Em Santo Amaro
realizam-se duas feiras em cada mês (a 15 e a 30). Constituem na Beira
Litoral as mais importantes, se não as principais feiras de gado bovino
– bois e vacas de trabalho, turinas e vitelos. Também são fartas em
roupas, calçado, plantas, alfaias agrícolas e domésticas.
O gado
distribui-se por três recintos: dois junto da estrada que segue para
Oliveira de Azeméis e o terceiro do lado norte da capela de Santo Amaro.
Este último está reservado a vacas turinas gordas, para abate, e vitelas
turinas, desmamadas, para a recria. Num dos recintos junto da estrada
arrumam-se os bois e vacas de trabalho; no outro ficam as turinas de
leite e os vitelos ainda não desmamados. Em 15 de Fevereiro de 1965
estavam, aproximadamente: 300 vacas gordas e vitelas desmamadas, 120
juntas de bois e 30 de vacas de trabalho (algumas acompanhadas das
crias) e 120 turinas e vitelas não desmamadas, ou seja, um total de mais
de 720 cabeças.
Costumam ocorrer comerciantes de gado das terras a norte do Mondego até
ao Porto, predominando os que vivem a norte da Bairrada; mas, em certas
feiras, também aparecem marchantes da Estremadura e do Ribatejo, tanto
na procura de gado para matar como para leite. Como em Ovar, a maior
parte do gado é trazido por lavradores e comerciantes dos concelhos
próximos – Estarreja, Ovar, Aveiro, Albergaria e Oliveira de Azeméis,
embora também venha uma quantidade apreciável da Bairrada, da Beira Alta
ou mesmo da região do Baixo Douro. Uma grande parte do gado para matar,
que é vendido, segue para o Grémio das Carnes do Porto. Costuma estar na
feira um camionista de Estarreja que toma nota dos lavradores que
desejam vender para lá as reses, a peso, e que as transporta depois.
A
oeste (defronte da fachada), sul e nascente da capela faz-se a venda de
plantas, latoarias, louças, diversos utensílios rurais, roupas, panos,
ourivesaria, a que se dedica uma centena e meia de vendedores, dos quais
cerca de um terço comercia em roupas e calçado.
As
plantas vêm das proximidades, geralmente das terras da Ria. Os
comerciantes de roupa e calçado são principalmente dos concelhos de
Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Feira, Estarreja, Ovar,
Albergaria-a-Velha, Aveiro, Gaia e Porto.
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Não
existem tendas de comes e bebes: este comércio é feito pelos
estabelecimentos locais.
A
feira principia de manhã cedo e, no que respeita ao gado, começa a
esmorecer pelo meio dia, até às 14, hora a partir da qual poucos
animais restam na feira. As outras mercadorias mantêm-se um pouco mais,
mas nunca até muito tarde. No Verão, como as fainas agrícolas são mais
intensas, as feiras são muito rápidas, reduzindo-se à parte da manhã.
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Ainda
no que respeita a bovinos de trabalho as feiras de Santo Amaro
apresentam uma variação idêntica à das de avaro A principal feira é a de
ano, a 15 de Janeiro; a ela afluem lavradores e comerciantes de uma área
muito vasta, pois a feira tem tradição.
A
segunda-feira, em importância, costuma ser a de 15 de Fevereiro,
prolongando-se até 30 de Março o período das feiras muito concorridas.
Embora mais fracas, em Abril e Maio ainda registam um movimento
razoável. No Verão realizam-se as feiras mais pobres.
Só em
Setembro – Outubro volta a animação.
As
razões que apontámos para o ritmo das feiras de Ovar são as mesmas para
as de Santo Amaro. Este máximo de bovinos gordos em Janeiro, Fevereiro,
Março e Abril não é normal noutras regiões do país, e mesmo na Beira
Litoral. Daí o alto valor que representam estes animais no abastecimento
de carne ao país. Actualmente, a maior parte deste gado destina-se à
cidade do Porto; mas em certos anos – de menor importação de carne
estrangeira – é procurado pelos marchantes de Lisboa. Em 1946, o
panorama era idêntico: a partir de Novembro começava o abastecimento da
Beira Litoral à capital, o qual se mantinha até Abril. No princípio do
Verão, embora a Beira Litoral tenha muito gado para matar, encontra
dificuldades no mercado lisboeta, pois coincide com a grande afluência
de bovinos alentejanos.
A
Fontinha, em plena Ribeira, regista, para as vacas de trabalho, a mesma
pulsação de Ovar ou Santo Amaro: a maior parte dos lavradores mudam de
gado em Fevereiro e Março, fazendo as sementeiras do milho com os
animais que então compram.
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Professor Jorge Gaspar,
As Feiras de Gado da Beira Litoral, 1970
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