Já não se
ouvem as sonoras gargalhadas do pintor vagabundo, do homem despojado,
que trazia Mértola na pegada, no olhar, nos gestos, na alma livre.
Mário
Elias encarnou a essência do Alentejo: a secura da luz violenta, a
desmedida visão dos horizontes, a solidão, o silêncio, – a fragilidade
do ser humano perante uma natureza intensa!
Os versos
do poeta dramático, imbuídos de tonalidades vivas das suas telas,
ressoam na memória, em gritos de terra com voz de pássaro inquieto…
Vinho,
versos e pintura – assim se podia resumir a caminhada daquele para quem
qualquer recanto era bom para filosofar, desdenhar, poetar.
Já não
escutamos as palavras soltas do anarquista, que ainda se apaixonava, em
devaneios que inventava, contemplando do seu lugar enluarado uma
realidade que alimentava a alquimia dos sonhos.
Na pele
dos dias, transcendia a condição do Ser. E voava, com vocábulos, que na
sua voz eram rastos de cometas.
Já não
ficamos arrepiados com o sonoro sarcasmo do artista. Ele espera-nos,
noutro lugar…
Luís Filipe Maçarico, 30-1-2013 |