Beja e os seus monumentos históricos

Dominando as vastas planícies do Baixo Alentejo, a antiga Pax Julia dos Romanos, o importante povoado moirisco, a ainda notável cidade da Renascença, mal pode hoje adivinhar-se e evocar-se, depois das destruições do tempo e dos homens. O século XIX foi fatídico para ela.

O Arco, chamado, de Évora, os restos de um aqueduto subterrâneo, alguns troços de arquitectura, embebidos nas muralhas, ocultos quase nos templos como em Santo Amaro, e guardados no museu, foi o que se salvou dos vários cataclismos, desse antigo Convento Jurídico dos romanos.

Do domínio dos moiros nada de construtivo subsistiu. Do gótico, da Renascença e do Barroco é que ainda resta alguma coisa, ressaltando-se as obras setecentistas.

Percorrendo a cidade, um e outro pormenor fala-nos ainda dos tempos áureos de Beja, quando os seus duques a enchiam de dádivas e a engrandeciam, mormente o Infante D. Fernando e a Duquesa D. Brites.

Portas de ogiva, um arco manuelino e uma fachada nobre setecentista, na Rua do Esquível, uma notável rótula balanceada na travessa do UImo, e os prospectos dos seus templos e conventos, são os elementos atractivos da fisionomia da velhíssima povoação que foi sede do um dos bispados góticos, sem falar no seu Castelo que se reconstruiu sobre / 271 / restos romanos, várias vezes reconstruído e destruído, na sua afadigada vida histórica. Repare-se na porta ogival de acesso, depois na imponência da alta torre, erguida por D. Dinis, ao mesmo tempo robusta e airosa, com as suas janelas geminadas, ogivais, a sua tribuna envolvente, sobre cachorros e os seus merlões chanfrados e desafiantes. Subam-se os seus 118 degraus, corram-se as suas três salas abobadadas, a primeira com trompas de ângulo alveoladas, à maneira moirisca, e a chegar ao terraço que a cobre, deparar-se-á ao visitante um dos grandes panoramas alentejanos, dominando-se a cidade, e a vasta campina onde se evocam as cavalgadas do Lidador. Não esquecer de olhar a Porta de Évora, ruína veneranda dos tempos de Pax Julia.

O Convento da Conceição é uma das notáveis clausuras do Sul do país, notável pela sua riqueza de alfaias, paramentos e outros objectos de culto. Fundado no século XV, pelos Duques de Beja (D. Fernando e D. Brites), junto ao antigo Palácio dos Infantes, hoje desaparecido, está a ele ligado o romance amoroso de Mariana Alcoforado.

Outros templos da cidade merecem uma visita.

Santa Maria, reconstrução do século XV, de que resta o nartex e a abside, é do tipo gótico de S. Brás de Évora. Tem três naves de colunas toscanas. Boa talha barroca nos altares.

A misericórdia, tem uma fachada rústica original. Interiormente lembra uma mesquita. Primitivamente destinara-a para albergue, o Infante D. Luís, seu fundador. S. Tiago, com as suas três naves, colunas dóricas e abóbada de aresta, vale que se veja.

Santo Amaro (antiga paróquia), denunciando um velho monumento romântico (raro no Sul), com as suas três naves atarracadas, e arcos redondos em quatro tramos, capitéis rudes, e dois curiosas edículos / 272 / ogivais, lembra o tipo basilical.

Santo André (ermida), da feição de S. Brás de Évora, de botaréus cilíndricos acoruchados e ameias chanfradas, é reconstrução do século XV de um templo bem mais antigo.

O Pé da Cruz, com boa talha e belos azulejos, já existia no fim do século XV.

O Hospital Civil, edifício desta mesma época, é um repositório notável de velhas arquitecturas-pátios claustrais, de abóbadas de nervuras com fechos estrelados, arcos de ogiva, botaréus revestidos de azulejos nas coberturas, janelas de recorte manuelino, uma outra abóbada de cruzada numa das enfermarias.

No Governo Civil (antigo Paço Episcopal), existe uma valiosa colecção de retratos e outros quadros conventuais, alguns em tábua, quinhentistas.

Em Beja, o Museu é um dos maiores atractivos. A sua riqueza em espécies romanas é
notável (lápides, sepulturas, troços de arquitectura, etc.).

Junto aos restos do antigo Aqueduto Romano, fica o Jardim Público.

O aro de Beja, apesar da sua secura de arborização, toda de longas searas a perder de vista, tem uma certa grandeza, talvez por isso mesmo, e nele existem algumas povoações que podem ser alvo de excursões de turismo.

 

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