou a crescer tanto dentro dos seus
muros altos, como também fora, onde se acotovelavam estratos sociais
mais pobres, de que resultou povoado diferente, do outro lado da
ribeira. Era se quisermos, «o novo burgo», vivendo de mãos dadas entre a
terra, a ria e as marinhas.
A atestar a rápida
importância da vila, D. Duarte autorizou, em 1434, a realização de feira
anual, conhecida ainda hoje por «Feira de Março». E na segunda metade do
século XV, a vila era dos mais promissores centros urbanos do país.
Já entretanto
nascera o convento de Jesus, também dominicano, que foi o escolhido pela
infanta Joana, filha de D. Afonso V, para nele viver como freira
domínica até à sua morte, em 12 de Maio de 1490. Com a sua presença e
mesmo após a sua morte com fama de santidade vieram benefícios gerais
tanto para a ordem como para a vila, de que a «santa princesa» foi
honrosamente donatária.
Dir-se-ia que, com
D. Pedro e com a Infanta D. Joana, Aveiro entrou no seu «século de
ouro», para entrar em lento declínio após a tomada do país por Filipe II
de Espanha, em 1580.
Participando
decisivamente na expansão quatrocentista, daqui saíram, barra fora, por
séculos de história, em direcção aos mais variados cantos do nosso
império colonial, muitas figuras cimeiras da «gesta lusíada», nobres,
clérigos, mercadores, mesteirais ou pescadores, como aconteceu em
relação à pesca longínqua do bacalhau, que chegou a rivalizar em
importância económica com o sal produzido pela vila de Aveiro.
E na transição para
o século XVI, a vila tinha três instituições de carácter assistencial: o
Hospital (confraria) da Senhora da Alegria, o Hospital de S. Brás,
fundado por Fernão Vaz de Agomide em 1457, e a Santa Casa da
Misericórdia.
Por outro lado, em
meados do mesmo século, a vila podia orgulhar-se de ter cento e
cinquenta barcos de mar alto, dos quais meia centena se dedicava
fundamentalmente à pesca do bacalhau, nos mares da Terra Nova.
O que,
evidentemente, implicava desenvolvida actividade de construção naval, a
pouco e pouco instalada quase exclusivamente ao longo do Canal S. Roque,
santo protector dos carpinteiros navais. Os reis lhes reconheceram o
interesse da actividade, dando aos calafates de Aveiro, tanto D. Manuel
em 1521, como D. João III, em confirmação, privilégios diversos «...
e queremos, e nos... (continua na pág. seguinte)
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