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Avifauna

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O CUCO

Carlos Ferraz da Conceição

 

Neste espaço do Almanaque dedicado à avifauna, falamos desta vez do cuco, ave singular muito comum em Portugal. Dentre as suas diferentes espécies, é o cuco-canoro (cuculus canorus) o objecto da nossa breve descrição.

Trata-se de uma ave com um comprimento médio um pouco acima dos 30 cm e uma envergadura entre 55 e 60 cm, pesando à volta de 100 gramas. A cauda é comprida, tal como as asas, que são estreitas e pontiagudas. De cabeça pequena e bico curvo, a sua plumagem é cor de cinza, mas a barriga é branca com estrias pretas ou castanhas. A cauda é mais escura, com a extremidade das penas em branco.

 

Macho e fêmea apresentam geralmente um padrão cromático semelhante, sendo que as fêmeas adultas exibem, por vezes, uma tonalidade arruivada na parte superior. Os juvenis são castanho-escuros com uma mancha branca na nuca.

Cuco pousado num ramo de árvore. Imagem obtida na enciclopédia «on-line» Wikipedia. Clicar para ampliar.

 

Os batimentos das asas são rápidos mas fracos, movendo-se as mesmas sem intervalos e abaixo da horizontal, com a cabeça apontando para cima.

 

O seu nome provém do canto do macho, composto por duas notas que soam como ‘cu-cu’ e que em Portugal, se pode ouvir sobretudo desde os fins do mês de Março até Julho. Isto por se tratar de uma ave migradora, que inverna em África. Durante a migração, mas também antes da partida e logo após a chegada, pode andar em pequenos bandos.

 

Distribui-se por toda a Europa, Ásia e Norte de África. No nosso País ocorre por todo o território, sendo mais abundante no interior norte e centro. No Alentejo podemos encontrá-lo com facilidade, por exemplo, nas zonas de Alpalhão, Arraiolos, ribeira do Divor, Barrancos.

 

É comum em todos os tipos de terrenos, preferindo sobretudo as zonas florestadas, imediações de pauis, montados, bosques, mas evitando as zonas de altitude e os matos densos. Por ser muito tímido, a sua presença é rara nas proximidades de áreas muito povoadas.

 

A sua alimentação é essencialmente constituída por insectos e larvas, em especial lagartas (e aqui dão um importante contributo no controlo de pragas). No entanto, podem ainda ingerir, por vezes, frutos e plantas, sementes, pequenos répteis e anfíbios.

 

Quanto à reprodução, é de notar que macho e fêmea acasalam com diferentes parceiros e que uma das características peculiares dos cucos é o facto de parasitarem outras aves, que lhes incubam os ovos e lhes alimentam as crias. Trata-se de um curioso processo, uma vez que parasitam um grande número de outras espécies, ainda que cada fêmea se especialize numa só espécie em particular. Começam por procurar activamente os ninhos para parasitar (vários) e, feita a selecção, aguardam a ausência dos seus ocupantes para neles depositarem os seus ovos, um em cada. Assim, espalhando-os por diversos ninhos, aumentarão as hipóteses de sucesso, pelo menos para alguns deles. Após a postura, retira um dos ovos que já se encontram em cada um dos ninhos e come-os. Um aspecto singular reside no facto de os ovos assim deixados tenderem a assemelhar-se aos dos hospedeiros.

 

A incubação dura cerca de 12 dias e, pouco tempo após o seu nascimento, os jovens cucos expulsam os verdadeiros filhos da ave que preparou o ninho, ou empurram os seus ovos para fora, caso estes não tenham ainda eclodido. Ficam assim os ‘pais adoptivos’ a tratar o cuco até este poder voar, o que, em regra, acontece 3 semanas depois.

 

Esta ave ocorre em elevado número, estimando-se que, só na Europa, os seus efectivos atinjam um milhão e meio de indivíduos. A sua continuidade não está, pois, em risco, considerando-se o seu estado de conservação como seguro. Tal não obsta a que se encontrem sujeitos a factores de ameaça, que se repercutem na mortalidade da espécie. Dentre eles, sobressai a perseguição humana (abate a tiro, pilhagem de ninhos, iscos envenenados), eventualmente potenciada por uma espécie de preconceito associado ao seu comportamento predatório.

 

Também a alteração dos seus habitats pela construção de infra-estruturas (barragens, estradas, parques eólicos), instalação de regadios, etc, bem como a perturbação das zonas de nidificação (actividades agrícolas, cinegéticas, turismo, por exemplo) levam a uma quebra na reprodução e mesmo ao seu afastamento dessas zonas.

Todavia, não se encontrando em causa a conservação da espécie, o peculiar canto do cuco continuará a fazer-se ouvir, sendo que a progressiva consciencialização das novas gerações para as questões da sustentabilidade e equilíbrio ambientais serão o seu melhor garante.
 

Cuco em pleno voo. Imagem obtida na enciclopédia «on-line» Wikipedia. Clicar para ampliar.

 

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