CRISTO

 

À cabeceira tenho do meu leito

Um velho Cristo, antigo crucifixo,

À noite o seu olhar quando me deito,

Sobre mim sinto tristemente fixo...

 

Da cruz onde Ele jaz e onde padece,

Toda a carícia astral dos seus olhares,

Como uma bênção do Céu sobre mim desce,

Acalmando-me as mágoas e os pesares.

 

Mas se do leito me ergo e acaso o fito

Da lâmpada à luz dúbia. Ele me assombra:

Julgo ver na parede (e abafo um grito)

Horrorizado a minha própria sombra!
S. Paulo (Brasil)

Raul do Vale

 

 

01-12-2020