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Egas Salgueiro e a Empresa de Pesca de Aveiro – As minhas memórias

História da E.P.A. – o Fundador

Clicar para ampliar.Com 14 anos, Egas Salgueiro deixou o Liceu de Aveiro e emigrou para o Brasil, onde esteve 3 anos. Em 1913 regressa a Aveiro. Em 1915, fixa-se em Angola (Benguela), onde permanece 2 anos. Em 1918, compra o primeiro barco, o lugre “Ernâni”, para a firma Salgueiro & Filhos, em sociedade com seu Pai e Irmão. Em 1919, adquire o “Silvina” e, em 1921, o “Laura”.

Em 1922, funda a Empresa de Navegação e Exploração de Pesca e adquire 3 lugres.

Só em 1928 funda a Empresa de Pesca de Aveiro, com o Santa Joana, antigo D. Fernando, o Santa Mafalda e o Santa Isabel. Fala-se ainda no São Jacinto, antigo Encarnação, mas não confirmo.

Em 1930, Egas Salgueiro envia o primeiro Lugre, o Santa Mafalda, para a pesca na Groenlândia.

O lugre Santa Joana, em 1935, naufraga na Groenlândia, abalroado pela motora de pesca Faroé.

A E.P.A. foi a primeira empresa a dotar os seus navios com motores de propulsão auxiliar de 176 HP, fruto de uma influência do Sr. Carlos Roeder, representante em Portugal dos motores “Guldner”.

Julgo que todos estes lugres foram construídos nos Estaleiros Bolais Mónica, na Gafanha. Tinham velas latinas, 3 mastros, com cerca de 40 metros, e capacidade para 6500 quintais de bacalhau.

O Sr. Egas ia muitas vezes à Barra, de bicicleta, ver os navios a entrar. E à Gafanha também.

Apesar de ser uma pessoa austera, de poucas falas, era reconhecido para quem trabalhava com ele. Com facilidade ajudava os empregados. Na qualidade de Provedor no Hospital, pedia quando tinha empregados doentes. Emprestava a quem precisava dinheiro sem juros, mas era implacável, quando o enganavam. Vou a este propósito evocar um caso, que ilustra bem o seu temperamento.

Um empregado da Seca disse ao Manelzito, que era o Encarregado, que precisava de falar com o Sr. Egas, pois precisava de um empréstimo, na medida em que tinha um filho muito doente.

O Sr. Egas mandou-o chamar a Aveiro. Depois de lhe ouvir as necessidades, o Sr. Egas deu ordens ao Sr. Félix, que era o Caixa, para lhe entregar o dinheiro.

Ao final da tarde, já a caminho de casa, o Sr. Félix passa nos Arcos e no Duarte dos Jornais, como era seu hábito. Na montra da casa dos jornais estava a lista dos excursionistas que iam a Vila do Conde acompanhar o Beira-Mar. Quem era o primeiro da lista? Exactamente o nosso homem, que pedira o dinheiro emprestado. Isto escandalizou de tal forma o Sr. Félix, que, na segunda-feira, logo pela manhã, foi dizer ao Sr. Egas.

– Manda-o vir cá baixo falar comigo. – respondeu-lhe o Sr. Egas.

Quando o empregado da seca chegou, o Sr. Egas disse-lhe:

– Andas-me a enganar. Estás despedido!

Na época ainda não havia processos disciplinares.

– Ó Sr. Egas, está-me a despedir, quando eu na Seca roubo para o senhor trocando bacalhau graúdo por miúdo?

Responde-lhe o Sr. Egas:

– É por isso mesmo. Não quero cá ladrões!

Além de um sentido de justiça, era também generoso para os seus empregados. Lembro-me que, no Natal de 1970, se a memória não me atraiçoa na data, distribuiu dinheiro pelo Escritório e pelas Chefias das Oficinas. E não era tão pouco como isso. Por exemplo, ao meu chefe, que ia todos os dias para a Gafanha de motorizada, para que não se molhasse, pagou-lhe a carta de condução, comprou-lhe um automóvel e emprestou-lhe dinheiro para comprar um terreno.

 

 

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04-05-2018