Arrastava a sua asa mutilada numa
manhã inundada de sol quando, subitamente, reparou que qualquer coisa se
movia junto do pé de uma coroa-de-rei.
É engraçado, um búzio aqui, como eu,
tão longe do mar! – Pensou incrédulo. Olhou-o, olhou-o e com o bico
tocou-lhe para ver se não seria uma miragem.
O caracol, quando sentiu aqueles
olhos fixos e a casa a rebolar, ficou transido de medo: «vou ser
comido!» E o pavor que sentia era tão grande que perdeu os sentidos.
Acordou quando o frio da noite
chegou. Longos minutos permaneceu imóvel, sem mexer um só poro...
Espreitou: nada! Do grande pássaro nada restava. A noite crescia em
volta, temida por Deus. Depois, esticou um pouco mais o pescoço e
começou a erguer os seus corninhos.
Nem quis comer nessa noite. Depois de
ter olhado bem à sua volta, lá foi para o seu buraco no tijolo, deixando
atrás de si uma vagarosa estrada de baba.
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