Quando, deixados os cueiros
no campo de Santana para não trazer os mofos e as traças neles deixados
pelo
Abel de Andrade
e pelo
Carneiro Pacheco
mas procurando não me apartar dos arejados ensinamentos do
Rocha Saraiva
e do
Pinto Coelho,
eu "aportei" a Albergaria-a-Velha para me preparar, pelos estágios na
Advocacia, no Ministério Público e no Notariado para o ingresso na vida
prática, encontrei, no Tribunal da Comarca, um rapaz, sensivelmente da
minha idade que, ou já era escriturário ou praticava para isso.
Viera dos lados de Oliveira
de Azeméis.
Era o Leite de Pinho.
Tornou-se um belo
funcionário, poderíamos sem exagero dizer por tendência, vindo a
desempenhar cargos nas Inspecções Judiciais onde sempre se mostrou,
consciente e justo.
Mas, na altura era, como eu,
um novato.
Contudo e para a minha
inexperiência foi uma fonte de conhecimentos práticos a que não me
cansava de recorrer.
Tantos eram, já, apesar de
novito, os seus conhecimentos e paciência para os transmitir ao
recém-formado que eu era, que eu recorria mais a ele que ao Delegado, o
José Osório,
que tão alto chegou na Magistratura portuguesa.
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E não hesitei em meu misto
de atrevimento e admiração em baptizá-lo como "Doutor Resina" bem
adequado que o epíteto era ao seu nome de família.
Não me esqueço de que foi
ele, nos casos mais complicados e colocados a milhas do meu
conhecimento, a ensinar-me a fórmula mágica das promoções que eu deveria
exarar nos autos de corpo de delito:
"Promovo o regresso do
Delegado proprietário."
e que, pouco me tendo
ajudado em conhecimentos, que me faltavam, sobretudo no lado prático,
não deixou de constituir durante os seis meses que o estágio durou, a
cortina de fumo que salvava as aparências do aprendiz que, afinal, a bem
dos réus futuros, passou ao lado da Magistratura para a qual tendo
embora feito o respectivo estágio, não chegou a fazer concurso,
navegando para outras águas julgadas mais ricas do peixe nosso de cada
dia.
Mas o "Doutor Resina" ficou
sempre como referência daquele tipo de funcionários que muito honrariam,
como ele honrou, a capinha emblemática do ofício e da condição.
Na Comarca de Águeda para
onde mais tarde veio como Escrivão, continuou a mostrar-se como
funcionário de eleição e não foram raras as ocasiões em que,
directamente, como homem de toga que eu era, tive ocasião de o
constatar. |