Para quem vem do distrito de Coimbra, fica Sandomil à
entrada do distrito da Guarda, servindo de sala de visitas
do concelho de Seia a que pertence. Perdi-me logo à saída de
Oliveira de Hospital e lá fui andando até Torrozelo, mas
antes vi o caminho pedonal para Sandomil. Vi uma placa que
indicava o caminho para Sandomil e fui por ali abaixo à
espera de encontrar um lugar para fotografar uma paisagem
fabulosa. Era difícil por a estrada ser má e não haver
qualquer desvio. Como receei atravancar o trânsito, fui
andando até chegar a uma urbanização moderna onde havia
vários lotes para venda. Fotografei-os logo.
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Para quem vem do distrito de Coimbra, fica Sandomil à
entrada do distrito da Guarda, servindo de sala de visitas
do concelho de Seia a que pertence. Perdi-me logo à saída de
Oliveira de Hospital e lá fui andando até Torrozelo, mas
antes vi o caminho pedonal para Sandomil. Vi uma placa que
indicava o caminho para Sandomil e fui por ali abaixo à
espera de encontrar um lugar para fotografar uma paisagem
fabulosa. Era difícil por a estrada ser má e não haver
qualquer desvio. Como receei atravancar o trânsito, fui
andando até chegar a uma urbanização moderna onde havia
vários lotes para venda. Fotografei-os logo.
Quando parei, vi que outra realidade estava bem perto. De
facto, as traseiras das casas antigas serviam de muralha
para um mundo rural bem diferente, fazendo recordar o tempo
em que Sandomil era a horta do Seia e de Oliveira do
Hospital e lugares em volta, pois a abastecia de muitos
mimos da agricultura familiar que o Alva potencia.
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Agora, que a emigração a esvaziou de gente, parece que só o
desemprego faz com que se plantem leiras de pimentos como forma de
minorar a falha de rendimentos. E no site da freguesia diz-se que
ainda agora abastece de “miúças”, plantas para replantar uma larga
região.
Mas, o facto de em S. Paio haver várias fábricas e muita actividade
que engarrafam a estrada, faz com que o desemprego não aflija
Sandomil. Só a aflige a quebra da actividade comercial que desanima
alguns que pensam em encerrar e onde outros se limitam a aguardar um
“milagre”. Parece.
Falam-me de que vai fechar a padaria e as lojas onde espreito o
vazio e prevejo a falta do proprietário. Animado estava o café
Passatempo onde muitos discutiam animadamente a crise, e por causa
dela Sócrates, a madrinha Merkel e o padrinho Sarkozy. É o resultado
de uma cultura emigrante que retornou para dar uma nova consciência
da nossa ligação ao mundo. É o Passa-Tempo um entre cinco cafés.
Aspecto de Sandomil.
Clicar para ampliar a imagem.
Vi ainda muitas casas encavalgadas umas nas outras, mostrando como
Sandomil tem crescido de forma anárquica nos últimos anos, mostrando
como lhe falta um pensamento urbano, que a valorize como passado e
presente. Entretanto, prosseguem as construções e reconstruções de
casas, mas persistem casas degradadas e com elas a necessidade de
repensar e requalificar Sandomil. Há como marca da história uma
ponte antiga que dizem ser romana, uma ponte pênsil e uma ponte nova
que a liga às anexas: Corgas, Furtado e Cabeça de Eiras. Como sempre
há também entre Sandomil e as suas anexas uma rivalidade intensa que
os blogues locais documentam. Infelizmente, algumas comissões de
melhoramentos deixaram de ter actividade.
Falta agora que os sandomilenses discutam o seu património
histórico, mal estimado, pior enquadrado e, infelizmente, mal
interpretado num percurso turístico, onde as casas brasonadas devem
inserir-se na nossa história secular. É o caso do Conde de Sandomil
que reclama mais investigação histórica sobre a sua acção na Índia.
O mesmo acontece com as suas igrejas e os seus santos, também eles
alvos de rivalidades entre sede e anexas. Mas, se ainda há
baptizados e ainda cinco vezes mais funerais, os idosos aproveitam a
vida e convivem nos muitos bancos da aldeia. Também a Associação
Humanitária de Sandomil existe para os apoiar cultural e
desportivamente. E emprega cerca de 20 pessoas. Que bom.
Junto ao rio, ao atravessarmos na ponte pênsil, encontramos um
parque de lazer que pode e deve ser um ponto de atracção com o seu
bar Agarraventura. Por culpa de um incêndio florestal que poluiu o
Alva e mais ainda por inércia, falta-lhe agora o peixe no rio. Era o
que podia atrair pescadores para as suas margens, mas estas são já
bem atractivas para um passeio calmo. Infelizmente, ao lado um belo
restaurante, como aventura empresarial, encerrou talvez por erros
vários e bem mais por falta de um plano turístico concelhio e
regional que valorize esta paisagem. Foi o que, infelizmente, lançou
mais desânimo na aldeia. Agora, outros fazem contas e prevêem a
possibilidade de êxito futuro e com ele mais emprego. De facto,
estes tempos de crise, quando a euforia deu lugar à calma, permitem
pensar o futuro com mais realismo. Espera-se só que o Estado e as
autarquias pensem o apoio a dar com pragmatismo e sem as
megalomanias do passado.
Aires Antunes Diniz
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