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I
A INSTITUIÇÃO
dos Liceus em Portugal, obra notabilíssima do Governo
de Passos Manuel, foi determinada por decreto de 17 de Novembro de 1836(2). O Liceu de
Aveiro, porém, só foi criado em 1851, ao abrigo do
art. 46.º do decreto de 20 de Setembro de 1844 (Costa Cabral)(3).
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Dr. João de Moura Coutinho de Almeida de Eça (1º
reitor do Liceu de Aveiro) |
Até à
inauguração do actual edifício foi acidentada e muito precária, como
vamos ver, a sua existência. Primitivamente, foi instalado no Paço
Episcopal, conforme se depreende das primeiras actas do Conselho
Escolar. Como nenhuns documentos possuímos que nos esclareçam da maneira
como começou a
/ 48 / funcionar o
Liceu, é necessário que se transcrevam na íntegra as actas iniciais. A
acta de instalação é a seguinte:
−
«Anno do
Nascimento de Nosso Senhor de Jesus Christo de mil oito centos e sincoenta e um aos quatorze dias do mez de Julho do dito
anno, sendo presentes no Paço Episcopal desta Cidade de Aveiro o Commissário dos Estudos do Distrito o D.or João de Moura
Coutinho e o Professor de Philosophia Racional e Moral Luiz
Cypriano Coelho de Magalhães(4) comigo Professor de Rhetorica Manoel Joaquim d'Oliveira Santos, chamado officialmente
por elIe dito Comissário dos Estudos para servir como Professor mais moderno de Secretário do Lyceo(5), declarou elIe
sobredito Presid.e Commissario q havendo de proceder-se
aos Exames dos Preparatorios
dos Ordinandos q pelos Exames no Lyceo desta Cidade
tiverem de se habilitar p.ª
requerer Licença p.ª a Ordenação, devia o Lyceo considerar-se interinamente instalado
p.ª taes effeitos, sendo elIe
Commissario Presid.e considerado como Reitor, e eu Professor mais moderno
como
Secretario de Lycêo, tudo na conformidade das Portarias de 25. de 7.bro
de 1850(6) e de 8. de 8.bro e de 29 de 9.bro do
dito anno, e das Instrucções
ultimamente recebidas do Conselho Superior de Instrucção
Publica. E p.ª constar, fiz este Auto q vai ser assignado
por mim como Secretario e
como Professor, por elIe Reitor e pelIo Professor de Philosophia Racional e Moral; e eu
Manoel Joaquim d'Oliveira Santos o escrevi e assigno.
/ 49 / Dr.
João de Moura Coutinho, Reitor. Luiz Cypriano Coelho de Magalhães. Manoel Joaquim d'Oliveira Santos.»
A segunda acta é
de Outubro e do teor seguinte:
− «Anno
do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e
sincoenta e um, aos vinte dias do mês de Outubro do dito anno, no Paço
Episcopal desta Cidade de Aveiro, estando reunidos o Doutor João de
Moura Coutinho, Commissario dos Estudos e Reitor do Lyceo, e o
Professor de Philosophia Rac.al e
Moral Luiz Cypriano Coelho de Magalhães comigo Professor de
Rhetorica Manoel Joaquim d'Oliveira Santos, ahi elle doutor Commissario
e Reitor declarou haver recebido uma Portaria do Conselho Superior de
Instrucção Publica de 27. de 7.bro de 1851. em q se lhe ordenava fizesse reunir em Conselho
os Professores do
Lyceo afim de se constituir definitivamente o m.mo Lyceo;
em virtude de q achando-se em Conselho os sobreditos se declarou constituido definitivam.e o dito Lyceo Nacional desta
Cidade, sendo elle Presidente considerado como Reitor do Lyceo, e eu
Professor de Rhetorica continuando a servir interinamente de Secretario do Lyceo na qualidade de Professor mais moderno do m.mo, e se determinou se fizesse isto público por Editaes.
E para constar, fis este Auto q vai ser assignado pelos
sobreditos Reitor e Professores depois de lido por mim. E eu
Manoel Joaquim d'Oliveira Santos Professor de Rhetorica servindo
interinamente de Secretario o escrevi e assigno. Dr. João de Moura
Coutinho, Reitor. Luiz Cypriano Coelho de Magalhães. Manoel Joaquim
d'Oliveira Santos.»
Em outra acta, datada do mesmo dia e assinada pelos mesmos, diz-se que
«se deliberou sobre a necessid.e de nomear um Thezoureiro q recebesse as
Propinas de matricula na conformidade do art. 67. do decreto de 20. de
7.bro de 1844. e concordou-se em q se nomeasse António da Silva Paiva,
Recebedor das Decimas neste Concelho de Aveiro, e q se officiasse ao
sobredito. E mais se deliberou se convinha attender a petição de
Fr. Miguel Joaq.m Ferr.ª Lopes, natural de Aveiro, q.to a dar-se-lhe uma
gratificação pelo serviço q como Porteiro ou Guarda do Lyceu havia
prestado em Julho último e continuaria a prestar enq.to não houvesse
estabelecim.to .proprio p.ª o m.mo Lyceo,
concordando os sobreditos Presid.e e Professores q era justo
dar-se-Ihe a sobredita gratificação».
O mesmo Conselho voltou a reunir em 13 de Novembro
daquele ano de 1851 e tomou as seguintes resoluções:
− «Que
pelo serviço q como Guarda o Porteiro do Lyceo havia
/
50 /
prestado em Julho ultimo e pelo q havia prestado em Outubro
e continuaria a prestar...» se daria a Fr. Miguel J. Ferreira Lopes «a gratificação de dous mil e quatro centos reis metal, e que
se passasse Mandado ao Thezoureiro do Lyceo p.ª o pagam.to da dita
quantia e igualm.e p.ª o pagam.to de quatro centos e oitenta
reis q elle sobredito Reitor havia abonado em dois Livros em
Julho um p.ª os Exames, e outro p.ª as deliberações do Conselho do Lyceo, e
p.ª o pagamento de seis centos reis q eu Secretario servindo interinamente havia abonado em tres Livros
p.ª as
matriculas de Grammatica Portugueza e Latina e Latinidade, de
Philosophia Racional e Moral, e de Rhetorica. E mais se deliberou q havendo alg.s Estudantes deixado de se matricular na
Aula de Grammatica por não se achar ainda em exercicio o
Professor despachado, que deveria faser-se no caso que elles o
requeressem quando entrasse em exercicio o m.mo Professor, e
se decidio pedir ao Conselho Superior de Instrucção Publica
auctorização para os matricular no sobredito caso».
Da leitura da acta seguinte, de 8 de Janeiro de 1852,
lavrada pelo professor de Gramática Portuguesa e Latina e Latinidade (1.ª e 2.ª cadeira)(7), que passou a exercer, interinamente, o cargo
de Secretário, conclui-se que as reuniões do Conselho já
se não faziam no Paço Episcopal e que, portanto, o Liceu fora instalado
noutra casa.
Na sessão do Conselho a que se refere essa acta «se decidiu, que se pagasse ao Dr. Joaquim Timotheu de Sousa d'a
Silveira a quantia de seis, mil dusentos e quarenta reis, por que
lhe tinha sido comprada a Cadeira, que serve na Aula d'as Cadeiras 1.ª e 2.ª: Que se comprassem os precisos utensilios para
a Secretario d'o mesmo, ficando d'isto encarregado o ultimo d'os
Professores, a sima nomeados, Secretario interino, como o mais
novo: Que se mandassem faser dose Bancos para as Aulas: Que
estas durarião; uma hora por dia, e de manham, as de Logica e
Rhetorica: e tres de manham e duas de tarde as d'as referidas
Cadeiras, 1.ª e 2.ª: Que ficava ratificado o contratto feito pelo
Reitor d'o aluguer d'as Casas, em que agora se acha estabelecido o Lyceu: Que se mándassem faser Cabides para, durante o
/ 51 /
tempo d'as Liçoens, os Alunnos n-elles terem os seus chapeus,
e finalmente, que em quanto não fosse provido o logar de Continuo d'o
Lyceu, se pagassem a Fr. Miguel Joaquim Lopes
novecentos e secenta reis mensais para faser o serviço d'aquelle».
Reconhecendo-se mal instalado o Liceu, logo em Outubro desse mesmo ano foi proposta pelo Reitor ao
Conselho «a mudança d'o Lyceu d'a casa, em que
attoalm.e se acha,
por não ter a capacid.e
precisa, para as de Francisco José de Pinho
Ravara, na Rua de Santta Catharina(8), que o mesmo Ravara arrenda por
cinco moedas; e decidido, que o Reitor fosse authorisado para
as arrendar, bem
como tambem para a compra d'os objettos, que forem precisos: o que pelo
ditto Reitor foi
tambem proposto; e são precisos já de promtto desoitto Bancos, para
cuja compra o referido Reitor ficou authorisado» (Acta
de 30 de Outubro de 1852). |
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Casa
onde funcionou o Liceu, sita na antiga rua de Santa Catarina |
Desde este dia até Outubro de 1854,
não se realizou
/ 52 / nenhuma reunião do Conselho. No entretanto, foi criada, por portaria de 26 de
Julho de 1853, a cadeira de Francês e Inglês e
mandada que fosse logo posta a concurso(9), de acordo
com as
disposições do art. 49.º do já citado decreto de 20 de Setembro de 1844(10).
Na sessão de 27 de Outubro, são dados como presentes,
além do Reitor, Dr. João de Moura Coutinho de Almeida de
Eça, os professores das cadeiras 1.ª e 2.ª, 4.ª, 5.ª e de Francês
e Inglês, mas a acta respectiva só a assinam o Reitor e o Secretário.
Em 20 de Novembro de 1854, como se vê da respectiva
acta, o corpo docente do Liceu era constituído pelos seguintes
professores: 1.ª e 2.ª cadeira, Germano António Ernesto de Pinho (secretário); 4.ª cadeira, o Reverendo
Padre Mestre Fr. João
José Marques da Silva Valente(11); 5.ª cadeira, Manuel Joaquim
de Oliveira Santos, que substituía o Reitor; Francês e Inglês, José Perry.
Faltava, portanto, prover as cadeiras 3.ª (Aritmética
e Geometria e Álgebra) e 6.ª (História, Cronologia e Geografia).
Na sessão deste dia, entre outras deliberações foi aprovada a
compra, mandada fazer pelo Reitor proprietário, dum selo para
o Liceu «pola quantia de quatro mil e oitocentos reis».
Em 30 de Novembro de 1854, sendo Reitor interino o
prof.
Oliveira Santos, decidiu o Conselho «que se procedesse á conféção d'um
regulamento para este Liceu, e, que d'isto se encarregasse o Professor d'as cadeiras
1.ª e 2.ª».
Na sessão de 15 de Fevereiro de 1855, resolveu o Conselho
«que se consentise, qe Loirenço Pinto viese resedir na parte d'a
caza d'o Liceu, qe está dezocupada e se lhe dezignou, com a condição de
dar a agua preciza, fazer a devida limpêza, e lavar
as casas uma vez por ano durante as ferias grandes, votando
contra o mesmo Reitor interino» (Oliveira Santos)
(12).
/
53 /
O Conselho do Liceu, reunido em 24 de Setembro do
mesmo ano de 1855, autorizou o Reitor interino (Germano Pinho) «a
conceder ao Professor d'Instrucção Primaria Antonio Marcellino de Sa o hir
occupar a parte deste Lyceo de que ainda se não carece no mez d'Outubro
para o m.mo Reitor ter occasião de se mudar durante as Ferias para a
casa onde actualmente habita o referido Marcellino».
Mas o fadário do Liceu continua. Da acta de 29 de
Setembro, portanto cinco dias depois, consta que «foi apresentada pelo
Reitor interino huma carta de Francisco José de Pinho Ravara dono da
casa onde presentemente se acha o Lyceo em que exige que a renda da casa seja elevada desde o 1.º de Novembro proximo
futuro a Quarenta mil reis annuais, reservando para
seu uso as Lojas e Quintal
− Sobre o que se deliberou que se acceitasse
com a condicção de que não fossem occupadas as lojas de forma que fosse perturbado o ensino publico. Tambem
se resolveo que se representaria a S M pelo Conselho Superior
pedindo providencias a respeito da escassez de meios em que
o Conselho do Lyceo se acha p.ª faser face as suas despesas d'expediente
visto que o aluguer da casa absorve a maior parte
da quantia de Cincoenta mil reis que são mandados pôr a disposição do Reitor do Lyceo para o expediente». O professor de
inglês e francês, José Perry, votou «contra o arrendamento nos termos
propostos até que o Conselho do Lyceo levasse a presença de S M a
difficuldade em que se achava por não ter casa
propria para as suas aulas, achando excessiva a renda e as condições
propostas».
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Sala
do Despacho, Sacristia e arrecadações da Ordem Terceira de S.
Francisco. |
Dentro de pouco, porém, o Liceu foi instalado em dependências do convento de Santo António, já depois de, como adiante se
verá, ter sido decretada a construção do edifício onde
hoje está funcionando. Na acta da sessão do Conselho de 29
de Setembro de 1856, enumeram-se com minúcia as obras de
adaptação mandadas executar no aludido Convento, para aí funcionar provisoriamente o Liceu. «Estando presentes»
− diz essa acta
− além
do Reitor interino Germano Pinho, «os professores João José Marques da
Silva Valente, de Filosofia moral e racional e Princípios de Direito Natural e José Perry de Francez e
/ 54 / Inglez foram tomadas as seguintes resoluções
− 1º
− Que em
virtude da Portaria do Menisterio do Reino de Setembro do corrente anno
se procedesse ás obras necessarias para provisoriamente se collocar no Edifício de S.to
Ann.º o Lyceo
− que são
− tapar de pedra e cal a porta a direita da entrada, fechar a
communicação que deita poa a Sacristea da Igreja de S.to Antonio com tapamento de taboado e(13) huma porta com duas chaves
e fechaduras differentes. Abrir huma coloaça (sic) na Casa do
Capitulo digo abrir a porta que deita p.ª casa do Capitulo e faser nesta casa huma coloaca pondo huma porta fechada à chave,
tapar digo fechar p.ª o lado de fora com travessas seguras
cravadas nas hombreiras p.ª o lado de fora a porta que deita p.ª o interior do Convento ao Sul do Claustro, faser huma Salla
que abranja todo o espaço comprehendido entre as quatro linhas
seguintes, huma tirada do fasqueado ao alto da escada de pedra
até a esquina da cella que faz face p.ª o corredor do lado do
Sul, outra desta esquina p.ª o nascente até a parede da varanda
do claustro, outra pararella (sic) a primeira, e outra pararella a
segunda pelo Sul da parede que faz face para a escada de pedra
− tapar o corredor do poente ao nascente com taboado aparelhado d'alto abaixo em barrotes cravados horisontalmente e
na parte onde passe huma linha norte sul tomada do primeiro
/ 55 /
degrau da escada de pedra
− guarnecendo o vão que fica no mesmo corredor
com cabides p.ª chapeus ate o numero de 60
− Communiçar (sic) entre si as
duas cellas a direito do corredor p.ª Sul
− tapar o locutorio com madeira
aparelhada e faser-Ihe huma porta com fechadura: Por vidros em todas as
janellas onde faltarem, as almofadas na janella da ultima cella p.ª o lado sul, a
caixa dos Caixilhos de huma janella que a não tem, pôr as chaves nas
portas que as não tiverem, tapar de pedra e cal em toda a espessura da
parede o vão que deita para a casa do Relogio na casa que deita duas
janellas para alameda e pôr na janella que desta mesma casa deita p.ª o
poente huma tranca de ferro
− devendo aquella dita salla dar-se toda a
claridade por meio de huma claraboia no centro e tres janellas envidraçadas de altura de tres palmos do pavimento
p.ª sima com caixilhos de
correr que serão pintados a branco assim como o forro da m.ª Salla cujas
paredes serão todas caiadas
− tudo bem feito e acabado
p.ª se dar pronto
no dia 4 de Novembro e que estas obras se dessem por arrematação a quem
por menos as fisesse, e que se fisesse por annuncio e Editaes publico a
sua arrematação p.ª o dia 12 do proximo futuro».
A última acta assinada pelo prof. Oliveira Santos
é a de 9 de Maio de
1856. Na de 27 de Outubro diz-se:
− «Que no caso que o professor de
Rhetorica não fosse á regencia da Cadeira por impedimento de saude a
fosse reger interinamente o Professor das cadeiras 1.ª e 2.ª e que nunca
quando se desse o caso de impedimento de algum Professor fosse convidado
algum estranho p.ª a regencia de suas Aulas sem primeiramente terem
sido consultados os Professores para se saber se algum a quer reger e só
depois das respostas negativas destes podia ter lugar o convite ou
aceitação de estranhos».
Na sessão de 20 de Junho de
1857, toma assento o novo Reitor Queiroz
(Francisco José de Oliveira Queiroz), que vem a exercer o cargo até
1861. Essa acta apenas está assinada pelo Reitor e pelo Secretário
(Germano). A acta seguinte, de 16 de Setembro do mesmo ano, está
assinada pelo Reitor e pelos professores João José Marques da Silva Valente e Germano
Pinho.
Na acta da sessão de 21 de Junho de 1858, são dados como presentes,
além
do Reitor, «os Professores d'as Cadeiras 1.ª e 2.ª, Jermano Ant. Ernesto
de Pinho, e d'as 3.ª e 4.ª Clemente Pereira Gomes de Carvalho», que pela
primeira vez figura.
À sessão de 2 de Novembro de 1858 esteve presente o
professor José Correia de Freitas Júnior, que regia as cadeiras
de francês e inglês.
/ 56 /
II
A construção do actual edifício do Liceu deve-se, como é geralmente
sabido, aos esforços de José Estêvão. «Na sessão (parlamentar) de 16 de
Julho de 1853 requereu ««primeiro para que o governo mandasse fazer a
planta e o orçamento de um edificio para estabelecer o lyceu do
distrito d'Aveiro, tendo por adjunto a bibliotheca publica, que estava
decretada para esta cabeça de districto, assim como para a de todos os
mais;
−
segundo, que se mandasse consultar as autoridades para verificar
se as ruinas da Albergaria de S. Braz eram o logar mais proprio para o
lyceu»»(14).
Do «Relatório apresentado pelo Governador Civil à Junta
Geral em sessão de 15 de Setembro de 1854» consta que «O Governo de S.
Magestade tem resolvido, a instancias de um digno Deputado da Nação,
filho d'esta Cidade, o Sr. José Estevam Coelho de Magalhães, mandar construir aqui um edificio para
estabelecimento do Lyceu Nacional, e da Bibliotheca Publica, cujo
orçamento, e planta, devidamente elaborada, já foram
enviados á competente Estação Superior»(15).
O local escolhido foi, efectivamente, o que José Estêvão sugerira.
Marques Gomes, a pág. 126-127 das suas «Memórias de
Aveiro», trata da história da Albergaria de S. Braz. A pág. 127,
escreve:
−
«Aveiro teve tambem a sua Albergaria, que se denominava de S.
Braz, e ocupava parte do local onde hoje (1875) está o lyceu. O seu
fundador foi Fernão Vaz de Agonide, contador-mor de D. Duarte e D. Afonso V; e por seu fallecimento
deixou testado que todos os seus bens fossem applicados para a
sustentação d'uma Albergaria, onde devia haver seis camas para
pernoitarem passageiros pobres, e a quem se dariam medicamentos e o mais
de que necessitassem, no caso de adoecerem».
Mas só em 1855 foi publicada a portaria que ordenava as obras de
construção. Dizia assim, textualmente:
«Sendo da maior necessidade que se construa, na Cidade de Aveiro, um edificio proprio para o estabelecimento do Lyceu Nacional, e da
Bibliotheca; e reconhecendo-se que o Projecto apresentado pelo Director
das Obras publicas d'aquelle Districto
satisfaz ao fim desejado; Ha por bem Sua Magestade El-Rei, Regente em
nome do Rei, Approvar o referido Projecto, e Ordenar que se proceda á
sua execução, adoptando-se a perspectiva
/ 57 / do desenho
n.º 1, e devendo a obra ser feita em harmonia
com o Orçamento datado de Julho ultimo, pelo qual é avaliada em
16.800$000 réis.
−
Sua Magestade determina,
outrosim, que o sobredito
Director haja de pôr em hasta publica o fornecimento de materiais e a
execução dos diversos trabalhos em que possa subdividir-se a construção
do edificio, devendo effectuar-se por administração sómente aquelIes
para que não haja arrematantes, que offereçam condições aceitaveis.
− Finalmente,
deverá o mencionado Director ficar na intelligencia de que, com o
intuito de attenuar a despesa orçada, e nos termos por elIe indicados,
foi authorizada, pelo Ministério do Reino, a demolição da parte da
antiga muralha da Cidade de Aveiro, contigua ao Paço do Bispo, a fim
de serem applicados á obra de que se trata a pedra e outros materiais
aproveitaveis, provenientes da demolição. Paço, em 5 de Março de
1855.
−
Antonio Maria Fontes Pereira de Meio»(16).
O Governador Civil desse tempo, Antero Albano da Silveira Pinto, no
Relatório que em 26 de Julho do mesmo ano apresentou à Junta Geral do
distrito, deixou escritas estas palavras, para nós preciosas:
−
«Para o Lyceu Nacional d'esta Cidade, que desde a sua inauguração em 1851 tem
andado por casas de renda, mal situadas, incommodas, e sem a sufficiente
capacidade, está designado um belIo local na praça do Municipio: para a
construção do respectivo edificio, em que tam bem se estabelecerá
a bibliotheca do Districto, acha-se prompta uma grande quantidade de
material(17), e votada a quantia de desesseis contos e oitocentos mil
reis.
−
É grande a importancia d'esta concessão, mas só se pode avaliar
devidamente depois de levada a effeito a projectada obra, para cujo
começo e activo andamento farei os meus esforços, como convém á mocidade
estudiosa d'esta cidade e Distrito»(18).
O definitivo alinhamento para as obras do Liceu foi dado pela Câmara
Municipal em sua sessão de 19 de Julho de 1855. A acta respectiva,
na parte que nos interessa, diz o seguinte:
−
«...presentes
o Prezidente, Fiscal e mais Vereadores...;
−
aqui compareceu Agostinho Lopes Pereira Nunes, Derector
/ 58 /
das obras publicas do Districto, dezendo, que tendo de se proceder
a abertura dos alicerces para o Lyceu, e que, tendo a
Camara de fazer o Theatro(19), e achando-se a praça Municipal
muito irregular, pedia que a Camara desse se acazo podia dar-lhe um novo alinhamento, em vista de que a mesma Camara
deceu á praça em vistoria, e vendo que o alinhamento vinha desde a esquina do muro de Manuel Ferreira Correia de Souza
em direcção á porta das cazas do irmão do Padre Manoel Joaquim e reconhecendo que sahindo o Lyceu n'aquelle alinhamento, ainda que o Theatro sahisse com a sua frontaria ao mesmo
alinhamento, ficavão as cazas de João Maria Regalla muito recolhidas para, dentro, e por conseguinte a praça mais irregular
ainda, e visto que as obras publicas não expropriavão a dita
caza, nem ella era incluida no Lyceu nem as obras publicas se obrigavão
a fazer a frontaria das ditas cazas no cazo de se lhe
dar o alinhamento aos dous sobreditos edeficios que elle dito
Director porpunha (sic), a Camara decedio que o Lyceu e Theatro fossem no mesmo alinhamehto que a caza
para o Theatro e
o antigo Hospital de São Bras (aonde se hade fazer o Theatro)
tinhão ja»(20).
As obras devem ter principiado imediatamente. Em Julho de 1856 escrevia
o governador civil Silveira Pinto, no seu Relatório anual à Junta Geral do Distrito:
−
«Pelo que toca ao Lyceu Nacional d'esta Cidade, vai bastantemente adiantada a
construcção do bello edificio, destinado para o seu estabelecimento, e
da bibliotheca publica.
−
O quadro das suas cadeiras
continúa incompleto, pela falta das cadeiras 3.ª e 6.ª, a qual é
na realidade muito sensivel á mocidade estudiosa. Providas ellas,
e concluida a obra do Lyceu, ficarão sufficientemente satisfeitas
as necessidades da instrucção secundaria d'esta cidade e Districto»(21).
A construção achava-se quase concluída em fins de 1859. O
Conselho Escolar do Liceu reuniu-se em 10 de Novembro desse
/ 59 / ano, para tratar do problema do mobiiiário para o novo Liceu. Transcrevamos a acta, que é um precioso documento histórico:
−
«Estando prezentes o Reitor e os Professores d'as Cadeiras
1.ª e 2.ª e d'a 3.ª e 4.ª se resolveu qe se reprezentasse a S.
Majestade sobre a nesesidade de se mobilar correspondentemente o novo Liseu, antes de la se comesarem os eizersisios literarios;
visto qe d'a mobilia qe prezentemente se axa no Convento
de Sant'Antonio, onde ora são as lisoins, e o mais serviso pertensente ao Liseu, nenhuma corresponde á grandeza d'o novo
edefisio, antes servirá, para d'algum modo o deturpar. Para
constar se escreveu este asento, qe asinárão o m.mo Reitor e
Profesores e escrevi eu Jermano Ernésto de Pinho, tambem secretario.−
Queiroz. Gomes de Carvalho. Jermano».
Em 26 de
Janeiro de 1860 assinava José Estêvão a seguinte
carta, dirigida ao reitor Francisco José de Oliveira Queiroz, a
qual alguma luz derrama sobre a conclusão das obras do Liceu:
−
«Queiroz
−
É indispensavel que quanto antes, e mesmo sem
estar de posse do lyceu
−
mas alegando que estão proximos a
entrar, é indispensavel digo que requisites pelo Ministerio do
Reino
−
1.º As estantes e mais mobília necessaria para a libraria
−
2.º A construção de anfeteatros volantes para as casas
d'aula que não devem ser mais de trez
−
3.º Alguma pequena
soma que se mande doar ao corpo cathedratico do lyceu ou ao
seu Reitor, para compra de mobilia miuda. Esta requisição deve
ser feita quanto antes e remetida ao Ministerio do Reino.
−
Não
peção muito para a mobília miuda
−
trezentos mil reis será demais
−
e cuidado em os empregar com juizo.
−
Logo que o lyceu
estiver prompto, mettão-se de dentro, e dá parte d'assim o teres
feito ou estão em vespora de o fazer. Amigo José Estevão(22).
Sobre o liceu escreveu Marques Gomes em 1875:
−
«O edificio é sem duvida, n'este genero, o primeiro de
Portugal. A
construção interna e externa é elegante. As tres portas ogivaes
da entrada, no alto da escadaria exterior correspondem outras
tantas no fundo do atrio, comunicando a do centro para o interior do pavimento e as lateraes para as escadarias que vão ao
patamar, do meio do qual arranca, em sentido inverso, e alumiada por uma janela ogival, e antigamente por uma claraboia,
em forma de zimborio, a escada que dá acesso para o segundo
pavimento, occupado pelas aulas, gabinete onde se acham as
vitrines, que contem instrumentos de physica, mineralogia, ornitologia, etc, sala de espera e bibliotheca... Nas aulas, os logares
para os alumnos, formam em frente da cadeira do
professor, um
amphytheatro de cadeiras de braços em semi-circulo»(23).
A verba total despendida na construção parece ter sido 27
contos
/
60 / contos de reis(24), 'bastante mais do que a primitivamente orçamentada.
A respeito da inauguração do edifício são absolutamente mudas as actas
das sessões do Conselho. Dois escritores aveirenses, Marques Gomes e
Rangel de Quadros, indicam como
dia do início das aulas o dia 15 de Fevereiro de 1860(24). O primeiro diz simplesmente: «Foi
inaugurado em 15 de Fevereiro
de 1860». O segundo adianta um pouco mais: «O edifício do
Lyceu Nacional de Aveiro foi aberto em 15 de Fevereiro de 1860, havendo então algumas demonstrações de regosijo. Era reitor
Francisco José de Oliveira Queiroz, nascido a 28 de Dezembro de 1804, em Aveiro. Era medico»(25).
A primeira acta de 1860, redigida no novo edifício, é de 20
de Julho.
Como em 10 de Abril desse ano fora decretada nova organização dos liceus(26), reúne naquele dia o Conselho de professores, estando presentes o
Reitor e professores das cadeiras 1.ª e 2.ª, 3.ª e 4.ª, e 5.ª e 6.ª,
«para o fim de se aplicar a este Liseu o artigo quarto d'o Regulamento
d'os Liseus Nasionais de 10 d'Abril ultimo na forma d'o oficio, d'onze
d'o dito mez»(27).
Na sessão de 10 de Outubro desse mesmo ano de 1860, em que toma assento
um novo professor, João José Pereira de Sousa e Sá, entre outros
assuntos, resolve-se: «Qe os Virjilios para eizames sejam os da edisão de Minelio anotados; Qe se
uzem no insino de Fransês as Seletas grandes de Roquete; Qe as pequenas
do mesmo Roquete i Verjilios parafrazeados se vendão para compra d'os
Verjilios de Minelio, i d'as Seletas grandes; Qe se substituão tambem os
atuais mapas por outros de Willemain».
Na sessão do Conselho, reunido para aprovação de contas, de 10 de Julho
de 1862, figura o nome do novo reitor, Manuel Gonçalves de Figueiredo, e
o dum novo professor, Bernardo
Xavier de Magalhães.
É de notar que, tendo José Estêvão falecido em 2 de Novembro
de 1862,
em nenhuma acta haja qualquer referência a esse acontecimento.
/
61
/
Em reunião de 8 de Outubro de 1863, delibera-se «qe a Biblioteca
esteja aberta d'uma ás quatro oras d'a tarde todos os dias létivos: e
d'as nove ao meio dia e d'as duas ás quatro em
todas as quintas feiras».
Depois do incêndio ocorrido em 20 de Junho de 1864, no edifício do Paço
Episcopal, as repartições do Governo Civil e Fazenda, que nele se
achavam instaladas, passaram para o primeiro pavimento do edifício do
Liceu, onde hoje estão: à esquerda, os gabinetes dos serviços da
Secretaria, a Reitoria, a sala de espera dos professores e uma sala de
aula; à direita, a sala de Desenho e duas salas de aula.
A última acta
das sessões do Conselho, contida no livro 2.º
de actas, é de 8 de Julho de 1865.
À sessão de 19 de Agosto de 1865, primeira
registada no livro 2.º de
actas, esteve presente, pela primeira vez, o novo
professor Elias Fernandes Pereira(28), despachado para a Cadeira de Matemática Elementar e Introdução à História Natural dos três
Reinos, por decreto de 18 de Julho dês se ano.
As actas das sessões até Julho de 1866 nenhum interesse oferecem à
história do Liceu, segundo a orientação dada a este trabalho. Na acta
da sessão de 10 daquele mês, lê-se:
−
«Mais se rezolveu, que a limpeza d'o
Liseu se faça d'o melhor modo possivel, conservando-o sempre em todo o aseio, barrendo-se (sic) impreterivelmente duas vezes por semana, e alem
d'estas as mais, que o aseio assim o exija: que o Reitor fique
autorizado para gastar com esta limpeza mais do que até qui se tem
dispendido, se assim o intender; e que toda aquela ves, que a limpeza
não for devidamente feita, perderá a pessoa, d'ela encarregada, o
vencimento correspondente ao mes em que assim aconteser.»
Em 21 de Outubro de 1866, inaugurou-se no Liceu o retrato
de José Estêvão, «primeiro monumento levantado á memoria do
grande tribuno», no dizer de Marques Gomes. Nenhuma acta se refere a
esse acontecimento; mas na Reitoria do Liceu existe, encaixilhado, o Auto da inauguração, que aqui se transcreve na
íntegra:
−
«Auto da inauguração do retrato de José Estevão Coelho de
Magalhães, que os estudantes da Cidade de Aveiro mandaram colocar na Bibliotheca do lyceu Nacional da mesma Cidade: Anno do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos sessenta e
seis, aos vinte e um dias do mez de Outubro do dito anno, nesta Cidade
de Aveiro e sala da Bibliotheca do Lyceu Nacional da mesma cidade, onde
se havião dignado comparecer o Excellentissimo Reitor do Lyceu,
Presidente honorário
/
62 / da Commissão encarregada da colocação do retrato que
em testemunho de gratidão e respeito á memoria de José Estêvão Coelho de Magalhães os estudantes da mesma cidade mandaram alli colocar e estando igualmente presentes os dois filhos menores
do grande Orador e os Excellentissimos Vigario Geral,
Professores do lyceu e Seminario, Governador Civil, Juiz de
Direito, Delegado do Procurador Regio d'esta Comarca, Delegado do Thesouro, Administrador do Concelho e a Commissão
encarregada da dita collocação, bem como todos os mais estudantes que para ella concorreram, seguindo-se um grande concurso de pessoas de ambos os sexos que, tanto da cidade como
de fora d'ella vieram assistir a esta festa; achando-se a salla
adornada convenientemente com tropheos e escudos em que se
lião datas commemorativas dos epizodios mais notaveis da vida de José Estevão, tomou a palavra o Excellentissimo Presidente honorario da
Commissão, depois de ter descoberto o retrato.
Então no Largo Municipal, que se achava decorado com mastros,
/
63 / bandeiras e
flores e onde fazia guarda de honra o Destacamento da guarnição d'esta Cidade, tocaram as cinco bandas
de musica, Vista Alegre, Amizade, Vagos, a Velha de Agueda e Aveirense
o hymno dos estudantes do lyceu, subindo ao ar muitas girandolas de
foguetes. Em seguida, pediram e obtiveram
a palavra dous membros da Commissão, que falaram por parte dos
estudantes á maneira que esta lhe era concedida; subindo tambem á
tribuna muitas outras pessoas que quizerão prestar homenagem á memoria
d'aquelle propugnador das liberdades pátrias, e entre estes alguns
academicos de Coimbra, que expressamente vieram para assistir a esta solemnidade, findo o que eu, primeiro Secretario da Commissão li este auto, que assignei com
as pessoas acima nomeadas. Francisco Augusto da Fonseca
Regalla
− Manoel Gonsalves de Figueiredo, Reitor do Lyceu
−
José Antonio Pereira Bilhano, Vigario Geral do Bispado
− O
Bacharel Clemente Pereira Gomes de Carvalho, Professor do Lyceu
−
O
Bacharel João Pereira de Sousa e Sá, Professor do Lyceu
−
Bernardo Xavier
de Magalhães, Professor do Lyceu
−
O Medico Cirurgião
Elias Fernandes
Pereira, Professor do Lyceu
−
João da Maia Romão
−
O Prior João José
Marques da Silva Valente, Professor do Seminario
−
O Bacharel Joaquim
Rodrigues Esgueira, Professor do Seminario
−
O Bacharel Calisto Simões da
Costa, Professor do Seminario
−
O Prior Francisco de Souza Janeiro,
Professor do Seminario
−
O Cónego José Joaquim de Carvalho e Góes, Professor do Seminario
−
João
Silverio d'Amorim da Guerra Quaresma
−
Francisco
Thomé Marques Gomes, Juiz de Direito 1.º substituto
−
Miguel Teixeira Pinto,
Delegado do P. R
−
Jovenio Pedroso d'Oliveira,
Delegado do Thesouro
−
Francisco Antonio do Valle
Guim.s, Administrador do Concelho
substituto
−
Alumnos do Lyceu e Seminario: José Gomes d'Andrade,
Presidente da Commissão −
Albino Ferreira Antunes Coelho, Thesoureiro da
Commissão −
Francisco Augusto dá Fonseca Regalla,
1º Secretario −
Francisco
Victorino Barboza de Magalhães, 2.º Secretário −
Patricio Theodoro Alvares
Ferreira, Vogal −
Antonio José Lopes Junior, Vogal −
Sebastião Simoens
Pereira, Vogal −
Augusto da Silva San
Thiago, vogal −
João Domingues Louro, vogal −
Jorge Faria de Mello, José Rodrigues Ponte Junior; José Maria
Barbosa de Magalhães, alumno do Lyceu; Gustavo Rodolpho de Souza, João
Pedro Ferreira, Francisco Nicolau de Figueiredo Vieira, Manoel José dos
Santos Pereira, Francisco Augusto Regalla, Antonio Carlos da Silva Mello
Guimarães, Carlos da Silva Mello Guimarães, Avelino Dias de Fig.do, José
Ribeiro Valente, José Maria Coelho, José Reynaldo Rangel de Quadros
Oudinot, Domingos José Lopes da Silva Tavares, Augusto d'Oliveira,
Evangelista de Moraes, José Alexandrino de Lima e Mello, Antonio Gomes
dos Santos, Accacio Joaquim d'Oliveira Coelho, Bernardino Simões da
Conceição, Manuel Vieira de Carvalho, José Thomaz
/
64 /
da Fonseca, João Dias d'Aguiar, José Joaquim Marques Ferreira
de VasconcelIos, José da Rocha Martins Junior, João Augusto
Marques Gomes, Claudino Dom.es Graça, Luiz da Silva MelIo
Guimarães, João d'Oliveira Junior, João Pedro d'Almeida, José
Rodrigues Soares, Manoel Roiz Simões, Manoel Alvaro dos Reis e Lima, Francisco Antonio de Moura, Manoel Soares Coelho, Antonio Joaquim de Mattos, Thomaz Ferreira Gomes de
Pinho, Francisco de Pinho Guedes Pinto, João Vieira, Manoel
Maria de MelIo e Freitas, Joaquim Maria de Mello e Freitas,
José Dias Ferreira, Serafim Martins, Manoel Simões Junior,
Francisco da Costa Junior, João Antonio Lopes, Joaquim Tavares
d'Oliveira Coutinho, Antonio Correa d'Abrantes Junior,
Antonio Dias Ferreira, Amandio Ferreira Pinto de Souza, João
Pedro Nolasco, Francisco da Silva MelIo Guim.es, Joaquim Antonio Fernandes, Joaquim José da Costa, João da Conceição Barreto,
Antonio Maria Mendes Corrêa, ManoeI Rodrigues Pereira de Carvalho, Antonio Dias dos Santos, José Soares Marques, Manoel Ferreira de Carvalho, José da Maya Romão, Constantino Lopes Ferreira e Veiga, Manoel Caetano
Aff.º Tavares de S.za,
Lourenço José Tavares e Castro, Antonio da Silva Teixeira Neves, Venancio Correa de Sá e MelIo, Guilherme Xavier
Pereira Simões, José Agostinho da Silva Nunes, João José dos
Santos, José Tavares da Silva Borges, Manoel Rodrigues de
Sá, Adelino d'Araujo Coelho e Veiga, José Maria dos Santos
Neves».
O retrato é obra do pintor lisbonense José Maria Sales.
Marques Gomes, nos seus «Apontamentos para a biografia de
José Estêvão», afirma que as pessoas que falaram no acto da
inauguração foram, além do Reitor do Liceu, Elias Fernandes
Pereira, Albino Coelho, Jacinto Freitas Oliveira
(29), Agostinho
Pinheiro, António Marques dos Santos, António José de Oliveira Mourão e Luiz Casimiro Feio, e que recitaram poesias
Fernando Caldeira e José Maria Barbosa de Magalhães. |
|
Retrato de José Estêvão, existente na biblioteca do actual Liceu. |
JOSÉ PEREIRA TAVARES
Continua na pág. 137
−
►►►
|
(1) − O primeiro resumo da
História do Liceu de Aveiro fizemo-lo no dia 15 de Fevereiro de 1935,
em palestra pública, por ocasião da festa escolar comemorativa do 75.º
aniversário da inauguração do edifício onde hoje funcionam as aulas.
Essa palestra foi publicada na revista "Labor", ano IX, pág.
504-516. Dela se fez separata.
(2)
− Rezava assim o art. 40.º: − «Em cada uma das capitais dos distritos
administrativos do continente do Reino e do Ultramar, haverá um Liceu
que será denominado Liceu Nacional de .........
(3)
− Dizia o seguinte: − «Haverá um Liceu em cada uma das capitais dos
Distritos Administrativos e Dioceses do Reino.» − O art. 47.º
estabelecia: «O Curso dos Liceus compreenderá em todos, as seguintes
disciplinas e cadeiras: 1.ª − Gramática Portuguesa e Latina; 2.ª −
Latinidade; 3.º − Aritmética e Geometria com aplicações às Artes e
primeiras noções de Álgebra; 4.º − Filosofia Racional e Moral e
Princípios de Direito Natural; 5.ª − Oratória, Poética e Literatura
Clássica, especialmente a Portuguesa; 6.ª − História, Cronologia e
Geografia, especialmente a Comercial». − O art.º 57.º determinava:− «Em
todos os Liceus, à excepção dos de Lisboa, Coimbra, Porto, Braga e
Évora, as cadeiras mencionadas no art. 47.º serão regidas por três
professores, competindo a um a 1.ª e 2.ª; a outro a 3.ª e 4:ª; e
finalmente a outro a 5.ª e 6.ª. Os dois últimos ensinarão as respectivas
disciplinas em curso bienal».
(4) −
Pai de José Estêvão, falecido em 27 de Março de
1856.
(5) −
Art. 78.º do decreto de 20 de Setembro de 1844:
−
«A reunião dos
professores, assim proprietários como substitutos, presidida pelo
Reitor,
constitui o Conselho dos Liceus.
§ 3.º
−
Os Comissários dos Estudos, quando os houver, serão os Reitores dos Liceus.
§ 3.º
−
Na falta de Comissários dos Estudos, será Reitor um dos
professores do Liceu, nomeado pelo Governo, com a gratificação anual de
50000 réis. Enquanto não baixar a nomeação régia, ou achando-se
impedido o Reitor nomeado, servirá o mais antigo dos professores
presentes.
(6) − Eis uma das suas determinações: − «Para poderem ser
competentemente admitidos às duas sagradas ordens de subdiácono e
Diácono, deverão os pretendentes, qualquer que seja a diocese a que
pertençam, instruir seus requerimentos, não somente com os documentos
até agora exigidos, mas também com certidão de aprovação passada pelos
professores do respectivo Liceu, nos estudos reparatórios de Gramática e
Língua Latina; de Retórica e Filosofia Raciona e Moral, embora não
tenham estudado estas disciplinas nas aulas do Liceu».
(7) − Germano António Ernesto de Pinho. Era grande latinista, e foi
partidário duma ortografia simplificada, preconizada por Castilho ao
apresentar o seu Método de Leitura Repentina (1850), As actas
redigidas por esse professor mostram bem a evolução por que passou a sua
grafia, que por último era sónica. Dele se contam muitas anedotas que,
juntamente com o que da sua vida se pudesse apurar, daria uma curiosa
monografia, Nesta primeira fase do Liceu foi o Germano, sem dúvida, a
mais típica figura de professor do Liceu de Aveiro − A legenda latina
existente na fonte da Vera-Cruz, na face do lado da actual Pensão
Aveirense, foi redigida por ele. Diz o seguinte: − «Quam vobis. fundo /
subfus ferram induci / Averiensis Senafus jussit / ut puram copiosam /
et aestivo tempore frigidam / bibatis . / Curavit ingeniarius / Antonius
Ferreira d'Araujo e Silva / Anno Christi MDCCCLXXIlI. − Este professor
faleceu em Maio de 1876.
(8)−
Esta casa pertence hoje ao
Sr. António Souto Ratola, que a comprou aos herdeiros de Francisco
Augusto da Fonseca Regala. Rangel de Quadros, na sua colaboração nos «Subsídios
para a História de Aveiro», de Marques Gomes (pág. 262 a 342),
escreveu a respeito da mesma: − «Pertencera a Francisco de Pinho Ravara,
último escrivão da Provedoria e avô paterno de Arthur Ravara. − Alugado
pelo governo, serviu este predio para Lyceu Nacional... até áquelle
mesmo anno de 1857. AIIi fiz exame de instrução primaria e comecei a
frequentar as aulas de Grammatica portugueza e latina» (pág. 309).
(9) −
Legislação Portuguesa, 1853, pág. 206.
(10) − Segundo ele, o Governo poderia, quando o julgasse conveniente,
estabelecer nos Liceus das Capitais de Distrito, as seguintes cadeiras:
a) − Introdução à História natural dos três Reinos, com as suas mais
usuais aplicações à Indústria, e Noções Gerais da Física; b) − Economia
Industrial e Escrituração; c) − Química aplicada às Artes; d) −
Agricultura e Economia Rural; e) − Mecânica Industrial; f) − Línguas
francesa e inglesa; g) − Música.
(11)
−
À margem direita da acta da sessão deste dia, acha-se a seguinte nota
posterior, do punho do prof. e secretário Germano Pinho: − «Comessou o
exercicio d'a cadeira de Logica por impedimento de Luiz Cipriano Coelho
de Magalhães, professor d'eIla, o P.e Me
Passante, João Jozé M.el d'a S.ª Valente em 2 de
Dezembro de 1853, e rejeu-a m.to dignamente até 15
d'Abril de 1858, em qe tomou posse o actual, Clemente Pereira Gomes de
Carvalho.
(12) − Por ser
curioso, diremos que na sessão deste dia e nas dos dias 28 de Fevereiro
e 30 de Março se tratou também da adopção, ou não adopção, no Liceu, da
ortografia de Castilho. A sugestão foi por certo do prof. Germano Pinho.
Transcreve-se o que ao assunto diz respeito: Sessão de 15 de
Fevereiro − «Qe fiqe adiada para a primeira sessão a proposta d'o
Reitor interino=se deveria ou não adotar-se, digo, se é ou não
conveniente adotar-se ja no ensino d'o Liceu, digo no ensino d'as aulas
d'o Liceu a ortografia adotada por Castilho no seu metodo xamado de
leitura repentina, ensinando-a o respetivo Professor a seus discipulos e
obrigando-os a uzarem d'éla. − Sessão de 28 de Fevereiro −
«...foi decidido que se consultasse o Conselho Superior d'lnstrução
publica sobre se é, ou não, conveniente, que se adóte já a ortografia de
Castilho, e mais se decediu tambem, que em quanto o mesmo Conselho
Superior não decedir não se adóte n-este Liceu». − Sessão de 30 de
Março − «...foi aprezentado pelo d.º Reitor interino o Oficio do
Conselho superior d'lnstrução publica, d'a segunda secção, n.º 48, cujo
objeto é=Que os alunos d'este estabelecimento não podem ser obrigados a
seguir e uzar nas aulas uma ortografia eisclusiva e não autorizada».
Assim falhou a tentativa.
(13) −
Deve faltar
aqui a palavra abrir.
(14) −
Marques Gomes, «Memórias de Aveiro», pág. 201.
(15) −
Pág. 4.
(16) −
Legislação Portuguesa, 1855, pág. 40.
(17)
− RANGEL DE QUADROS, in «Subsídios para a História de Aveiro», de
MARQUES GOMES, esclarece: − «Em 1855 era a parte maior das muralhas, que
restava intacta e que poderia ainda arrostar por uma longa serie de
annos a furia dos tempos. − Em 26 de Março do mesmo anno começou a
demolição de tudo isso, desde a parte do nascente até á parte mais alta
do Paço Episcopal... Em 12 de Maio já alli não havia mais que um montão
de materiais. Estes, como todos os outros, foram levados para o Largo da
Cadeia (Praça Municipal) e depois empregados na construcção do Lyceu»
(pág. 280). − «Em 1856 ainda, dos alicerces das muralhas das Portas da
Ribeira e edificios annexos, se tirou muita pedra, que foi applicada á
obra do Lyceu, que então se estava construindo» (pág. 283).
(18) −
ReI. cit., Coimbra, lmp. da Univ.,
1855, pág. 9-10.
(19)
− MARQUES GOMES, a pág. 163 das «Memorias de Aveiro», publicadas em
1875, lamenta que Aveiro não possua um teatro decente e informa que o
aveirense Bento de Magalhães, quando presidente da Câmara, apresentara
um projecto para a construção do teatro, o qual tinha merecido a
aprovação dos vereadores. E continua: −«Abriram-se os alicerces;
lançaram-se as primeiras pedras com indescriptivel enthusiasmo; subiram
as paredes a uma certa altura, muitos filhos de Aveiro alli foram pagar
o obulo do trabalho, em quanto que outros concorreram com quantias
concernentes aos seus haveres. Mas Bento de Magalhães morreu,
legando-nos como recordação da sua honrosa e grande iniciativa essas
paredes nuas, esse montão de ruinas, habitação de bichos, monturo de
silvados, que ahi desafiam o escarneo do viandante no centro da cidade −
contigua á obra monumental de José Estevão − o Lyceu.»
O actual Teatro, construído no local primitivamente marcado, foi
inaugurado em 1880.
(20) −
Livro das
Actas respectivo, pág. 224-224 v.
(21) −
ReI. cit., Coimbra, lmpr. Univ.,
1857, pág. 6.
(22) −
Esta carta,
foi-nos emprestada para cópia pelo Ex.mo Sr. Dr. Luís
Pereira do Vale Júnior, seu actual possuidor.
(23) −
«Mem. de
Aveiro», pág. 128.
(24) −
Id., pág. 127.
(25) −
Aveirenses notáveis», voI.
II.
(26)
− O Art.º 2.º rezava assim: «O Curso geral dos Lyceus comprehende as
seguintes disciplinas: 1.ª − Grammatica portugueza; 2.ª − Grammatica
latina e latinidade; 3.ª − Lingua franceza; 4.ª − Lingua ingleza; 5.ª −
Mathematica elementar, comprehendendo a arithmetica, a algebra até ás
equações do segundo grau a uma incognita, a geometria synthetica, os
principios da trigonometria plana-geographia mathematica; 6.ª − Chimica
e physica elementares − introdução á historia natural dos tres reinos;
7.ª − Philosophia racional e moral e principios de direito natural; 8.ª
− Oratoria, poetica e literatura, especialmente a portugueza; 9.ª −
Historia, Chronologia e geographia; 10.ª − Desenho linear».
(27) −
Determinava-se
que o Regulamento dos liceus começasse a ter execução no começo do ano
lectivo de 1860-1861.
(28)
− Nasceu em Aveiro em 17 de Março de 1840 e faleceu na.mesma cidade no
dia 5 de Abril de 1926. Foi professor do Liceu de Aveiro desde Julho de
1865 a Março de 1921, e secretário desde 11 de Dezembro de 1889 até 12
de Outubro de 1920.
(29) − Jacinto
Augusto de Freitas Oliveira, formado em matemática, autor de «José
Estêvão, esboço histórico», Lisboa, 1863, − que dedicou à viúva do
Orador, D. Rita de Miranda Coelho de Magalhães.
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