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Sérgio Paulo Silva, Palavras de trazer por casa, 1ª ed., Estarreja, 2007,146 págs.

Vladimiro Silva, meu querido irmão

Esta compilação de croniquetas pertence-te. Dedico-tas, apesar da sua pobreza e da sua fragilidade. Dedico-tas, porque foste o melhor de todos nós e o melhor da tua geração. No teu percurso político, algumas vezes me fizeste lembrar o velho Santiago de O Velho e o Mar (Hemingway) a lutar no precário barco contra os tubarões: um homem pode ser destruído mas não derrotado." E recordo um título que um jornalista anónimo escreveu n' “O Primeiro de Janeiro”, aquando do teu primeiro mandato: "Vladimiro Silva é um homem só". O triste por certo não tinha lido Vailland, porque, de contrário, saberia a diferença entre ser um homem só e ser um homem isolado. Mas o acaso continua a favorecer os tolos e os inocentes. Os tubarões comeram o grande peixe do velho Santiago, destruíram-no, é certo, mas não o derrotaram. E é assim que te vejo nesta terra que nos viu nascer, nesta terra que te pagou como costumam pagar a quem é grande, a quem tapa as vistas, a quem faz sombra. Mas vão passar os anos e o azeite cumprirá as suas antigas leis – saber-se-á então a real dimensão da tua obra, do teu empenho, do teu valor. Pela minha parte, há muito, desde a infância que o conheço, que o sei. Como é natural, fomos na vida fazendo percursos diferentes; e nem sempre estive de acordo contigo em ideias e em opções, mas orgulho-me muito de ti e com alegria te cedo o lugar de honra à mesa. Porque de direito teu é. Apesar de tanto mabeco e de tantos grifos, soubeste conquistá-lo.

Um grande abraço fraterno e grato do teu

Sérgio Paulo Silva

 

 
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