O grupo de valiosíssimas
amizades e dedicações que à volta do Arquivo do Distrito de Aveiro
felizmente se vai formando, e que pelas nossas páginas tem ficado
registado, dá-nos a consoladora
certeza de que nos não faltará o indispensável apoio por parte dos
investigadores do distrito e que o nosso programa de larga publicação
documental poderá vir a ser uma sólida e útil realidade.
O Rev.º Sr. P.e Miguel de Oliveira, distintíssimo redactor do diário
«Novidades» onde a nossa revista encontrou proveitoso comentário e
carinhoso acolhimento, teve também a gentileza de nos oferecer
−
enquanto
as suas ocupações lhe não permitem enviar-nos colaboração de maior
tomo
−
cópias de alguns documentos que à nossa região dizem respeito.
Sua Reverência
−
natural de Válega, concelho de Ovar
−
conhece não só de
observação directa o nosso distrito, mas
sabe, por experiência pessoal de erudito investigador que é, o lugar
onde nos Arquivos e Bibliotecas se guarda a documentação ilustradora da
nossa história.
A carta de privilégios que a seguir publicamos, muito semelhante à que o
mesmo D. Pedro concedeu em 1361 à barca do mosteiro de Arouca que fazia
serviço em Lisboa, trazida a público pelo Sr. AIRES DE SÁ no voI. II de
Frei Gonçalo Velho, a pág. 544, e extraída da Chancelaria daquele
monarca, liv.º 1.º, fI. 67 v., é um interessante documento que o Arquivo
reconhecidamente agradece e que muito valorisa as suas páginas.
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PRIUILLEGIOS DO BARQUEIRO DESGUEYRA
Dom pedro etc A uos Jurge martinz meu anadal vintaneyro moor dos homens
do mar e a todollos outros que depos uos
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vierem e a todollos outros alcaides e justiças dos homens do mar que
esta carta virdes saude sabede que o concelho e homens bõos desgueira me
disserom que em termo do dito logo auia huum Rio que chamam Cacia em
que andaua barca de
passagem. E que ante da outra pestillencia auia hi barqueiros
que mantijnham a dicta barca e que se morrerom todos na dicta
pestilencia E ficou a dicta barca desemparada per guisa que nenhuum
nom podia passar per o dito logo E que Joham alho
seendo corregedor por mjm na dicta comarca chegara ao dicto
logo e que lhe fora dicto como o dicto lugar era maao e nom podiam per
hi passar per mjnguoa de Barca que hi nom auia E que o dicto corregedor
veendo o que lhe era dicto e olhando dello por meu seruiço e pelo do
dicto logo que mandara ao dicto concelho que pusessem hi hüa barca pera
passar a companha E
que a dicta barca estaua posta no dicto porto e que nom podiam auer
barqueiro nehuum que em ella quisesse andar porque os constrangiam pera
hir com galees E per minguoa de barqueiro a dicta barca nom passaua E
que se perdia hi muita companha E que ja este anno hi morreram quatro
homens dos bõos que auia em aueiro E diziam que auia hi aIguns
barqueiros que seruiriam a dicta barca e passariam a companha se fossem scusados de hir em galees E pedirom me sobre ello mercee E eu veendo o
que me pediam e querendo lhes fazer graça e mercee tenho por bem que
huum homem que conthinuadamente andar na dicta barca e passe as
companhas que hi passarem que seia scusado de hir em frota nem em
armada nehuma que eu mande fazer E mando a uos que o nom constrangades que
uaa em gallee nem em frota em quanto el seruir
a dicta barca de passagem como deue unde aI nom façades E o concelho
desesgueira tenha esta carta dante em aueiro Xb
dias dabril elrrey o mandou per lourenço gonsalves seu uassallo e corregedor por elle na sua corte P.o afonso a fez era de mil
IIII.c e huum annos.
Chancelaria de D. Pedro I.º - Liv. I, fI. IlI.
NOTA
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A «pestilência» a que se refere este documento deve ter sido a peste do ano de 1348 que fez muitos estragos nesta
região. Alude a ela um documento de Grijó relativo aos gados que o
Mosteiro costumava trazer na Gelfa (ano de 1355). Marcou uma época na
vida regional o. «tempo da pestelensa.»
P.e MIGUEL DE OLIVEIRA
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