Pintura de Tiago Cutileiro. |
Seguindo os passos já cansados,
encontro os trilhos dos meus...
Oiço no vento das melodias que cantavas!.. Rosa branca tu não vais ao
meu jardim sem eu ir, teu coração não é capaz, de fazer o que o meu faz.
Levo as noites sem dormir...
Canta-se à mulher.
Se o cancioneiro alentejano fosse de pedra, as vozes dos cantadores,
seriam afloramentos de xisto à superfície, sons saídos da memória,
tornada tradição pelo acto de cantar e trabalhar cantando,
complementando-se.
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As cantigas continuam imutáveis como as pedras, recorrendo a simbologias
que se cruzam entre si. O pensamento voa mais alto, os bois puxando o
arado, o camponês canta na voz da sua amada:
Tu é que és o meu rapaz... quando é que lá vais... vai ao jardim das
flores, se lá fores... e não me encontrares, torna a voltar... torna a
voltar... Pergunta a quem tenha amores e... a quem saiba amar!...
À mãe!!
Ó águia que vais tão alta, voando de pólo em pólo, leva-me ao céu onde
eu tenho, a mãe que me trouxe ao colo... ficou-me fazendo falta...
voando de pólo em pólo, ó águia que vais tão alta...
À filha.
O alentejano, moldado pela planície, interiorizou as diferentes culturas
dos vários povos que por ali se cruzaram, sobretudo o árabe:
O galo quando canta é dia...é dia... Maria é dia...quando canta fora da
hora... é moça roubada, que se vai embora...tem cuidado com a
Gabriela...que está à janela,
Se eu tivesse asas voava! onde pensas
tu que eu ia? visitava-te meu amor... a toda a hora do dia.
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