Ao pé da cova
– Coveiro, diz-me, a que altura
Cavaram esta sepultura?
– «Tão fundo quanto ordena a lei.
Eu mesmo a abri e eu a fechei.»
– Coveiro, é falso! A tua enchada,
Nem fez cova, nem fez nada.
E a prova é, do que te digo,
Que a morta sai – vem ter comigo.
Nenhuma noite só me deito
Que não a veja ao pé do leito,
Tão branca e triste e abatida
Como era dantes, quando em vida.
Nunca me fala, mas sorri-se
– Sorriso cheio de meiguice...
E ali fica a noite, assim,
Junto de mim e a olhar por mim.
Por horas mortas, se desperto,
Coveiro, eu sinto, é quase certo,
Uma impressão nítida e clara
De beijos álgidos na cara.
Coveiro, há mais... – Mas tenho medo
Que vás contar o meu segredo...
– «Convivo só com quem morreu...
Conte se quer – morto sou eu...» |