João Domingues Arede, Santiago de Riba de Ul, outrora Sanctus Jacobus de uilla Coua Dul, Vol. V, pp. 75-78.

SANTIAGO DE RIBA DE UL,

OUTRORA SANCTUS JACOBUS

DE UILLA COUA DUL

O nome de Santiago de Riba de Ul deriva do latim − Sanctus Jacobus (Santo lago, apóstolo que pregou o Evangelho na Palestina), e da sua posição topográfica − Riba, significando − margem, e Ul, designando o Rio Ul, que corre pelo meio da freguesia. A este Rio chama-lhe PEREIRA NOVAIS − Rio Sul(1), devido, talvez, a ser o primeiro a sul do Rio Douro.

Esta freguesia, antigamente denominada − a de Vila Coua de UI, provavelmente por a sua primitiva igreja ter sido no lugar de Vila Cova, na margem direita do referido Rio e, mais tarde, chamada − Santiago de Riba de Ul, pela construção da nova igreja no lugar de Santiago, à esquerda do mesmo Rio, é terra antiquíssima, como se prova:


1.º − Pelo Censual do Cabido da Sé do Porto. Deste Censual arquivado no Cartório da Sé do Porto desde remotos tempos, e vulgarizado pela Biblioteca Municipal do Porto, em 1924, constam os direitos da Mesa Episcopal da mesma cidade do Porto na igreja de Santiago de Riba de Ul:

Ecclesia S. Jacobi de Uilla Coua . Dul

De cera. unam. libram.
De mortuarijs . tres . libras.
De tritico . duas . quartarios.
De Auena quinque quartarios.
De vino . unum modium.
(2)

/ 76 /

Quer dizer:

De cera − uma libra.
De direitos de funeral − três libras.
De trigo − dois quartários.
De aveia − cinco quartários.
De vinho − um moio.


2.º − Pelo subsídio que prestou para a guerra contra os Mouros. No tempo de El-Rei D. Dinis, em 1320, sendo Pontífice João XXII, foi taxada a igreja de Vila Cova de Ul em 50 libras para subsídio da guerra contra os Mouros
(3).

3.º − Pela Carta de Doação do Couto ao Mosteiro Beneditino de Cucujães, por D. Afonso Henriques, de 7 de Julho de 1139 (anos de Cristo), que faz referência ao lugar de Vila Cova e Brafemes na delimitação do mesmo Couto(4).

4.º − Pelo Corpus Codicum Latinorum (Colecção de Códices antigos do século XV), arquivado na Biblioteca Municipal do Porto, que também faz referência ao dito lugar de Vila Cova e ainda aos de Santiago e Figueiredo, dizendo que os mesmos, entre outros, não pagavam portagem à cidade do Porto(5).

Mais:

a) A Igreja de Santiago de Riba de Ul e a do Couto de Cucujães nos meados do século XVII. A igreja do Couto de Cucujães era obrigada a emprestar à de Santiago a sua armação de panos caros, e também a convidar, para as suas solenidades religiosas, o Reverendo Cura da mesma freguesia de Santiago, como consta do seguinte: «Outro si fui informado (diz o Visitador − delegado do Cabido do Porto − Sede Episcopali vacante) que nesta igreja (de Cucujães) tem a Confraria do Santíssimo Sacramento sua armação de panos custosos. E porque alguns oficiais da dita Confraria os emprestam para outras igrejas do que resulta o danificarê-se os panos em perda da dita Confraria. Mando aos oficiais dela mais os não emprestem, salvo se for para a igreja de S. Tiago de Riba de UI, o que os ditos oficiais cumprirão com pena de Excomunhão maior. − E que os mordomos não tenham obrigação de dar mais / 77 / esmolas (nas solenidades religiosas) que aos três sacerdotes − o Cura desta Paróquia, e o Cura de São Tiago de Riba de Ul...»(6).

b) A Igreja de Santiago − Curado da Igreja de Oliveira de Azeméis. Em 1623 era Padroeiro desta igreja o Reitor dê Oliveira de Azeméis(7), direito que o mesmo continuou a possuir até 1834 e que, a seguir, passou para o Rei até 5 de Outubro de 1910.

Também consta que, pelos anos de 1540 até 1582, a igreja de Santiago de Riba de Ul já era anexa à de Oliveira de Azemeis(8).

c) Santiago de Riba de Ul − comenda anexa à de Oliveira de Azeméis. Em 1690 eram possuidores da referida comenda Pedro Castilho e sua mulher D. Maria de Castro, que a herdaram dos seus maiores(9).

A propósito diremos ainda:

A banda de música de Santiago de Riba de Ul é uma das mais antigas desta região, pois tomou parte nas guerras napoleónicas, tendo por fim acompanhado o exército anglo-luso até Navas de Tolosa, não havendo memória do regente que a acompanhou.

Dessa organização musical conservou-se o bombo, até há pouco tempo, em Santiago, como uma relíquia histórica da grande guerra.

As tradições musicais de Santiago de Riba de Ul, que afirmam a feição artística do carácter do seu povo, não se perderam.

Esta freguesia tem mantido sempre a sua banda de música, que vem revivendo, através dos tempos, as glórias passadas, não pelo carácter belicoso que algumas vezes estas instituições assumiam em épocas revoltas, mas pela importância da sua organização e pelo valor dos seus elementos, em que entraram talentosos compositores, entre os quais é de justiça salientar o falecido Manuel José de Pinho Júnior, que fez bastantes composições que lhe assegurarão, por largo tempo, um lugar de destaque, sobretudo na música sacra.

Modernamente teve um exemplo de valor e dedicação no seu regente, o Sr. Armando de Pinho Dias que, à corporação / 78 / a que presidiu com brilho, prestou relevantes serviços, não
somente levando-a, em virtude do seu alto esforço e competência, a um grau de perfeição artística que a tornou admirada em muitas terras afastadas desta região, mas também, como
maestro de muito merecimento que, para a mesma, compôs bastantes partituras de subido valor.

ABADE JOÃO DOMINGUES AREDE

_________________________________________

(1) IV − Anacrisis Historial (II Parte) Episcopológio − Vol. IV, a pág. 193.

(2) Censual do Cabido do Porto, a pág. 546. 

(3) Manuscrito N.º 179 da Biblioteca Nacional de Lisboa, citado na História da Igreja em Portugal, por FORTUNATO DE ALMEIDA, a pág. 615.

(4) Cucujães e Mosteiro com seu Couto, a pág. 19.

(5) Corpus Codicum Latinorum Et Portugalensium... Vol. I, fasc. III,, a pág. 536 .  

(6) Livro das Visitações Episcopais de Cucujães, a pág. 18 e verso.

(7) Catálogo dos Bispos do Porto, por D. RODRIGO DA CUNHA (1ª Parte), a pág. 385.

(8) Anais do Município de Oliveira de Azeméis, a pág. 78. 

(9) Cucujães e Mosteiro com seu Couto, por JOÃO DOMINGOS AREDE, a pág. 64.  

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