Costa e Melo, A Ria a preto e branco, Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 1998, 190 páginas.

Amostragem fotográfica

1. A geometria clássica das salinas, se acompanhada com restos de água, pelo «craquelé» dos algibés, é de uma beleza calma a aguardar a explosão dos cristais.

2.... até parece uma alcatifa de luxo, a tapeçaria de lamas no caminho deste moço a dirigir-se ao milagre do Sal.

3. O catavento, a barraca, as bicicletas e a ponte de tosco pau marcam o que vem de longe e o que se espera para a metamorfose da água no salgado do sal e do suor.

4. Os rectângulos já começam a enfeitar-se para receber a carícia dos pés gretados dos marnotos e seus moços...

5. ... e a faina continua por entre o matagal que o Inverno fez crescer, apesar do açoite das nortadas.

6. O trabalho de grupo é uma das leis do salgado, sobretudo na tarefa ingrata que precede a «botadela». A pá, a canastra, a rodilha para as cabeças, são os acessórios deste quarteto de trabalho sem o qual o milagre não vem.

7... e o rodo ainda não traz cristais, mas «lixo» que nem por o ser, deixa de oferecer perspectivas de encantamento para os olhos, bem representadas pelos claros-escuros da camisa do moço e pelos montes alinhados, à espera da canastra e do barco.

8. ... antes do Sal começar a nascer, como que a medo, em espumas, ele mostra-se ao Sol que lhe dá brilhos e reflexos de beleza sem par.

9... depois de lhes abrir a água, ainda suja e negra, que toma contornos fantasmagóricos dignos de atrevido Pintor, surgem Picassos involuntários.

10. Terminada a limpeza, importa alisar a carpete para que o Príncipe, ao chegar, se sinta bem e cresça como «Rei».

11. As janelas do céu já caíram e o cristal delas começa a fazer negaças à luz, chamando-a para o noivado.

12. Para quem os saiba ver, em encantamento, os reflexos são, na faina do sal, um dos principais encantos.

13. A canastra, os cristais, os punhos e o moço, tudo cheio de luz, ainda mais faz brilhar a sombra alongada, criada pelo Sol da tarde.

14. A cordilheira começa a tomar formas de fruto a mostrar-se para o amadurecer da montanha que o espera, em forma de cone.

15. ... pernas de infância mal acabada.

16. ... e depois, pelo esforço desta, até ao crescer alegre das cenas de marcar volumes na planura mista.

17. ... e a democracia «condessa» guarda o naco de broa, quem sabe se sem qualquer azeitona, como conduto, que enfeite o apetite do suor...

18. ... para logo a seguir desenhar velhas e sempre novas figuras que poderiam ser de vitrais de qualquer templo à Deusa-Mãe natureza.

 

 

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