A Câmara Municipal de
Aveiro entendeu dever resgatar do tempo a parte mais significativa duma
obra editada pelo Instituto para a Alta Cultura, em 1943, de autoria do
etnógrafo Domingos José de Castro, sobre os Moliceiros da Ria de Aveiro.
É o resultado dum
profundo trabalho de pesquisa levado a cabo ao longo de 3 anos, de 1940
a 1943, e que reflecte, em larga medida, a realidade da vida económica
da Ria de Aveiro, numa época em que o Barco Moliceiro ainda desempenhava
papel importantíssimo.
Com efeito, do Mapa
Estatístico da Existência de Barcos Moliceiros, contido na obra
"Moliceiros", editada pela Câmara Municipal de Aveiro em 1971, de
autoria de Diamantino Dias, pode aquilatar-se o seguinte:
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Anos |
|
Barcos existentes |
|
|
1935
1949
1959
1969 |
..................
..................
..................
.................. |
1008
794
542
164 |
|
Este regredir da
frota de Barcos Moliceiros é um verdadeiro espelho das mutações
económicas sofridas na Ria de Aveiro, acompanhando essa redução, e / p.
6 / quase que em paralelo, o declínio da indústria do sal e tendo como
contraponto a crescente importância do Porto Atlântico de Aveiro.
Hoje, 1997, a
Capitania do Porto de Aveiro tem somente registados 22 Barcos
Moliceiros, dos quais só cerca de 5 continuam a fainar na apanha do
moliço, mercê de subsídios pagos pelo município da Murtosa e pela
autoridade portuária com jurisdição na Ria de Aveiro: a Junta Autónoma
do Porto de Aveiro.
O suporte económico
que justificou, durante séculos, a vida dos Barcos Moliceiros — a apanha
do moliço — deixou de existir.
Com efeito, o moliço,
como fertilizante natural das areias lagunares quase que deixou de ter
serventia.
E com isto se perdeu
muita da alegria que centenas de barcos moliceiros emprestavam à Ria de
Aveiro.
As embarcações que
restam são olhadas mais como peça de museu, ficando-lhes reservadas
tarefas ao serviço do Turismo, tarefas essas que nada têm a ver com a
sua função original.
A Câmara Municipal de
Aveiro, consciente do valor etnográfico que o Barco Moliceiro encerra,
tem vindo a adquirir alguns exemplares que, permanentemente, enriquecem,
com as suas formas elegantes e com o seu encantador colorido, as margens
do canal central da Ria de Aveiro.
Por outro lado, e
para que, por todos os meios, se favoreça, por parte da iniciativa
privada, a manutenção do maior número possível de Barcos Moliceiros, /
p. 7 / a edilidade, em colaboração com a Região de Turismo da Rota da
Luz, com sede na capital do Distrito de Aveiro, tem promovido a Festa da
Ria, na qual se insere uma regata anual de todos os moliceiros ainda a
navegar, bem como um concurso de painéis decorativos destas embarcações.
Esta regata concita o
interesse de milhares de turistas que, pelo seu colorido de
extraordinária beleza, todos os anos a acompanham por terra e pelas
cales e canais da Ria de Aveiro.
Daí que, na parte
final desta pequena obra, se mostrem fotografias da Festa da Ria, onde o
Barco Moliceiro desempenha o papel central, mantendo-se como verdadeiro
"ex-libris" da nossa cidade de Aveiro, Capital da Ria.
Como meio auxiliar,
imprescindível para um mais perfeito entendimento da específica e muito
localizada terminologia usada nos textos de Domingos José de Castro,
entende-se como muito útil para o leitor deste opúsculo a inserção do
glossário de autoria de Diamantino Dias que também está contido no seu
livro "Moliceiros", já citado.
O Presidente da
Câmara
(assinatura)
(Prof. Celso Santos)
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