Habituei-me desde a nascença, a ver os barcos à querena, a estopa
de linho a entrar nas fendas, a breiar as proas e meter serrim de
madeira por cima.
Já na EPA, ainda havia Calafates e os Estaleiros Bolais Mónica,
ainda funcionavam e construíam elegantes barcos à força e jeito do
machado e da enxó, mesmo encostadinho ao canal de Ílhavo, já na Gafanha.
Alguém lhe chamou a Universidade do Mar. A EPA fez, pelo menos, o lugre
Santa Isabel e Santa Mafalda, nos E.B.M. É impossível, em tão diminuto
espaço, falar deste assunto, mas vou enunciar alguns nomes para motivar
os leitores.
A madeira, constituída por carbono, oxigénio, hidrogénio e azoto,
tem duas partes bem distintas: o córtex e o lenho. O carpinteiro deve
escolher a madeira apropriada, pois ela pode ter doenças e defeitos: a
cárie, a fermentação da seiva, o pé-de-galinha, os nós, o caruncho, a
térmite e o taredo. A madeira deve ser conservada logo que a árvore é
abatida. As madeiras mais usadas são o carvalho, a teca, o olmo, o
freixo, o azinho, a faia, o eucalipto, o guaico, o mogno e o pinho. O
carvalho, uma das mais usadas, é duro, resistente, e emprega-se nas
partes vitais, mas contém muita quantidade de tanino, pelo que não pode
estar encostada ao ferro. Por isso, a madeira de eleição é a teca,
originária da Ásia.
Eu, que trabalhei tantos anos nos navios de aço com a Seguradoras
Lloyd’s e Veritas, venho agora a verificar que até nos navios de madeira
elas tinham regras e normas. Mas há na construção naval em madeira
alguns termos técnicos, a saber: quilha, contraquilha, sobressano, tábua
de hastilhas, alefriz, sobrequilha, roda de proa, coral, pés-de-carneiro,
cadaste, baliza, popa e beque. Alguns destes termos também se usam na
construção em aço. A quilha é, por assim dizer, a coluna dorsal do
navio, construída em pinho bravo, carvalho ou ulmo. |
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Construção naval
em madeira. Imagem obtida na Internet.
Temos também os processos de ligação da madeira. Além de ferraduras
de apoio, temos na ligação da madeira esforços vários. Ao conjunto
de entalhes que constituem uma tal ligação dá-se o nome de samblagem
ou sambladura. A sambladura de emprego corrente é chamada de respiga
e mecha. Mecha é a cavidade aberta na madeira; e respiga é a parte
mais saliente que entra nessa cavidade. A largura da respiga deve
ser igual a um terço da espessura da madeira e a profundidade da
mecha igual a dois terços da altura da mesma. A este conjunto
chama-se usualmente “cauda de minhoto”. Isto diz-nos dos pormenores
da construção de um navio de madeira.
Temos ainda a mastreação, o pau da bujarrona, o leme e alguns
aparelhos para ajudar à manobra, como sejam, as talhas, os
cadernais, os paus de carga, o molinete e o cabrestante.
Na parte que diz respeito à calafetagem e conservação de um navio de
madeira, usava-se a estopa de linho e uma mistura de breu, óleo de
peixe e coaltar, para impregnar a madeira, pois o fundo adquiria
limos, algas e outras incrustações.
Então, nas obras vivas, começou-se a usar a cobertura em cobre, para
eliminar estes problemas, que impediam também a boa navegabilidade
do navio. Um navio com incrustações no casco não atingia a mesma
velocidade.
Há ainda, vários tipos de âncoras em ferro, de correntes, que estão
devidamente normalizadas. Temos ainda o “pano”, que normalmente eram
as velas latinas de pano, as extênsulas e as velas da proa: estai,
giba e polaca. |
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