As barricas eram, já de si, uma delícia para os olhos. Então, os pipos
de vinho eram vulgares não só nas tabernas como em qualquer casa. Havia
tanoeiros, que aqui passavam às temporadas, creio que oriundos de
Cortegaça, e havia torneiros que faziam torneiras a primor. Fazê-los em
miniatura, decorando-os com motivos bem aveirenses
–
moliceiros, as salinas, o gigantesco farol...
–
foi uma maravilha do que hoje se rotula de design. Lá dentro, no
caroço de semelhante fruto, estava o doce requintado.
Mais acessível em preço e
talvez com mais requinte de paladar devido às hóstias crocantes que
selavam o doce, estavam os que se vendiam avulso ou em caixinhas. Mas,
também esses com um feliz design: um búzio, uma vieira, um
peixe... Que melhor anzol poderia ter inventado a cidade para prender
pelo beiço todos os lambareiros do mundo?
A RECEITA
500 grs. de açúcar / 30 gemas de ovos / 2,5 decilitros de água /
havendo quem se tente por habilidades e recorra a algumas claras e a um
pouco de farinha de arroz. Lá saberão.
Leva-se o açúcar ao lume com água e deixa-se ferver durante cerca de
quinze minutos, até atingir o ponto de fio fraco, que se vai controlando
com uma colher. Haverá que ter todo o cuidado para não deixar passar
nenhum bocado de claras junto com as gemas que se juntam ao açúcar em
ponto depois de rebentadas, levando a lume brando e mexendo sempre com
uma tolher de pau, até engrossar. Seguidamente arrefece-se a massa num
alguidar de barro vidrado e procede-se então ao enchimento das hóstias
que depois de fechadas com clara de ovo batida se recortam com uma
tesoura. Passam-se por uma calda de açúcar morna que as solidificará e
deixam-se secar bem. Nos pipos, já se sabe, depois de cheios só é
preciso pôr a tampa. E destapá-la... |