Dizia um livro antigo que
Valhelhas foi um dia atingida por uma epidemia de cólera que,
tratada só com vinagre, deu como resultado a queda brutal da sua
população. Esta logo foi substituída por outra proveniente de outras
regiões próximas como o comprovam os nomes de família que fazem
lembrar os do Sabugal.
Terra de pergaminhos, tinha
famílias aristocráticas como os Dá Mesquita e os Castros, em que
José de Castro foi seu benfeitor, trazendo para a terra a energia
eléctrica que a população recusou, optando em 90% pela iluminação a
petróleo por influência de Vitorino de Oliveira Mendes. Como
resultado, José de Castro ficou sentido e, magoado, quando morreu
deixou 10% das suas propriedades a Valhelhas e 90% à Misericórdia.
Terra progressiva, mas com
cobranças difíceis, como é habitual, no início de 1949, a Direcção
do Grémio do Comércio da Guarda dirige um ofício dirigido a alguém
para que pague diversas transacções comerciais, pondo-lhe como
alternativa a intervenção de quem de direito.
Mais tarde, em 17 de Outubro de 1955, António Quitério, um jovem de
Valhelhas, que trabalhou antes numa padaria na Guarda, pede apoio ao
Grémio para obter um alvará de aluguer de transporte de mercadorias
num automóvel ligeiro de carga com o argumento de que ainda não
existe este tipo de transporte em Valhelhas. Pede que a Direcção do
Grémio confirme a situação e abone a sua idoneidade moral. Esta,
concordando com a necessidade deste serviço, mas pensando que não
devem apoiar e abonar só a ele, decidem oficiar a Direcção Geral de
Transportes Terrestres para que conceda os alvarás necessários e
abonar os que mereçam.
Contudo, António Quitério vendeu depois a Praça ao sr. Pompeu e em
1959 já era funcionário dos correios em Luanda donde regressou com a
descolonização. Era filho do cabo da Guarda Nacional Republicana,
José Quitério, agora recordado na freguesia pelas muitas peças de
teatro que encenou.
Agora, Valhelhas marca presença
como lugar turístico de eleição e com um público fiel. De facto, tem
um parque e uma praia fluvial que atraem turistas desde Maio a
Setembro, podendo alargar este período aos outros meses desde que
haja vontade política para o fazer e imaginação empresarial para o
concretizar. De facto, um enorme património arquitectónico e
cultural e ainda uma extensa área florestal, dá à freguesia bastante
rendimento pois é cuidada por uma equipa de 5 sapadores florestais
dirigida pelo Conselho Directivo de Baldios, que delega na Junta de
Freguesia. Tudo isto completa a actividade de recreio e lazer
propiciada pelo rio Zêzere como riqueza natural. Por outro lado, já
se realizaram aqui, e com muito sucesso, Festivais de Música que a
população deseja ver repetidos.
Aproveitam esta actividade
turística uma padaria, duas mercearias, dois restaurantes e quatro
bares, que servem de lugares de convívio para os muitos turistas que
aqui afluem durante o verão. Também há os que aqui vêm durante o
Natal, Carnaval, Páscoa e fins-de-semana. Criam-se desta forma
postos de trabalho temporários, que podiam multiplicar-se e
estabilizar como emprego permanente através da organização de um
cluster turístico. Com ele, articular-se-iam trajectos locais, que
mostrassem aos que visitam Valhelhas as paisagens de uma beleza
imensa, que acompanham os viajantes quando percorrem esta região a
pé, de bicicleta, de mota, de carro ou de autocarro. Seria o embrião
de uma actividade turística que conjugaria a serra e o rio.
De facto, acreditamos, e mostra-o
uma forte dinâmica demográfica, Valhelhas tem uma imensa capacidade
de acreditar no futuro, sendo terra de gente amiga que sabe receber
e que bem merece que não lhe impeçam esta oportunidade de futuro: um
cluster do turismo de natureza que aqui se articulará com o
turismo cultural.
Aires Antunes Diniz
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– Actas da Direcção do Grémio do Comércio do Districto da Guarda,
livro 6, págs. 50 a 59.
–
Actas da Direcção do Grémio do
Comércio do Districto da Guarda, livro 10, pág. 86-90. |