Em
1963, já lá vão cinquenta anos, fui convidado para ir trabalhar na EPA.
Estava então colocado no Francisco dos Santos Piçarra, na reparação e
fabrico de máquinas para navios. Curiosamente, a sirene que ainda hoje
se encontra no mastro do Santo André foi lá construída. Era uma fábrica
de componentes eléctricos, que produziu diferente material para a Guerra
de África, começada em 1961, entre os quais os geradores que iluminavam
os aquartelamentos espalhados nos diferentes territórios ultramarinos.
Decidi ir trabalhar para a Gafanha. A minha Empresa tinha sido
reconvertida na Frapil e eu sentia que aí pouco ou nada podia aprender.
A EPA deixava-me sair às 17 horas, para poder continuar a minha formação
como trabalhador-estudante na EICA (Escola Industrial e Comercial de
Aveiro), onde em 1966 terminei o meu curso.
Na EPA, trabalhavam três ou quatro pessoas na área da Eletricidade. Não
havia Oficina. Ou por outra, havia, mas com o reduzido espaço de 18 m2!
Era a ante-câmara de uma câmara frigorífica desactivada. O meu chefe, o
Sr. Francisco Matos, tinha-me garantido o apoio do Sr. Egas, para ocupar
a câmara frigorífica. As Oficinas Metalúrgicas, que se encontravam a
Sul, frente ao cais n.º 1, tinham todas as áreas (inclusive Electrónica)
menos Electricidade.
Aos poucos, enquanto os navios saíam para a pesca, aproveitavam-se os
tempos livres para se fazer uma Oficina com o que de melhor havia no
País, tendo a vantagem de ficar a Norte, frente ao novo cais n.º 3 e
perto do PT (Posto Transformador) da Central Frigorífica, do Quadro
Geral e junto à Fábrica de Conservas e Secadores Artificiais.
Dotámos a Oficina com uma sala de laboratórios, com uma banca para teste
de máquinas, equipamento de medida e teste, geradores eléctricos e o QG
(Quadro Geral) dos três cais. Não faltava um grande quadro em ardósia,
para se dar Formação. Foi ainda equipada com uma secção de Pintura à
pistola, uma secção de carga de baterias e sistema de galvanoplastia,
gabinetes técnicos, sala de desenho com os respectivos arquivos para
desenhos e esquemas de navios, sempre necessários nas reparações,
estufas enormes para envernizar geradores e induzidos, uma Secção de
Bobinagem, uma Ferramentaria, um armazém de materiais mais específicos,
uma serralharia para a construção de quadros e uma ampla área com
bancadas forradas a zinco e tela de borracha, onde não faltavam os
bancos rotativos individuais.
Conheci em Portugal oficinas nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo,
nos Estaleiros de S. Jacinto, na Lisnave, na GE (General Electric), na
EFACEC, na Asea, etc., e nunca encontrei melhor.
Quando
deixei a EPA, ficaram lá 600 m2 de Oficinas, as Oficinas
Metalúrgicas tinham aquecimento a vapor para os operários. Bem sei que
ficavam nas costas da central de vapor da Fábrica de Conservas, que
cozia o atum e a sardinha. Mas quem à época, e até hoje, se preocupava
com os seus operários, naquele espaço mesmo ali à boca da barra? Egas
Salgueiro, meus amigos!
O meu chefe, Francisco Matos, foi o mentor de tudo isto. Nós apenas
demos continuidade quando ele foi para o Canadá. Razão tem o Sr. Capitão
Valdemar Aveiro, no seu livro “Murmúrios do Vento”, quando diz
que as Oficinas do Egas eram uma Universidade. A Empresa, com a dinâmica
que tinha pelo dinamismo do Sr. Egas, e estas Oficinas deram-me
condições únicas para me formar. Os próprios Electricistas que
embarcavam não iam para bordo sem fazer um estágio na Oficina Eléctrica
e aprender a Bobinar. Claro que tínhamos as Oficinas Metalúrgicas para
nos construir os equipamentos e a Carpintaria para nos dar uma preciosa
ajuda.
No fim de contas, dada a ampliação da Empresa, estávamos no centro
nevrálgico e tínhamos sempre à mão o PT e o grupo de Emergência, que.
quando faltava a energia, sempre dava para manter a Fábrica de Conservas
em laboração. Não fora estas condições e eu nunca teria aparecido na
Formação Profissional, onde estive 21 anos, primeiro no Forpescas (hoje
Formar) pela mão do Eng.º Francisco Cravo, nosso chefe das Oficinas
Metalúrgicas; depois pelo meu próprio pé, no Centro de Formação
Profissional de Aveiro, a 12 de Janeiro de 2003, tendo pelo meio
trabalhado no Colégio de Calvão e em várias empresas a nível particular. |