Nada é nunca para sempre. A bela
cegonha que vem escolher o seu ninho em Março, um dia não chegará... E,
tal como o melro deixou de acordar com os seus gorjeios as madrugadas
nos loureiros, também o caracol um dia partiu, deixando vazia e inútil a
casa que tanto tempo havia carregado às costas, perto do seu buraco no
tijolo.
Vieram as chuvas. A terra encheu o ar
com o seu aroma entontecedor e os sapos partiram em viagem pela negra
estrada de alcatrão.
Outros caracóis subiram o velho muro
e invadiram o jardim e de novo o buraco do tijolo serviu de refúgio,
porque lá, quem sabe, também se podiam esconder a cobra traiçoeira e a
feia lagartixa...
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