Costa e Melo, A Ria a preto e branco, Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 1998, pp. 7 a 9.

Explicação

Desde os tempos, já recuados, em que o Alberto Pires e o Aníbal Ramos, em Aveiro e em Ílhavo, me aturavam as impertinências na escolha dos papeis, no formato das ampliações e nos cortes, por vezes atrevidos, a fazer nas imagens que eu lhes levava bem escondidas no pequeno cilindro metálico onde era enrolado o filme que a Câmara escura, de braço dado com a luz, ia sendo sensibilizado por forma a vir a ser, no futuro, alfobre de saudades e, desde logo, no presente, o gozo de sensações nem sempre procuradas mas, às vezes em milagre, encontradas, que eu sou um apaixonado da fotografia.

Era o milagre do negro que, para mostrar a luz, se tinha de refugiar entre lentes, «cuvettes» e frascos de reveladores, fixadores e guilhotinas, as quais, para nos darem o ângulo desejado, não precisavam de fazer rolar cabeças, mesmo que as suas cabeleiras e laçarotes pudessem prejudicar o reflexo das águas e as linhas envolventes dos horizontes distantes da moldura.

Daí nasceram as imagens. tal como hoje as vejo, com a nostalgia de as não poder fazer renascer nos recursos que a técnica nos foi dando em seu afã de fazer melhor, mesmo sem pensar que esse melhor, por diferente, sacrificava o natural dos negros e brancos, brilhantes e baços das imagens  que víramos e não veríamos mais, com o enrolar do filme na «cassette» da idade.

A aparente paralisia dos arquivos tem, em si, a magia da ressurreição que procurei nas alquimias da minha sensibilidade.

E é o resultado desse olhar para trás que vos trago aqui, acompanhado das palavras que julguei capazes de, sem rigores de verdade histórica ou geográfica, significarem o que de alma poderia haver na visão dos claros-escuros obtidos pela tal magia da ressurreição.

Aí ficam, embaladas pelo muito amor que desde menino consagrei a esse espelho de belezas sem par que a Ria é.

Oxalá o não tenha atraiçoado.

 

 

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