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Sérgio Paulo Silva, Memórias da Feira de St.º Amaro, 2ª ed., Estarreja, C. M. Estarreja, 2008, 84 págs.

Feiras de Gado da Beira Litoral

Em Santo Amaro realizam-se duas feiras em cada mês (a 15 e a 30). Constituem na Beira Litoral as mais importantes, se não as principais feiras de gado bovino – bois e vacas de trabalho, turinas e vitelos. Também são fartas em roupas, calçado, plantas, alfaias agrícolas e domésticas.

O gado distribui-se por três recintos: dois junto da estrada que segue para Oliveira de Azeméis e o terceiro do lado norte da capela de Santo Amaro. Este último está reservado a vacas turinas gordas, para abate, e vitelas turinas, desmamadas, para a recria. Num dos recintos junto da estrada arrumam-se os bois e vacas de trabalho; no outro ficam as turinas de leite e os vitelos ainda não desmamados. Em 15 de Fevereiro de 1965 estavam, aproximadamente: 300 vacas gordas e vitelas desmamadas, 120 juntas de bois e 30 de vacas de trabalho (algumas acompanhadas das crias) e 120 turinas e vitelas não desmamadas, ou seja, um total de mais de 720 cabeças.

Costumam ocorrer comerciantes de gado das terras a norte do Mondego até ao Porto, predominando os que vivem a norte da Bairrada; mas, em certas feiras, também aparecem marchantes da Estremadura e do Ribatejo, tanto na procura de gado para matar como para leite. Como em Ovar, a maior parte do gado é trazido por lavradores e comerciantes dos concelhos próximos – Estarreja, Ovar, Aveiro, Albergaria e Oliveira de Azeméis, embora também venha uma quantidade apreciável da Bairrada, da Beira Alta ou mesmo da região do Baixo Douro. Uma grande parte do gado para matar, que é vendido, segue para o Grémio das Carnes do Porto. Costuma estar na feira um camionista de Estarreja que toma nota dos lavradores que desejam vender para lá as reses, a peso, e que as transporta depois.

A oeste (defronte da fachada), sul e nascente da capela faz-se a venda de plantas, latoarias, louças, diversos utensílios rurais, roupas, panos, ourivesaria, a que se dedica uma centena e meia de vendedores, dos quais cerca de um terço comercia em roupas e calçado.

As plantas vêm das proximidades, geralmente das terras da Ria. Os comerciantes de roupa e calçado são principalmente dos concelhos de Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Feira, Estarreja, Ovar, Albergaria-a-Velha, Aveiro, Gaia e Porto. / 21 /

Não existem tendas de comes e bebes: este comércio é feito pelos estabelecimentos locais.

A feira principia de manhã cedo e, no que respeita ao gado, começa a esmorecer pelo meio­ dia, até às 14, hora a partir da qual poucos animais restam na feira. As outras mercadorias mantêm-se um pouco mais, mas nunca até muito tarde. No Verão, como as fainas agrícolas são mais intensas, as feiras são muito rápidas, reduzindo-se à parte da manhã.

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Ainda no que respeita a bovinos de trabalho as feiras de Santo Amaro apresentam uma variação idêntica à das de avaro A principal feira é a de ano, a 15 de Janeiro; a ela afluem lavradores e comerciantes de uma área muito vasta, pois a feira tem tradição.

A segunda-feira, em importância, costuma ser a de 15 de Fevereiro, prolongando-se até 30 de Março o período das feiras muito concorridas. Embora mais fracas, em Abril e Maio ainda registam um movimento razoável. No Verão realizam-se as feiras mais pobres.

Só em Setembro – Outubro volta a animação.

As razões que apontámos para o ritmo das feiras de Ovar são as mesmas para as de Santo Amaro. Este máximo de bovinos gordos em Janeiro, Fevereiro, Março e Abril não é normal noutras regiões do país, e mesmo na Beira Litoral. Daí o alto valor que representam estes animais no abastecimento de carne ao país. Actualmente, a maior parte deste gado destina-se à cidade do Porto; mas em certos anos – de menor importação de carne estrangeira – é procurado pelos marchantes de Lisboa. Em 1946, o panorama era idêntico: a partir de Novembro começava o abastecimento da Beira Litoral à capital, o qual se mantinha até Abril. No princípio do Verão, embora a Beira Litoral tenha muito gado para matar, encontra dificuldades no mercado lisboeta, pois coincide com a grande afluência de bovinos alentejanos.

A Fontinha, em plena Ribeira, regista, para as vacas de trabalho, a mesma pulsação de Ovar ou Santo Amaro: a maior parte dos lavradores mudam de gado em Fevereiro e Março, fazendo as sementeiras do milho com os animais que então compram.

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         Professor Jorge Gaspar,

         As Feiras de Gado da Beira Litoral, 1970
 

 
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