David Paiva Martins, Aradas. Um olhar sobre a primeira metade do século XX (Da Junta de Parochia à Junta de Freguesia). 1ª ed., Aradas, Junta de Freguesia de Aradas, 2008, 268 pp.

2 – No início do século XX

 

A primeira sessão da Junta de Paróquia da Freguesia de S. Pedro das Aradas no Século XX ocorreu no dia 13 de Janeiro de 1901, sob a presidência do reverendo padre António dos Santos Pato, com a participação dos vogais José Ferreira Borralho, de Arada, António das Neves, António Nunes Rafeiro e José Ferreira Borralho, de Verdemilho. Secretariou o professor António da Rocha Martins. Nessa sessão, “sob proposta do presidente, a Junta deliberou que no corrente ano (1901) o azeite e cera para os altares da egreja, fosse fornecida pela mesma Junta e não pelos mordomos como até aqui tem sido”. E foi tudo o que se tratou nesse dia.

 

Na sessão de 16 de Junho de 1901, o vogal António Nunes Rafeiro apresentou um atestado médico e pediu dispensa por motivos de saúde. A Junta deliberou convidar o vogal suplente mais velho – José João Ascenso – para o substituir. Aceitou e prestou juramento como vogal efectivo na sessão de 30 de Junho de 1901.

 

 

Pouco depois, concretamente na acta da sessão de 11 de Agosto de 1901, começou aquilo a que chamaria o “romance” da demissão do secretário, professor António da Rocha Martins. Essa acta relata o que aconteceu nas sessões de 14 e 28 de Julho, em que ele já não compareceu e não fez actas. Segundo se vê nesta acta de 11 de Agosto, “o presidente leu uma carta do secretario António da Rocha Martins em que este declarava não poder comparecer por motivo de doença e ter de sair da terra, enviando o livro das actas, uma declaração de haver recebido os juros das inscrições do primeiro semestre de 1901, bem como das despesas feitas para a recepção dos mesmos juros, provenientes de recibo e reconhecimento no valor de cento e setenta e cinco reis, da revisão das contas na Administração do Concelho – quinhentos reis e dos emolumentos de aprovação de contas no valor de novecentos e oitenta reis, juntando a guia de entrada do dinheiro no cofre, no valor de quatro mil e duzentos reis, e o mandado para receber as despesas feitas na importância de mil seiscentos e cinquenta e cinco reis.”

 

E continua a acta, acusando o secretário de “pouco escrúpulo no cumprimento dos seus deveres de secretário, o desleixo e a errada direcção que dava aos negócios da mesma Junta, comprometendo-a até pela sua deslealdade e pouco escrúpulo, resolveu demiti-lo” e nomeou António da Maia para o substituir.

 

O “romance”, para que ele entregasse todos os papéis da Junta em seu poder, continuou nas actas das sessões de 25 de Agosto e 8 de Setembro, até que, na sessão de 15 de Setembro de 1901, o ex-secretário, António da Rocha Martins, se apresentou a entregar toda a papelada.

 

Cabe aqui referir que o autor ficou perplexo ao ler estas actas. Embora não tendo conhecido o professor Rocha Martins, sempre o ouvira referir como pessoa extremamente correcta, inteiramente devotada às necessidades da sua terra e educação das crianças. O “retrato” que emanava das actas era exactamente o oposto. Sabendo que, a certa altura, ele tivera um grave diferendo pessoal com o padre Pato, interrogava-se se estaria aí a justificação do teor das actas.

Professor António da Rocha Martins

 

Por incrível que pareça, estava mesmo. Quando, após a implantação da República, o padre Pato deixou de ser presidente por inerência, as referências elogiosas ao trabalho do professor Rocha Martins começaram a ser constantes. A título de exemplo, transcreve-se da acta da sessão de 4 de Fevereiro de 1912: “O presidente relata o modo elevado como decorreu a sessão de distribuição de beneficência aos alunos das escolas da freguesia, realizada em 31 de Janeiro na Escola de Verdemilho e propôs um voto de louvor a todas as pessoas que contribuíram para o êxito da iniciativa, nomeadamente o professor António da Rocha Martins, os oradores José Casimiro da Silva, que presidiu à sessão, secretariado pelas professoras D. Idalinda e D. Pompília da Rocha Martins, ao Sr. Adelino Mendes da Costa, professor de Arada e ao Sr. Alberto Souto, deputado pelo Círculo. O voto de agradecimento foi aprovado.”

 

 

Voltemos à Junta e ao seu trabalho.

 

 

Numa sessão extraordinária, realizada em 7 de Outubro de 1901, o presidente informou que lhe tinha constado que havia pessoas que tinham comprado terrenos no cemitério mas não os tinham pago. Por isso, a Junta decidiu convocar os Srs. Daniel Gonçalves Sarrico, de Verdemilho, e Francisco Simões Ratola, do Bonsucesso, para comparecerem na sessão extraordinária do domingo seguinte e exibirem os documentos que provem que compraram e pagaram.

 

Os referidos cidadãos compareceram na sessão extraordinária de 13 de Outubro de 1901. E, então, verificou-se o seguinte:

 

– O Sr. Daniel Gonçalves Sarrico mostrou um recibo da importância do terreno comprado, assinado pelo Tesoureiro da Junta – Sr. José João Ascenso – e uma cópia da acta da sessão de 19 de Fevereiro de 1898 em que o terreno lhe fora vendido;

 

– O Sr. Francisco Simões Ratola declarou não ter documento algum, nem que tivesse entrado com qualquer dinheiro no cofre da Junta. Por isso, a Junta considerou que a parcela de terreno que lhe havia sido cedida na referida sessão de 19 de Fevereiro de 1898 não era pertença sua, mas sim propriedade paroquial.

 

 
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