Sempre me lembro do tempo em que, à boleia e a caminho de Lisboa,
passava pela Lageosa. Era onde a estrada nacional serpenteava por
entre casas, tornando necessária mais atenção e perícia dos
condutores. Lembro-me de um acidente em que morreu um camionista que
entrou por uma casa adentro com estrondo.
Se para mim a Lageosa foi sempre um lugar de passagem, esteve sempre
ligada ao meu mundo pois o Mondego, com mais riqueza agrícola,
contrastava com o clima agreste do Jarmelo e de Pousade. Agora, a
Internet mostra-me bem a força de uma terra através dos seus muitos
códigos postais que guia o carteiro na distribuição do correio.
Como sempre tive por lá amigos, sempre a vi como uma terra cheia de
comércio e, agora, que alguns já fecharam, ainda existem três
mercearias. Recordo também uma loja que vendia de tudo e que era do
pai de um dos meus amigos, mas fechou há muito. Há agora só uma loja
de móveis, que é uma empresa familiar, mas antes havia uma outra.
Houve e há ainda aviários e, marcando a diferença, tem uma farmácia,
uma mais-valia de uma terra, que sofre a falta de uma extensão de
saúde. Infelizmente, fechou sem que a população reagisse
prontamente. Contudo, nota-se que a Junta de Freguesia tem uma
actividade variada que valoriza a terra, contrastando com a falta de
dinamismo de outras juntas de freguesia.
Como indústria, a Lageosa tem agora uma empresa de artefactos de
alumínio, que emprega meia dúzia de pessoas, e uma serralharia que
emprega umas três pessoas. Perto existe a Dura onde muitos
lageosenses encontram emprego. E para animar a noite há a bem
conhecida casa de diversão nocturna: o Solar do Mondego.
Na actividade turística, há ainda uma empresa de eventos na Quinta
da Lageosa, junta-se à Casa Do Brigadeiro que utiliza dinamicamente
os serviços do Booking.com e do Facebook para se promover no mundo
global. Há mais três restaurantes, Solneve, Stop e Tó Zé e muitos
cafés. Ladeiam todos ou quase todos a velha estrada agora bem menos
perigosa, pois o trânsito foi primeiro desviado para a perigosa IP5,
que tarde foi transformada na A25 que agora querem portajar.
Esperemos que não pois a Lageosa e a região da Guarda tem a sua
economia dependente das boas acessibilidades rodoviárias.
Por outro lado, é notável a actividade associativa local que faz
funcionar uma associação juvenil, o
Centro Recreativo e Cultural da Lageosa, fundado em 1985,
onde se pratica o futebol. Contudo, o que marca a vida da Lageosa é
uma dinâmica IPSS,
Associação
Lageosense de Solidariedade Social,
que dá trabalho a cerca de sessenta pessoas numa creche, Jardim de
Infância e ATL, Lar, Centro de Dia e Apoio domiciliário. Como
curiosidade, pois o faz sem depender da Câmara Municipal da Beira,
organiza AEC (Áreas de Enriquecimento Curricular) em articulação com
o Agrupamento de Escolas de Celorico da Beira para os jovens do
concelho. Contudo, a quebra demográfica afecta já negativamente as
suas actividades para crianças e jovens. Paralelamente participa no
Núcleo Social de Inserção de Celorico da Beira e Fornos de Algodres
e autarquicamente no Conselho Municipal de Educação, Comissão de
Protecção de Crianças e Jovens e, ainda, no Programa Comunitário de
Ajuda e Apoio aos Carenciados (PCAAC). Dão assim trabalho a muitos
trabalhadores, que vêm das mais diversas localidades do distrito.
Complementa este apoio local aos idosos uma empresa privada.
Casas apalaçadas, casas imponentes e casas tradicionais marcam a
paisagem, fazendo da Lageosa um local de veraneio, que tem o rio
Mondego e os seus afluentes como atractivos para uma estadia calma
em plena natureza. Não falta aqui uma rota dos museus, nem sequer um
circuito que faça o viajante deleitar-se com a paisagem envolvente.
Para o fazer quase nos basta seguir as setas, que, por vezes são
escassas, mas vale a pena perdermo-nos por aqui. Só nos falta uma
visão estratégica regional, que valorize o concelho e o distrito,
onde vivemos e onde queremos receber os viajantes à procura de um
Portugal Solidário e Competitivo e firme no prosseguimento do seu
destino. E apesar da fragilidade da governação…
Aires Antunes Diniz
"Notícias", 25 de Maio de 2011, pág. 10 |