Desde os tempos, já
recuados, em que o Alberto Pires e o Aníbal Ramos, em Aveiro e em
Ílhavo, me aturavam as impertinências na escolha dos papeis, no formato
das ampliações e nos cortes, por vezes atrevidos, a fazer nas imagens
que eu lhes levava bem escondidas no pequeno cilindro metálico onde era
enrolado o filme que a Câmara escura, de braço dado com a luz, ia sendo
sensibilizado por forma a vir a ser, no futuro, alfobre de saudades e,
desde logo, no presente, o gozo de sensações nem sempre procuradas mas,
às vezes em milagre, encontradas, que eu sou um apaixonado da
fotografia.
Era o milagre do negro que,
para mostrar a luz, se tinha de refugiar entre lentes, «cuvettes» e
frascos de reveladores, fixadores e guilhotinas, as quais, para nos
darem o ângulo desejado, não precisavam de fazer rolar cabeças, mesmo
que as suas cabeleiras e laçarotes pudessem prejudicar o reflexo das
águas e as linhas envolventes dos horizontes distantes da moldura.
Daí nasceram as imagens. tal
como hoje as vejo, com a nostalgia de as não poder fazer renascer nos
recursos que a técnica nos foi dando em seu afã de fazer melhor, mesmo
sem pensar que esse melhor, por diferente, sacrificava o natural dos
negros e brancos, brilhantes e baços das imagens que víramos e não
veríamos mais, com o enrolar do filme na «cassette» da idade.
A aparente paralisia dos
arquivos tem, em si, a magia da ressurreição que procurei nas alquimias
da minha sensibilidade.
E é o resultado desse olhar
para trás que vos trago aqui, acompanhado das palavras que julguei
capazes de, sem rigores de verdade histórica ou geográfica, significarem
o que de alma poderia haver na visão dos claros-escuros obtidos pela tal
magia da ressurreição.
Aí ficam, embaladas pelo
muito amor que desde menino consagrei a esse espelho de belezas sem par
que a Ria é.
Oxalá o não tenha
atraiçoado.
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