José Pereira Tavares, A estátua de José Estêvão, em Aveiro (subsídios para a história do monumento), Vol. V, pp. 227-230.

A ESTÁTUA DE

JOSÉ ESTÊVÃO EM AVEIRO

(SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO MONUMENTO)

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II

No extinto Campeão das Províncias, de 11, 18 e 25 de Agosto e 1 e 8 de Setembro de 1923, publicou Marques Gomes artigos sobre «A estátua de José Estevam». Convindo deixar no Arquivo uma notícia, embora resumida, acerca da colocação da primeira pedra do monumento e dos festejos que por ocasião da inauguração da estátua se fizeram, vamos para isso servir-nos desses escritos do falecido antiquário de Aveiro.

Dissemos no número anterior do Arquivo que a colocação da primeira pedra se fez no dia 8 de Maio de 1880. Relata-a assim Marques Gomes(1):  − «Às 11 horas sahia do Grémio Moderno o cortejo, que devia receber a camara municipal nos paços do concelho, e assistir à collocação da primeira pedra do monumento.

Auto de Inauguração do monumento erigido em 12-8-1889 à memória de José Estêvão Coelho de Magalhães em Aveiro, na Praça da República. Existente na Biblioteca da Escola Secundária José Estêvão (Fotografia de HJCO - 2018)

D'ahi dirigiu-se ao Largo Municipal, abrindo o prestito a camara d'Aveiro, levando á sua direita os representantes das camaras de Castelo de Paiva, Ilhavo e Sever do Vouga. Seguiam-se-lhe o reitor do Liceu e corpo docente do mesmo estabelecimento scientifico, auctoridades, representante do centro eleitoral republicano, associações, empregados das diversas repartições publicas, socios do Gremio Moderno, com missão encarregada de levantar o monumento, grande commissão / 228 / promotora da exposição, commissão executiva da junta geral do districto, a imprensa da localidade, e commissão executiva do Gremio, presidida por Francisco Regala, capitão do porto d'Aveiro.

Chegado o cortejo ao logar onde tinha sido aberto o cabouco para a collocação do cofre, o secretário da commissão dos artistas lavrou o auto, que foi assignado por grande numero dos cavalheiros presentes, e seguiu-se-Ihe o encerramento da lamina, auto, e moedas da época no cofre de ferro, que foi conduzido pelo governador civil que era então Mendes Leite e presidente da commissão dos artistas. Dois membros desta commissão tomaram depois a pedra fundamental e collocaram-na sobre a cavidade.

Em seguida foram convidados pelo presidente da commissão para tomarem os diversos utensilios o reitor do Liceu(2), presidente do Gremio e director das obras publicas, e por elles entregues ao governador civil, que depois de collocar nas junctas da pedra o cimento respectivo, bateu com o camartello, dando-se assim termo á solemnidade, sendo por essa ocasião levantados muitos vivas que foram calorosamente correspondidos.»

As festas da inauguração da estátua realizaram-se nos dias 11, 12 e 13 de Agosto de 1889, como já ficou dito no número anterior. Eis o programa:

Dia 11: Pelas 10 horas da manhã, bodo aos pobres da cidade, no Liceu; às 11 horas, inauguração da lápide comemorativa na casa da Rua Larga, onde nasceu JOSÉ ESTÊVÃO, cerimónia em que tomaram parte a Câmara Municipal, comissão dos festejos, autoridades, funcionários; em seguida, romagem ao cemitério, para deposição duma coroa sobre o túmulo do grande aveirense, junto do qual falaram os Drs. Joaquim de Melo Freitas e Jaime de Magalhãis Lima; no de Mendes Leite, onde falou Marques Gomes, e no monumento dos Mártires da Liberdade; às 4 horas da tarde, tourada na praça do Campo de S. João (Rossio), à noite, iluminação do Largo Municipal e sarau literário no Teatro Aveirense.

Dia 12: Alvorada, com várias músicas; às 11 horas, cortejo cívico, organizado nas imediações da estação do caminho de ferro, o qual seguiu pelas seguintes ruas: Visconde de S. Januário, Gravito, Vera-Cruz, José Estêvão, Avenida Bento de Moura, Praça do Comércio, Travessa da Praça, Alfena, Rainha, Fontes Pereira de Melo, Ponte da Praça, Francisco Matoso, José Luciano de Castro, Arrochela, Arribas, Sé, Jardim, Anselmo Braamcamp / 229 / e Largo Municipal. A ordem do cortejo foi a seguinte: 1 − Câmara Municipal de Aveiro e delegações das municipalidades do país; 2 − Empregados das secretarias e diversos pelouros das municipalidades do distrito; 3 − Filarmónica «Amizade» ; 4 − Carro dos Bombeiros Voluntários; 5 − Companhia dos Bombeiros Voluntários de Aveiro; 6 − Associação dos Salvadores e Clube Fluvial; 7 − Associação Comercial e comerciantes de Aveiro; 8 − Empregados do comércio; 9− Uma filarmónica; 10 − Carro triunfal do Comércio; 11 − Grupo de marnotos; 12 − Operários da fábrica de loiça do Cojo; 13 − Operários da fábrica da Fonte Nova; 14 − Filarmónica da fábrica da Vista Alegre; 15 − Operários da fábrica da Vista Alegre; 16 − Operários da fábrica de vidros da Fonte Nova; 17 − Operários da tanoaria do Cojo; 18 − Operários da tanoaria da Estação; 19 − Artistas e operários de Aveiro; 20 − Uma filarmónica; 21 − Carro triunfal de Artes e Ofícios; 22 − Artistas e operários de Ilhavo; 23 − Associação Aveirense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas; 24 − Direcção do Grémio Aveirense; 25 − Direcção do Teatro Aveirense; 26 − Direcção do Asilo. de S. João, de Lisboa: 27 − Grémio Lusitano, de Lisboa; 28 − Outras associações de fora de Aveiro; 29 − Banda Marcial de Infantaria 4; 30 − Carro de flores; 31 − Representação dos poderes constituídos da Nação; 32 − Governador Civil e Secretário Geral do Distrito; 33 − Junta Geral do Distrito; 34 − Magistrados dos tribunais superiores; 35 − Magistrados dos tribunais judicial e administrativo; 36 − Agentes consulares estrangeiros; 37 − Comandante .e oficialidade da cavalaria n.º 10 e guarda fiscal; 38 − Oficiais reformados e licenciados da armada e do exército; 39 − Veteranos da Liberdade e funcionalismo das diversas repartições do serviço público; 40 − Carro de flores; 41 − Grupo de trabalhadores agrícolas de diversos concelhos do Distrito; 42 − Grupo de pescadores das companhas do litoral do Distrito; 43 − Uma filarmónica; 44 − Carro triunfal de Marinha e Pesca; 45 − Asilo-Escola Distrital; 46 − Colégio Aveirense; 47 − Colégio Probidade; 48 − Academia Aveirense; 49 − Reitor e Professores do Liceu; 50 − Quadro tipográfico dos jornais de Aveiro; 51 − Redacção dos jornais da cidade e representantes da imprensa do país; 52 − Representação da família de José Estêvão; 53 − Comissão do Monumento; 54 − Uma filarmónica; 55 − Carro de flores; 56 − Piquête de cavalaria.

Ao meio dia, jantar oferecido aos presos pelas tricanas de Aveiro; às 4 da tarde, tourada no Campo de S, João; às 6, jantar oferecido pelo Dr. Barbosa de Magalhãis, presidente da Comissão Executiva da Junta Geral, às comissões parlamentares que vieram assistir aos festejos; de tarde e à noite, bailes populares no Largo do Rossio; à noite, iluminação geral na cidade e no canal que a divide / 230 /

Dia 13: Às 10 horas, passeio fluvial até à Barra, o qual todavia, por causa do vento, não pôde ir além da Cale da Vila (Gafanha ); à noite, iluminação no Largo Municipal e na fábrica da louça da Fonte Nova, coroação do busto de José Estêvão e récita de amadores no Teatro Aveirense.

Auto de Inauguração do retrato de José Estêvão Coelho de Magalhães, que os estudantes da Cidade de Aveiro mandaram colocar na Biblioteca do Liceu Nacional da mesma Cidade, actualmente na Biblioteca da Escola Secundária que o tem como patrono. (Fotografia de HJCO - 2018)

NOTA − Ao ARQUIVO impende ainda o dever de registar em suas Páginas as comemorações que em Aveiro se fizeram por ocasião da passagem do primeiro centenárío do nascimento do grande tribuno liberal, em Dezembro de 1909. Logo que tenhamos colhido todos os elementos, aqui prestaremos mais essa homenagem em memória do ilustre cidadão português, filho de Aveiro, que tanto honrou a sua terra e o seu país.

JOSÉ PEREIRA TAVARES

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(1) Campeão, de 11 de Agosto de 1923. Todos os documentos vão reproduzidos com a grafia da época. A amarelo, destacamos a referência a construções ou edifícios actualmente inexistentes.

(2) Dr. João de Moura Coutinho. 

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