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Em 1917 o edifício do
Convento do Carmo, em Lisboa, acolheu a primeira exposição de Tapetes de
Arraiolos, que pretendia dar a conhecer à população portuguesa uma arte
que estava, pouco a pouco, a reerguer-se, após, no século XIX, ter sido
votada ao esquecimento.
Após um período de renascimento iniciado pelo crítico de arte José
Queirós em 1898, os tapetes de Arraiolos estavam a conhecer uma nova
fase, um pouco à semelhança do que acontecia por todo o país com o
artesanato, imbuído pelo espírito nacionalista que Portugal conhecia nos
inícios do século XX. |
Foi pelas mãos de Sebastião Pessanha que em 1916 foi apresentada na
Associação dos Arqueólogos Portugueses a proposta de se realizar a
referida exposição. A ideia foi aceite e a exposição abriu portas a 8 de
Março de 1917.
Estavam expostos 77 exemplares de tapetes, assim como os materiais
necessários à sua confecção.
Coelho de Carvalho noticia a abertura da exposição, no jornal local "O
Povo de Arraiolos", em número especial dedicado aos tapetes, de 8 de
Abril de 1917, da seguinte forma: «abriu a exposição de tapetes de
Arraiolos nas velhas salas do Museu do Carmo – quási uma centena de
exemplares. Entre as tapeçarias expostas, figuram magníficos tapetes
antigos; e, alguns d’essa industria modernamente renascida em Arraiolos
e Évora».
O visitante que se dirigisse ao Convento do Carmo poderia encontrar,
expostos e para venda, para além dos tapetes, os materiais necessários à
sua produção, nomeadamente as lãs e as telas. Sobre a venda de produtos
era cobrada uma taxa de 10% a favor da Associação dos Arqueólogos
Portugueses.
O bilhete para visitar a exposição custava $10 e às quintas-feiras $20,
por ser o dia em que as tapeteiras bordavam tapetes ao vivo no recinto
da exposição. Era também neste dia em que se realizavam conferências
sobre o Tapete de Arraiolos, debatendo-se a história, a técnica e o seu
ressurgimento.
Esta exposição alcançou os objectivos iniciais de fazer renascer na
sociedade portuguesa o desejo de possuir tapetes de Arraiolos e de
alertar as entidades estatais para a necessidade de criação de uma
escola técnica de tapeçaria, para que o tapete de Arraiolos não voltasse
a cair no esquecimento.
Actualmente, os tapetes de Arraiolos atravessam uma fase complicada,
pois urge a criação de uma zona de origem demarcada, de modo a poder-se
fazer face às imitações que proliferam nos mercados nacional e
internacional. É certo que os contornos desta fase difícil são
diferentes dos encontrados por José Queirós em 1898; porém, os tapetes
correm risco de desaparecer se algo não for feito.
A realidade que os arraiolenses bem conhecem é que as casas que
comercializam os tapetes são cada vez menos, e cada vez menos são também
as mulheres que dominam as técnicas de fazer um tapete de Arraiolos. São
necessárias medidas concretas para que os tapetes de Arraiolos não se
transformem em resquícios do passado, e que, como em 1917, haja vontade
de intervir, de preservar e salvaguardar o nosso património, que é
expressão de Arraiolos, do Alentejo, e de Portugal.
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* O autor é investigador em
História do Património e publicou, no ano de 2009, a obra Contributos
para a História dos Tapetes de Arraiolos.
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