FAÇAMOS agora breve
resenha do documento que motivou o anterior arrazoado e que a seguir publicaremos. Trata-se da «Marinha da Passagem» que
fica a Poente do
Canal das Pirâmides, no ângulo
compreendido entre a Cal que segue para a Gafanha e a Cal que segue
para Esgueira.
O Capitão-mor Luís da Gama Ribeiro Rangel de Quadros e Maia,
constitui-se devedor de 1.685$000 réis perante João Ferreira da Cruz,
em quatro escrituras feitas sucessivamente em 1725, 1727, 1730 e 1731.
Pela primeira fica devedor de 300$000 réis, hipotecando a marinha
«Amoreira» de 19 meios e as Gafanhas que ele tinha comprado ao Dr.
Manuel Simões da Cruz(1). A segunda, que é celebrada nas casas da
quinta das Ribas do Castelo, onde residia o credor, consta de uma
dívida de 600$000 réis e nela hipoteca o Capitão-mor as suas casas de
Aveiro, fora das portas de Vagos, defronte de Santo António e
que foram
de João Magalhães Castelo Branco,
de Coimbra(2).
Na terceira, de 335$000 réis, hipotecava Luís da Gama as casas em que
vivia, em Santo António da mesma vila de Aveiro.
/
296 /
Finalmente, a quarta escritura constava de outra dívida de 335$000 réis
na qual dava para hipoteca a marinha «Sobeira» de 39 meios que, como
diz o documento, era limitada pelo poente com as marinhas da Casa da Misericórdia que tinham sido de João de Moira e pelo nascente com o
esteiro que vai para a ponte da Dobadoira.
Morto João Ferreira da Cruz, a sua viúva D. Francisca Maria Teresa, como
administradora do vínculo de seu neto Fernando José Camelo, requer
judicialmente para entrar na posse da dívida. Seguem-se passos muito
interessantes neste litígio, no qual se prova que Luís da Gama procura
subtrair-se a pagar a dívida, o que se deu também com a questão litigiosa
das freiras do Convento de S. João Evangelista, ou Carmelitas de Aveiro, em que
era fiador o mesmo João F. Cruz.
Desta vez, o Capitão-mor, pelo seu procurador, confessa a dívida e
quer
ser condenado, como efectivamente foi, mas nunca comparece, pelo que lhe
são passadas várias precatórias para Lisboa, Quinta de S. Mateus, Couto
de Aguim, Esgueira, etc.... Ali ouviu pessoalmente a intimação do
oficial da Justiça, desobedecendo. Passando bastante tempo sem que se
resolva a pagar ou dar bens à penhora, é novamente notificado na sua
própria casa, recusando-se a aceitar uma carta de intimação.
Levanta-se Auto de nomeação dos bens que
seriam
penhorados e que constavam de algumas propriedades em Sá, na Coutada(3), na Gafanha(3),
praias, marinhas e
outras casas.
Sempre relutante aos mandados da Justiça, são-lhe mandadas novas
precatórias sendo ameaçado o oficial que fazia a diligência com a pena
de suspensão ou de morte se não conseguisse fazer chegar a intimação às
mãos de Luís da Gama, o que efectivamente se realizou quando este se
encontrava em Fermentelos, em casa de um amigo.
Finalmente, Francisco António Camelo, com procuração de sua sogra,
compra em 1746 por arrematação, para o vínculo de seu filho Fernando, a
«Marinha da Passagem»
ou «marinha da Eira de Pedra» pelo preço de 144$000 reis, com isenção de siza, por o comprador e o vendedor serem Cavaleiros professos da Ordem
de Cristo. A marinha era limitada ao poente pela marinha do S. S.
Sacramento de
S. Miguel e ao nascente pela cal dos navios da vila de Aveiro.
/ 297 /
Seguem os documentos
(reproduzidos em formato PDF):
DOCUMENTOS
RELATIVOS ÀS MARINHAS DE SAL
[PDF 8,7 MB]
P.e JOÃO VIEIRA
RESENDE
Continua no Vol. 13, pág.
317 − ►►► |