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José Luciano de Castro Pereira Corte
Real nasceu em Oliveirinha, concelho de Aveiro, a 14 de Dezembro de 1834. Era filho segundo génito do último morgado da Casa de solar da
Oliveirinha, Francisco Joaquim de Castro Pereira Corte Real e de D.
Maria Augusta de Meneses Silva e Castro. Descende assim de uma família
nobre que, por linha materna, se vai cruzar com a do Marquês de Pombal.
Em 1865 casou com D. Maria Emília Seabra, tendo-se então radicado em
Anadia, onde virá a falecer a 9 de Março de 1914.
Licenciado em Direito pela Universidade
de Coimbra, consagrou-se como importante jurisconsulto, mas também como
jornalista e excelente orador, tendo sido sobretudo um afamado chefe
político e ilustre homem público.
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Ainda quando estudante em Coimbra,
interessou-se pelo jornalismo, tendo colaborado em "O Observador", que
mais tarde adoptaria o nome de “O Conimbricense". A sua paixão pelo
jornalismo bem como o seu talento não lhe permitiram ficar por aí e a
sua naturalidade aveirense levou-o a interessar-se também pelo
jornalismo local, tendo sido uma das figuras mais representativas que
inspiraram, orientaram ou dirigiram os órgãos de opinião da cidade de
Aveiro.
"O Campeão do Vouga", primeiro jornal
aveirense fundado por Manuel Firmino de Almeida Maia em 1852, tem desde
início como colaborador José Luciano de Castro. Além de colaborador, o
seu papel predominante neste jornal foi o de inspirador e guia e, mais
tarde, o de patrono. Desde início se dispôs a cooperar neste arrojado
empreendimento do seu conterrâneo, tendo sido graças à sua intervenção
que se resolveu um dos mais graves problemas por este enfrentado: a
falta da soma estritamente indispensável para o seu lançamento. A mãe de
José Luciano de Castro terá emprestado um cordão de ouro, que ficou como
penhor das quinze moedas com que o jornal se fundou.
Desde a fundação que aí escreve artigos,
mas despede-se do jornal passados dois meses. No jornal "O Observador", revelaria os motivos que o levaram a dar um passo tão inesperado: a
censura dos seus artigos por pessoas que estavam bem
longe de o poder fazer"; diz ainda, "se alguma vez
a minha consciência oprimida soltava um brado enérgico, esse brado era
logo abafado. "
Esta atitude reflecte o seu desagrado e
desilusão face a uma situação que considera degradante para a sua
actividade como jornalista, mas não se desliga dela. José Luciano de
Castro e José Eduardo de Almeida Vilhena fundam o segundo jornal aveirense, "Aurora" , cuja
existência efémera decorreu entre 1 de Março e 1 de
Setembro de 1855.
José Luciano de Castro dedicou-se
durante cerca de 50 anos ao jornalismo, onde teve como tribuna
parlamentar uma posição de relevo, que acompanhou todas as fases da sua
carreira de ininterrupta ascensão. Como colaborador efectivo, foi
redactor de vários jornais: "Comércio do Porto”, "Progresso", "Nacional"
e "Jornal do Porto", em cuja redacção emparceirou com Ramalho Ortigão.
Foi responsável ainda pela fundação de uma importante revista de
jurisprudência, "o Direito". Publicou importantes e interessantes
trabalhos, como: "A Questão das Subsistências" (1856); "Legislação sobre
a Liberdade de Imprensa" (1859); "Discursos" (1863, 1872,1877); mas
muitos outros se poderiam citar.
Citando as palavras de Anselmo de
Andrade quando se refere a José Luciano de Castro, "O notável estadista
ocupou na revolução de Setembro um posto igual aos que ali tinham Lopes
de Mendonça e Latino Coelho, esses dois inolvidáveis mestres da palavra
escrita com os quais competia por vezes em primores de estilo, mas a
quem excedia quase sempre no vigor da paixão, que são as duas musas mais
inspiradoras do jornalismo político."
Importante jornalista, José Luciano de
Castro é antes de tudo um político e um homem de acção, desde cedo
atraído para a carreira política, para onde o chamavam os seus poderosos
recursos de orador e publicista. Estadista notável, chefe do Partido
Progressista, foi um dos seus fundadores em 1876, sendo o seu presidente
quando a república se implantou, cargo que ocupava desde 1885, tendo
nessa altura sucedido a Anselmo José Braamcamp.
Quando chefe do partido Progressista,
alternou com o chefe do partido Regenerador no desempenho do cargo de
Presidente do Conselho de Ministros durante o período do Rotativismo.
Parlamentar distinto, muitas vezes ministro e chefe do governo,
encontrava-se na Presidência do Conselho quando se deu. o Ultimato de
1890 e enfrentou a crise financeira que levou os alemães e ingleses a
disputarem as colónias portuguesas em África. Muito se lhe deve na
obtenção do tratado de reforço da aliança com a Inglaterra, para defesa
do império colonial cobiçado pela Alemanha, de que resultou a assinatura
do tratado de 1891.
Deputado da Nação, Conselheiro de
Estado, Vogal efectivo aposentado do Supremo Tribunal Administrativo e
governador da Companhia Geral do Crédito Predial Português foram também
cargos que desempenhou.
No desempenho de todos estes elevados
cargos, sempre de forma notável, teve constantes e enérgicas
intervenções políticas dignas de um verdadeiro e distinto estadista,
considerado como um dos mais ilustres da monarquia liberal.
Acerca de José Luciano de Castro diz
David Ferreira: "...dominado por intensa paixão política, a sua ambição
pelo poder conduziu-o constantemente a atitudes contraditórias, que
desmentiam, no governo, os compromissos assumidos na oposição."
Exaltado e elogiado por uns, atacado por outros, o certo é que, citando
ainda o mesmo historiador, "quer no governo, quer fora dele, foi o homem
que mais permanentemente dominou a política portuguesa nos últimos 30
anos da monarquia.”
O conselheiro José Luciano de Castro,
nas cartas dirigidas a D. Manuel II, mostra que "tinha duas chapas, com
as quais ia mantendo a sua supremacia e destruía tudo o que lhe não
agradava: - se o ministério era da sua feição, dizia ao rei que tudo ia
bem, caso contrário, dizia ao rei que a República avançava a passos
rápidos e assim manteve desde o regicídio a sua influência no Paço e a
autoridade de um sincero conselheiro." (citei João Jardim de Vilhena).
É vastíssima a bibliografia acerca desta
ilustre figura, ao mesmo tempo notável e discutida da política
portuguesa, na qual foi militante activo durante cinquenta anos. Quer se
fale de José Luciano de Castro como jornalista, jurisconsulto, orador ou
político, até porque estas actividades se desenvolvem em paralelo
durante toda a sua vida, ele surge como "um dos homens que concorreram
para que Portugal fosse sempre grande."
Ouçamos o que sobre ele diz Júlio de
Vilhena:
"O Conselheiro José Luciano de Castro
pode ser considerado como estadista, como orador parlamentar e como
jurisconsulto. Ninguém expunha com mais lucidez uma questão jurídica,
ninguém relatava com mais precisão um processo complicado."
António Cândido, considerava-o como o
mais perfeito conhecedor de homens que em Portugal em tempo algum
floresceu: " muitas vezes o ouvi predizer com segurança a revolução
social"
O Conselheiro Adriano Antero, sábio
jurisconsulto e historiador, define-o da seguinte maneira: " Foi um
santo na sua vida particular, um génio e uma verdadeira glória da Pátria
na sua vida pública... De uma vastidão de conhecimentos enorme, de uma
memória verdadeiramente assombrosa, de uma táctica parlamentar especial
e finíssima... de uma energia moral severa, mas inquebrantável no meio
das maiores dificuldades e de uma aptidão de trabalho inexcedível para
todos os ramos, José Luciano de Castro foi certamente o modelo brilhante
de um estadista completo."
Maria Benilde Cancela Giestas
Professora de História,
Secundária Dr. Jaime de Magalhães Lima,
Aveiro
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BIBLIOGRAFIA
Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. VIII,
1942, pp. 59-65; vol. X, 1944, pp. 243-259.
Aveiro e o seu Distrito, n.° 5, 1968,
pp. 61-72, n.° 21, 1976, pp. 25-26.
Dicionário Enciclopédico Koogan,
Larousse, Selecções do Reader's Digest, vol. II, Lisboa, pág. 1101.
Dicionário de História de Portugal, Dir.
Joel Serrão, vol. II, Livraria Figueirinhas, Porto, p. 17.
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura,
vol. IV, pág. 1455, Editorial Verbo, Lisboa.
Enciclopédia Portuguesa Ilustrada, dir.
Maximiano Lemos, voI. II, pp. 651-652, Porto.
Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, Vol. VI, pág. 249.
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