NOVE
são ao todo os Bispos residenciais, que ocuparam
e governaram a catedral e a diocese de Coimbra,
desde a sua restauração após a conquista de Fernando
Magno, em 1064, até à morte de D. Afonso Henriques,
em 1185. Eis a lista:
1.º D. Paterno (1080-1087)
2.º D. Crescónio (1092-1098)
3.º D. Maurício (1099-1108)
4.º D. Gonçalo (1109-1128)
5.º D. Bernardo (1128-1146)
6.º D. João Anaia (1148-1154)
7.º D. Miguel Salomão (1162-1176)
8.º D. Bermudo (1177-1182)
9.º D. Martim Gonçalvez (1183-1191).
É do 8.º destes Prelados que nos fala a inscrição lapidar,
cuja estampa acompanha este artigo.
Inscrição digna de todo o
apreço é esta, sob o aspecto
epigráfico, e pela sua cuidadosa e artística execução. Monumento lapidar, que deve ser tratado com toda a veneração e carinho;
embora sob o aspecto biográfico não venha trazer
interessantes e novos elementos para o conhecimento do Bispo D. Bermudo.
Não falo da importância altíssima que ressalta do
monumento aos olhos dos povos da Bairrada, pelo facto de ser
o mais antigo e venerando pregoeiro dum acontecimento notável,
ali ocorrido no domingo 25 de Outubro do ano de Cristo de 1181.
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Lá foi com o seu cabido o Bispo de Coimbra D. Bermudo,
e
durante uma boa parte daquele dia, dedicou ou sagrou solenemente a
igreja e o altar de S. Lourenço, edificados pelo presbítero Pelaginho, que naturalmente era o sacerdote encarregado
da igreja, e cura de almas da freguesia.
A inscrição já era de há muito conhecida. Foi publicada
há 87 anos nas Memorias da Accademia Real das Sciencias, − Classe de Sciencias Moraes, pelo meu sábio e benemérito
parente Dr. MIGUEL RIBEIRO DE VASCONCELLOS; e em fascículos
separados, com o título − Noticia historica do Mosteiro da
Vacariça, doado á Sé de Coimbra em 1094, e da Serie chronologica dos Bispos desta cidade desde
1064 em que foi tomada aos
mouros. Dividida em duas partes e offerecida á Academia Real
das Sciencias de Lisboa por MIGUEL RIBEIRO DE VASCONCELLOS, Conego da dita Sé, Doutor em Canones
pela Universidade de
Coimbra, e Sócio correspondente da mesma Academia.
Havia sido comunicada a inscrição ao Doutor MIGUEL R.
DE VASCONCELOS por António Luís de Seabra, depois Visconde
de Seabra, que a tinha decifrado e copiado com acerto. Encontra-se na pág. 89 do 2.º fascículo (1854) da dita separata.
Foi desenhada e aberta pelo lapicida numa placa de calcário
das pedreiras de Ançã, em belas letras capitais, umas redondas outras
angulares, misturadas com algumas onciais, todas elas de formas bem
conhecidas, por serem vulgares em títulos de livros
ou capítulos nos códices caligráficos dos séculos XI e XII, assim
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como nas melhores inscrições da época. Tem muitas letras conjuntas,
outras inclusas, algumas suprimidas com indicação de sinais
braquigráficos, mas tão distintamente desenhadas e tão nitidamente gravadas, que a sua leitura não oferece embaraços a
quem não seja inteiramente analfabeto em epigrafia.
Separando e distribuindo convenientemente as inclusas e
conjuntas, e desdobrando as abreviaturas, temos, sem vislumbre de dúvida, a leitura seguinte:
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SVB : HONORE : SANCTI :
LAV |
RENCII : PELAGIOLVS : PRESBITER : HANC : EDIFICAVIT : |
ECCLESIAM : QVAM : CERO : PERFECTAM : VERMVDVS: |
CONIMBRIANE
: ECCLESIE : RELIGIOSVS : DE |
DICAVIT : EPISCOPVS : VIIIº : KALENDAS :
NOVEMBRIS : Eª : Mª : CC : XVIIII |
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O que, em português, quer dizer: - Em honra de S. Lourenço, o Presbítero
Pelaginho edificou esta igreja, a qual, concluída tardiamente, foi
sagrada por Bermudo, religioso Bispo da igreja coimbrã, no dia 8.º
antes das Kalendas de Novembro da Era de 1219 (isto é, a 25 de Outubro
do ano de 1181).
Poderia este monumento epigráfico revelar-nos, se não o soubéssemos já,
que o Bispo D. Bermudo aínda era vivo a 25 de Outubro de 1181; mas é bem
conhecido o seu assento de óbito no Livro das Calendas da Sé de Coimbra,
que o dá falecido Nonís Septembris Era M. CC. XX (5 de Setembro de
1182).
Além disso, o Chronicon Conimbrigense registara também,
mas sem indicação de dia: − Era M.ª CC.ª XX.ª (ano do Senhor de 1182)
Obiit domnus uermudus colimbriensis episcopus.
Mas nem por isso é menos preciosa esta inscrição lapidar, como fica
dito.
ANTÓNIO DE VASCONCELOS |