Da vida de Reinaldo de Oudinot, antes da sua chegada a Portugal, parece
nada haver que nos conte algo dele, e sua biografia.
De tudo quanto dele julgo saber, ao tempo em que arribou a Portugal,
todos nós éramos e estávamos em estado larvar e, pior ainda, proibidos ou
incapazes de, por nós próprios,
iniciar qualquer processo de evolução, que o mesmo era repensar.
Pela amostra do que projectou e fez, nos fins do século XVIII, em Aveiro,
e ainda pelo que não quis fazer, em 1803, na Madeira, prosseguindo apenas
e só, o que a própria natureza
iniciara, revela, além de inteligência, também cultura superior à
gentalha daqueles tempos, ainda não habituada a raciocinar, que o mesmo é
ponderar.
De tudo quanto dele julgo saber, fora alguém nascido em França, na
década de trinta do ano 1700, quando já neste país fervilhava o
espírito das revoluções francesas, que iria
tornar a França centro do mundo livre, e o homem, senhor de si mesmo e
não escravo de tradições e alguém.
Mas permitam-me que explane o que sei dessa época em França, quando
Reinaldo de Oudinot, adolescente, frequentara o liceu e a universidade,
para entrar no exército e arma
de engenharia, em nada parecido ao que então era e se passava em
Portugal, aqui pouco mais do que na Idade Média, com estudos e educação
virada para o passado, grotesca,
pesada e fradesca.
Em França, por morte prematura de Luís XIII, sucedeu-lhe o filho de 5
anos de idade, Luís XIV, que reinou 73 anos, desde 1642 a 1715, tutelado
pelos Cardeais, inicialmente
Mazarino e por morte
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deste por Rechelieu, que tiveram a virtude ou defeito, segundo a
perspectiva de cada um, para defender o rei menino, das garras e
tentativas de extorsão da parte de seus émulos e
competidores à realeza, criaram uma nova classe social, constituída por
gente vinda do povo, porém instruída, inteligente e culta, chamada gente
do rei, que só e exclusivamente
com ele, seus haveres e interesses, privava.
Este facto, a partir de meados do século XVII, criara uma nova classe
social e esta rotina que dinamizara a França e a tornara o centro da
revolução e evolução, intelectual do
mundo ocidental, com a exclusão da Península Ibérica e, mais propriamente,
o seu extremo ocidental, a culminar na década de noventa do século XVIII
com a revolução francesa,
levando ao cadafalso Luís XVI e a rainha Maria Antonieta.
Entretanto Reinaldo de
Oudinot, nascido na década de trinta do século
XVIII, não pode ter sido senão fruto destas influências, entre jovens
estudantes frequentando o liceu e
entretanto a universidade, em preparativos para a arma de engenharia do
exército francês, que de facto sabemos ter frequentado, óbvio ter-lhe
acontecido cair em desgraça, frente
a qualquer outro grupo revolucionário e condenado à guilhotina, que nesse
tempo trabalhava noite e dia.
Reparem que os seus inimigos eram tão poderosos, que o fugitivo Oudinot
nem se ficara pelas Castelas, onde ao tempo reinavam familiares de Luís XV rei de França.
Entre nós, refugiado no tempo do Marquês de Pombal, pouco depois do
terramoto de 1755, jovem evoluído entre gente pasmada e beócia, deve-se ter
feito notar. Além disto, quem
vivera intensamente na sua juventude, ganha além de sabedoria e
experiência, também como calosidade, para ficar entreaberto a
imprevistos e outros incidentes, no modo de
viver.
Sabemos ter casado com Maria Vicência Mengi, da qual houve uma filha,
Francisca Paula de Oudinot que, veio a casar com Luiz
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Gomes de Carvalho, oficial do exército da arma de engenharia, portanto
das altas esferas sociais, que o associaram ao sogro, na abertura da
barra de Aveiro.
Mas voltando
à ilha da Madeira, aonde se radicou em 1803 e veio a ser
sepultado em 1809.
Do pouco que parece ali ter feito, a mim demonstra além de inteligência,
equilíbrio e ponderação rara, mesmo que fosse hoje, pois verificando ser
a ilha constituída só de basalto,
pedra vulcânica, dura e impossível de ser trabalhada ao tempo, sem
utensílios capazes para o fazer, decidira prosseguir o que a própria
natureza iniciara, isto é, o desenvolvimento
das ribeiras para o saneamento, eliminando-lhe, dentro do possível,
curvas e socalcos para tornar a sua velocidade mais lenta e menos
impetuosa. Não acredito que o Oudinot tenha ficado muito entusiasmado
com a solução; porém, ao tempo e com os materiais que dispunha, deve ter
considerado minorada a
situação.
Este arquipélago, principalmente a ilha da Madeira, de origem puro
basalto, localizada geograficamente a escassos dez graus da latitude do
trópico de Câncer, proporciona-lhe,
durante todo ano, temperatura amena, flores de todas as matizes a
torná-la grande atracção turística.
De superfície cerca de 723 km2, é montanhosa e encimada por dois picos
de quase 2.000 metros de altura cada, o que a torna, à mistura com a sua
natureza basáltica, de enorme
capacidade magnética.
Acontece também, relativamente à sua posição geográfica, ficar pelo sul,
a tangenciar a zona de altas pressões, dita dos Açores, que se estende
desde cerca 42º 00' de longitude
oeste, prolongada pelas suas isóbaras, como lanças para leste, até às
Berlengas, na costa de Portugal Continental.
Como bem sabemos, o nosso planeta rola diariamente, ligado ao Sol pela
acção gravitacional deste, do qual recebe os seus raios de luz, com
maior incidência nas zonas
equatoriais e mais
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tangencialmente nas polares, do que resulta as águas oceânicas aquecerem
mais no Equador do que nos Pólos. E daqui, a formação das correntes
marítimas quentes, seguindo
na direcção dos Pólos, posicionados em plano mais baixo.
Entretanto no Equador, zona de elevadas temperaturas e consequentes
baixas pressões atmosféricas, é também correntio a formação de núcleos,
ainda mais depressionários, a
funcionarem individualmente e independentes da atmosfera envolvente, com
características próprias. Formados por corrente de ar frio descencional da estratosfera, com
características eIectromagnéticas e grau de humidade próprias, a
movimentarem-se, na direcção do Pólo do hemiciclo em que fora criada,
correndo em altitudes entre os 2500 a
4500 metros, a provocar cá e lá, conforme as condições atmosféricas
locais que vão encontrando, agravamento de tempo com chuvas, ventos e
trovoadas, sempre a provocarem
acidentes no seu trajecto, a caminho do Pólo e as suas altas pressões,
para as encher e acalmar. Será conveniente não esquecer que as centenas
de milhões de núcleos
depressionários, nascidos nas zonas equatoriais, têm todas
características próprias e diferentes de todas as outras suas similares,
como os filhos de qualquer animal, nascido no
mesmo ventre e até do mesmo óvulo, os gémeos, cada um tem as suas
características físicas e até outras, próprias a caracterizá-lo
individualmente como seja o seu grau de
humidade, intensidade electromagnética e força.
Nestes fenómenos atmosféricos, podemos também incluir, porém mais
perigosos por terríveis de enfrentar, os chamados ciclones do Atlântico
Norte, a correrem habitualmente na
Costa leste dos E.U.A, semelhantes aos furacões do mar da China, no
Pacífico, tempestades circulares monstruosas, também formadas pela acção
muitíssimo intensa de correntes
de ar frio vindas da longínqua estratosfera, a formar um núcleo central,
rodopiando a velocidade circular medonha, inconcebível e indescritível,
onde no centro calmo e muito escuro
se desenvolvem ventos que são o
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somatório da velocidade circular com a velocidade de transacção da
tempestade, deslocando-se no espaço na direcção do Pólo Norte.
Quer os ciclones como os furacões seus similares, devemos dividi-los em
dois hemiciclos: o perigoso e o de manobra. No primeiro, a velocidade
dos ventos resulta do somatório,
das velocidades circular com a de transacção e as suas direcções sopram
no sentido do centro da tempestade. No ciclo de manobra, não só a
intensidade dos ventos é a que
resulta da diferença entre as duas velocidades, de rotação como a
translação e a direcção dos ventos é no sentido dos bordos da
tempestade.
No fim dos anos quarenta e começos de cinquenta do século passado,
enquanto a corrente do Labrador se estendia e chegava aos bancos da Nova
Escócia, ida através do
Estreito de Bell Isle e Golfo de S. Lourenço, os três primeiros
arrastões portugueses eram correntios e frequentadores daqueles mares,
onde, na época própria, os ciclones eram
seguidos, apenas intervalados em dias, e nós a aguentá-los com o Santa
Joana, o Santa Princesa e o Álvaro Martins Homem parecendo, de capa
cerrada, autênticos submarinos.
Das várias experiências com estas tempestades, recordo a tragédia havida
com o veleiro dinamarquês Pamir, navio escola, provido de motor auxiliar
de propulsão, que assolado
por ciclone a sudoeste do Açores, soçobrou enquanto falava pela
telefonia com uma estação costeira dos E.U.A.
Ora, os correntios e frequentes núcleos depressionários, formados no
oeste Atlântico, correm como é normal para norte, entre a costa leste
dos E.U.A. e os Açores, para Árctico,
onde nas proximidades do Pólo alargam, amenizam e enchem.
Já o mesmo não acontece com os núcleos criados na zona equatorial do
centro Atlântico, entre o Brasil e o Golfo da Guiné, em África, que a
caminho do Pólo, esbarram na zona
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de altas pressões dos Açores, que, com o movimento da Terra, as encaminha
para leste, a passarem na Madeira.
Aqui, quer pela constituição basáltica que, como sabemos, tem poderosa
acção electromagnética, atraindo os magnetes das depressões, como não só
as aproxima dos altos picos
da ordem dos 2.000 metros de altura cada, que as rompe e desfaz em
trovoadas e chuvas torrenciais.
Mas não se quedam nem se desfazem totalmente aqui, dada a sua largueza e
amplitude, depois da tormenta realizada na Madeira, continuam a leste,
esbarradas a norte pelas
isóbaras das altas pressões dos Açores, a embicar nos distritos de
Santarém e Lisboa, onde ser frequente também provocarem largos prejuízos
às frágeis armações das estufas e outros sistemas de protecção às flores
e frutas, em que a região é fértil e abundante, para então daqui,
passarem a ganhar norte, nordeste
acima, a caminho do
Pólo.
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