Nasceu em 1800 e,
segundo creio, foi baptizado na igreja paroquial da Vera Cruz. Era
filho de José dos Santos Regala, negociante de sal e de pescado, e de
Rosa Maria de Jesus.
Depois de haver
estudado em Aveiro os preparatórios, seguiu na Universidade e sempre
muito regularmente as aulas de direito e concluiu a formatura em 1825.
Em Aveiro exerceu a
advocacia e aqui se casou em 1833 com D. Inocência Leopoldina Ferreira
de Lemos, educanda no convento da Madre de Deus (vulgo, convento de Sá)
e natural da vila de Ílhavo. Era filha de Manuel Daniel Ferreira Félix,
irmão de D. Inocência Ludovina do Céu, abadessa do mesmo convento.
Deste consórcio
nasceram dezassete filhos, dos quais existem actualmente (1907) cinco;
alguns deles nasceram em Aveiro.
No mesmo ano de
1833, posto que não pretendesse figurar na política nem se quisesse
manifestar por nenhuma dos partidos, que então se guerrearam, foi
apontado como partidário da causa do primeiro imperador do Brasil e,
como tal, foi perseguido e teria sido maltratado, se não tivesse fugido
de noite. Vagueando pelas marinhas e por diversos sítios da Ria, pôde
arranjar ensejo de ausentar-se para o Porto, onde então se achava seu
irmão, João Maria Regala, que fora cirurgião-mor do Batalhão dos
Voluntários Realistas de Aveiro, mas que já a esse tempo se havia
apresentado aos partidários / pág.
351 / de D. Pedro. Como militar, se
não praticou actos de bravura que o distinguisse, também não mostrou
cobardia, quando era mister entrar em peleja.
Pacificado
aparentemente o país, voltou o Dr. Luís Regala para a sua terra e aqui
viveu algum tempo com sua família, em companhia daquele seu irmão, de
quem depois e por amigável combinação houve de separar-se. Continuou a
advogar, não só no auditório de Aveiro, mas também nos julgados, de que
então se compunha esta Comarca e que eram Aveiro, Ílhavo, Eixo e Vagos,
não deixando também de advogar noutras Comarcas próximas.
Em Agosto de 1834,
foi eleita a Câmara Municipal pelos partidários de augusta filha do
primeiro imperador do Brasil. Luís dos Santos Regala foi um dos
vereadores eleitos. Os outros foram: - Dr. Joaquim António Plácido,
presidente; Domingos dos Santos Barbosa Maia, vice-presidente; e João
António de Morais.
Desde 1836 a 1839,
foi provedor da Misericórdia e ali fez todas as reformas que pôde e
entendeu indispensáveis para a boa economia daquele estabelecimento de
caridade. Por diversas vezes, aqui exerceu o lugar de administrador do
Concelho, posto que disso não auferisse grandes lucros.
Luís dos Santos
Regala foi um dos aveirenses que, em 27 de Maio de 1842, assinaram o
protesto contra os abusos da autoridade administrativa, do qual falei
nas biografias de António Augusto Coelho de Magalhães e de Joaquim
António Plácido. Isso, decerto, concorreu para ele sofrer algumas
perseguições políticas, como vou referir.
Em 1846, estava o
país em grande agitação, pois, como é sabido, muitos povos se haviam
manifestado contra o procedimento do Ministério, então presidido por
António Bernardo da Costa Cabral. Luís dos Santos Ragala não era tímido,
mas tinha génio pacífico e só procurava o bem-estar da sua família e a
aquisição dos meios para a sustentar. Com os amigos, porém, era
expansivo, alegre e amante da boa palestra; e, dentro dos limites das
suas circunstâncias, era obsequiador e franco. Seu irmão era mais
arrojado e, inimigo declarado dos cabralistas, não receava sair, ora a
pé ora a cavalo, para exercer os seus trabalhos, como facultativo ou sob
esse pretexto.
Numa dessas ocasiões,
quando voltava das imediações de Ílhavo, foi atrozmente espancado e
seria vítima, se o cavalo, em que montava, não fosse tão ligeiro e ele
não fosse tão dextro em guiar o animal. Luís dos Santos Regala, que até
aí havia censurado os abusos, que estavam cometendo os partidários do
Governo e destes havia recebido demonstrações de desagrado,
manifestou-se então abertamente pelo partido popular e, junto à ponte da
Praça, foi muito maltratado por alguns caceteiros, que o deixaram em
perigo de vida.
Novamente
pacificado o país, continuou Luís dos Santos Ragala os seus trabalhos
de advocacia e pouco tratou de figurar na política. Em 1850 e a pedido
de seu / pág. 352 /
sogro, foi estabelecer definitivamente, com sua
família, a residência em Ílhavo. Continuou aí iguais trabalhos e
tratava da administração dos haveres do sogro, que eram importantes, por
cujo motivo fora para ali chamado. Em Ílhavo, exerceu algumas vezes o
cargo de administrador do Concelho e o de presidente da Câmara.
Desenganado da
política e tratando de esquecer antigos desgostos, que por ela sofrera,
só tratava do bem-estar da sua família e recebia em sua casa numerosos
amigos, sem recordar agravos.
Foi sempre muito
religioso e muito sincero. Gostava que fosse festejada com todo o
esplendor Nossa Senhora do Pranto, cuja capela não fica longe da casa,
que habitava em Ílhavo.
Para a festa (15 de
Agosto) convidava alguns dos seus numerosos amigos de Aveiro,
brindando-os com abundante jantar, que era sempre tão apreciado, como a
palestra que ele promovia entre os convivas.
Em 7 de Agosto de
1886, rodeado de sua numerosa e estimável família, faleceu Luís dos
Santos Ragala. Não deixou inimigos, mas deixou muitas saudades a todas
as pessoas, que com ele tratavam. Não deixou a seus filhos grandes
riquezas, mas deixou-lhes a memória de um nome honrado, pois sempre
soube limitar-se às suas circunstâncias, sem jamais prejudicar ninguém
nem abusar dos cargos que tinha servido. |