Cónego A. F. Pinto, Cónegos e beneficiados da Sé do Porto, naturais do distrito de Aveiro, Vol. V, pp. 231-235.

CÓNEGOS E BENEFICIADOS

DA SÉ DO PORTO, NATURAIS

DO DISTRITO DE AVEIRO

SOUBE a Redacção deste Arquivo do Distrito de Aveiro que algumas investigações se têm feito para a história do Cabido da Sé Catedral do Porto, algumas notas biográficas têm sido publicadas e por isso insistiu pela relação de cónegos pertencentes às freguesias do distrito de Aveiro.

É grande o catálogo das dignidades, simples cónegos e beneficiados do Cabido Portuense.

Desde 1614 está organizado o catálogo e é completo; para além, muitos nomes tenho, mas a lista é muito incompleta. Os dados biográficos, salvas raras excepções, são muito deficientes.

Das naturalidades, menos se sabe, porque os termos das posses são muito lacónicos. Por isso, creio bem que a lista será pequena, mas alguns nomes ficam neste Arquivo.

 

António Ferreira Pinto: É natural da freguesia de S. Mamede de Guisande, no concelho da Feira, onde nasceu em Junho de 1871. Fez o curso teológico do Seminário do Porto de 1889
a 1892 e a formatura em Teologia na Universidade de Coimbra, que frequentou de 1892 a 1897. Em Setembro deste mesmo ano, foi nomeado professor do curso teológico do Seminário. Paroquiou a freguesia da Vitória, na cidade do Porto, de Fevereiro de 1898 a Agosto de 1899, porque neste ano o Sr. D. António Barroso entrou na posse da Diocese e escolheu-o para seu Secretário particular. Em Outubro de 1906 tomou posse da Vice-Reitoria do Seminário e da Reitoria em 1929. Foi nomeado cónego e tomou posse em 3 de Dezembro de 1927.


António Soares de Carvalho e Lima: Era natural de Angeja e, sendo simples minorista, tomou posse duma cadeira de beneficiado,
/ 232 / em 22 de Dezembro de 1772. Em 2 de Junho de 1778, foi provido num canonicato de meia prebenda ou meio cónego.


António Teixeira Tavares de Vasconcelos: Natural da freguesia de Rossas, no concelho de Arouca, tomou posse do canonicato em 8 de Novembro de 1799 e faleceu em 1 de Fevereiro de 1840. Foi sepultado em Rossas.


António Teixeira de Vasconcelos ou António Teixeira Brandão: Também natural de Rossas e sobrinho do anterior, sendo simples clérigo tonsurado, tomou posse do canonicato em 17 de Março de 1821, que nele resignou seu tio. Em 1869, mandou construir a capela do Senhor de Agonia, no lugar de Siqueiros e que actualmente está em ruínas. Faleceu, no Porto, em 2 de Março de 1872 e o cadáver foi transportado para Rossas, sendo recebido por toda a população com mostras de verdadeira simpatia e muito pesar. Está sepultado na referida capela do Senhor da Agonia.


Bernardo José da Silva Tavares: Natural de Canedo, no concelho da Feira, filho do Brigadeiro Bernardo José da Silva Tavares e de D. Gertrudes Xavier Pereira Valente, doutorou-se na Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra, em 3 de Outubro de 1830, sendo nomeado cónego Magistral do Cabido de Lamego.

Por decreto de 21 de Agosto de 1856, foi nomeado cónego da Sé do Porto e passada Carta Régia em 7 de Outubro seguinte. O doutor Tavares não se conformou com os termos da carta e representou ao Governo para lhe ser concedida a Conezia de Magistral. Passada nova carta, trazia no verso: «por declaração e apostilha foi concedido ser Magistral no Porto, vago pela morte do doutor Manuel Tomaz dos Santos Viegas». Recebeu a instituição canónica em 2 de Abril de 1857 e a posse no dia 8. Prometeu e jurou guardar os Estatutos, cumprir as residências, a que estão sujeitos todos os capitulares, sem se poder aproveitar dos privilégios dos antigos magistrais. Foi apenas um Magistral honorário. Esteve algum tempo paralítico em Canedo e faleceu a 22 de Março de 1888 com a idade de 87 anos. Foi sepultado na sua freguesia natal.


Francisco de Oliveira Correia: Natural de Ovar, tomou posse da cadeira de beneficiado em 30 de Setembro de 1831 e faleceu no dia 1 de Março de 1862.


Henrique de Sequeira de Melo Monterroso: Natural de Oliveira de Azeméis, em 1 de Agosto de 1792 tomou posse do canonicato que nele resignou seu tio Bento de Sequeira Monterroso e Melo. Morreu em Ovar a 28 de Junho de 1814
/ 233 / e lá foi sepultado. Do termo da posse de Bento Sequeira não consta a naturalidade, nem a de seu tio Luís de Carvalho Póvoas, que naquele também resignou. Carvalho Póvoas foi pároco de Romariz, na Feira, cujo registo assinou de 1707 a 1719. Nomeado cónego do Cabido Portuense, tomou posse em 20 de Julho de 1718 e faleceu a 2 de Março de 1756, ficando sepultado nos claustros da Catedral.


João Francisco dos Santos: É natural das Caldas de S. Jorge, onde nasceu em 1891. Ordenou-se em 1914 com o curso teológico do Seminário e em 1923 concluiu a formatura na Universidade Gregoriana, em Roma. Foi professor do Seminário, pároco da Catedral e tomou posse do canonicato em 15 de Junho de 1927. Está, actualmente, em Moçambique, como secretário do Sr. Bispo, D. Teodósio.


Joaquim Manuel Valente: É natural de Válega, no concelho de Ovar, onde nasceu em 1904. Fez os cursos teológicos do Seminário do Porto e da Universidade Gregoriana, ordenando-se de presbítero em 1927. Em 1929 foi nomeado professor de Teologia do Seminário do 'Porto e tomou posse do canonicato em 29 de Junho de 1936.


Manuel Brandão de Vasconcelos: Natural de Rossas, concelho de Arouca, em 18 de Março de 1818 foi provido na meia prebenda que possuía o Dr. José de Barros. Era ainda só clérigo e frequentava a Universidade de Coimbra. Faleceu, em Rossas, no dia 12 de Janeiro de 1832.


Manuel José de Sousa: Nasceu na Murtosa em 1895, tem o curso do Seminário e da Universidade Pontifícia-Gregoriana, que concluiu em 1923, sendo nomeado Prefeito e professor do Seminário. Em 1929, foi nomeado professor de Teologia e Vice-Reitor e em. 1934 partiu para Roma, onde desempenhou os cargos de Vice-Reitor e Reitor no Colégio português. Retirou para o Porto em 1939 e continua como professor do Seminário. Em 15 de Junho de 1927 tomou posse do canonicato.


Manuel de Oliveira Figueiredo: Era natural da freguesia de S. Cristóvão de Oliveira do Cravo, tomou posse da cadeira de beneficiado em 26 de Fevereiro de 1828.


Sebastião Soares de Resende: Natural de Milheiros, no concelho da Feira, onde nasceu em 1906, concluiu o curso do Seminário em 1928 e o da Universidade Gregoriana em 1933. Ordenou-se em 1928, foi nomeado professor de Teologia em 1933, Vice-Reitor em 1934 e tomou posse do canonicato em 29 de Junho de 1936.
/ 211 /


Melchior Vaz Correia: Era natural da Vila da Feira e, em 7 de Fevereiro de 1635, tomou posse duma conezia que vagou pela morte do cónego Manuel Pinto. Foi nomeado pelo bispo D. Frei João de Valadares, de quem já era Provisor. D. Frei João morreu logo em Maio seguinte, sendo nomeado Vaz Correia para continuar como Provisor, e nomeado Vigário Geral o licenciado Manuel Aguiar de Sousa. Melchior Vaz Correia continuou no mesmo cargo com o novo bispo D. Gaspar do Rêgo da Afonseca e governador nas ausências deste. D. Gaspar morreu em 1639 e o cónego Melchior foi eleito novamente para a Sé vaga. Contribuiu muito para a aclamação de D. João IV, no Porto, que se realizou no dia 8 de Dezembro de 1640. Foi notabilíssima a acção de Melchior Vaz Correia contra a nomeação de D. Francisco de Moura Coutinho Côrte Real para arcediago do Porto e anexo de Meinedo.

D. Francisco era filho de D. Manuel de Moura Côrte Real, 2.º Marquês de Castelo Rodrigo e neto do célebre D. Cristóvão de Moura, 1.º Marquês do mesmo título, fidalgo português, mas traidor à sua terra e vendido a Castela, e foi nomeado arcediago tendo apenas 5 anos de idade. Foram estas e outras influências que conseguiram do Papa Urbano VIII a nomeação do miúdo ou bebé para arcediago. Desde 1627 a 1635, Vaz Correia sustentou arrojada campanha contra tal nomeação, até que, finalmente, D. Francisco de Moura, ou alguém por ele, desistiu da dignidade e resignou em favor de Luís da Gama, cuja posse foi em 9 de Setembro de 1635.

O processo encontra-se no Livro n.º 759 do Arquivo do Cabido do Porto, no Arquivo Distrital do Porto. Foi uma luta que notabilizou o Dr. Melchior Vaz Correia e muito contribuiu para a indisposição do Clero contra Castela.

Abençoada seja a memória deste ilustre filho da Feira.


Doutoral Luís Lopes de Almeida: À semelhança do que se passou nas igrejas de Espanha, houve também nas Sés de Portugal duas conezias, chamadas de oposição, porque eram providas em rigoroso concurso. Uma era destinada a um Teólogo, doutor ou licenciado e chamava-se conezia de Magistral; outra para doutor ou licenciado em Direito Canónico, Civil ou ambos os direitos e intitulava-se conezia de Doutoral. O Magistral era um conselheiro para casos de consciência e o Doutoral um consultor nato do Cabido, orientando-o nas questões jurídicas. Datam do século XVI.

O primeiro Magistral foi Balchior ou Belchior Caldeira, provido em 1570. O Cabido teve 15 Magistrais e o último foi Manuel Tomaz dos Santos Viegas, como já referi a propósito do Dr. Bernardo Tavares.

O primeiro doutoral foi André Vaz, provido em 3 de Janeiro de 1568; o último, João Pedro Ribeiro, falecido em 4 de Janeiro / 235 / de 1839. Teve o Cabido 30 doutorais. Luís Lopes de Almeida foi o terceiro doutoral. Era natural de Esgueira, filho de Fernão Lopes, foi provido em 20 de Novembro de 1577. Foi Provisor e Vigário Geral do bispo D. Simão de Sá Pereira. Pelo bispo D. Jerónimo de Menezes e pelo Cabido, o licenciado em Cânones Lopes de Melo com uma Comissão eleita pelo Cabido foram encarregados de estudar todos os estatutos, determinações, costumes, uns in Scriptis, outros introduzidos imemorialmente, confirmados pelos Prelados, sempre sujeitos à variação dos tempos, devendo dar o seu parecer o dito licenciado, e finalmente redigir outros novos Estatutos, harmonizando-os com as leis e normas promulgadas pelo concílio Tridentino.

Lopes de Almeida cumpriu a difícil Comissão de que foi incumbido e apresentou os Estatutos com 96 artigos. Foram aprovados em 20 de Julho de 1596, sendo ainda bispo D. Jerónimo e deão o doutor António Pinto. Lopes de Melo faleceu com a peste em 19 de Março de 1600, da qual morreram mais dez cónegos e o bispo D. Jerónimo. O bispo D. Simão de Sá Pereira faleceu, em Tomar, no dia 11 de Abril de 1581. Sucedeu-lhe D. Fr. Marcos de Lisboa, de 1582 a 1591 e a este D. Jerónimo de Menezes, de 1592 a 1600. O doutoral Lopes de Almeida prestou importantes serviços a estes bispos e ao Cabido, do qual era membro ilustre.


Vicente Alves da Cruz: Natural de Oleiros, na Feira, tomou posse de beneficiado em 6 de Abril de 1853.


José Pereira Godinho Andrade: Era natural de Oliveira de Azeméis, tomou posse de beneficiado em 20 de Abril de 1773, e em 12 de Junho de 1775 passou para Abade de Retorta.


Aqui ficam estes nomes de clérigos que pertenceram e outros ainda pertencem ao Cabido da Sé do Porto. Se descobrir mais algum natural do Distrito de Aveiro, aqui será publicado em tempo oportuno.

Porto − 1939.

CÓNEGO A. F. PINTO

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