Antes de chegar ao fim desta já muito longa dissertação, gostaria de
dedicar algumas palavras aos proprietários e agricultores das terras,
hoje um pouco afectadas, pelo maior
volume da onda de maré, entrada Ria, devido ao retardo ter diminuído, em
relação á passagem da Lua pelo meridiano do lugar e por conseguinte,
chegar mais rápido, volumoso e
longe do que atingia anteriormente, o que ocasiona inundar e
especialmente ensalitrar mais as terras limítrofes interiores, que os
proprietários primevos se apoderaram, e
influenciaram os legisladores a legalizá-las.
Obviamente, que não será para os mandar seguir caminho diferente do que
a sua determinação e pertinácia os aconselhar,
nem de modo nenhum lhes proporcionar ditos e novos espécimes
para agricultar. Porém, só para lhes recordar que o nosso mundo, isto é,
o planeta Terra, desde que há 1.500 milhões de anos iniciara a sua
formação, ainda não parou de evoluir,
em cada século que fora passando, e para melhor a notar-se por todos,
salvo para os velhos tarrincas, sempre a maldizerem o presente, diferente
do seu tempo de rapaz, em que
tudo era melhor.
Saudosismos, fora sempre o que nos ensinaram, para vivermos como no
tempo dos nossos avós, espécime de salazarismo, a viver o passado,
quando o tempo voa e de certeza,
o que nos espera, é futuro.
Eu também gostei sempre e muito de ler e rever a História, não para a
reviver, mas apenas para moderar ímpetos e repensá-los, a servirem-me de
espécie de velho do Restelo
que embora não tenha evitado as viagens e expedições das descobertas,
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obrigara os expedicionários a mais e melhor se prepararem e
acautelarem, para o que pudessem de difícil enfrentar.
Com o porto de Aveiro não só a servir o centro de Portugal, como toda a
zona oeste central da Ibéria, não haverá nesga alguma do Baixo Vouga
que não se venha a valorizar, não
para agricultura como terra úbere obviamente, mas para edificar e
desenvolver as várias indústrias e projectos que, inevitavelmente, irão
aparecer.
Vem tudo isto a propósito do remoer de alguns, usualmente a comunicação
social, ventilando a ideia de um suposto dique, para suster a
infiltração da água salgada que atinge as
terras, até aqui úberes e secas, agora encharcadas e insalitradas,
envenenadas para agricultar.
Habitualmente tudo quanto seja abordado na comunicação
social escrita, vista e falada, ganha vulto e publicidade que, quer seja
ou não seja verdade, cria um impacto na sociedade que é aceite como
verdade indiscutível, além de
aumentar as vendas e os seus réditos económicos.
Mas debrucemo-nos sobre o tal dique, lembrado com o fim de suprimir
avalancha de água salgada, que salga e inutiliza as terras, de modo que, a
agricultadas, não servirão para nada.
Mas tal dique e criado pela própria Natureza, fora o que sempre houve na
Laguna, desde que o genro do Reinaldo Oudinot resolvera abrir a barra
pelo norte do molhe, ficado na
história como o nome de meia laranja.
O que acontecera agora, depois de tanto dinheiro gasto e tempo perdido,
fora que, julgo-o incidentalmente, quando não havia mais nada para
fazer, havendo alguns blocos de
pedra crescidos da obra acabada e feita, resolveram aplicá-los e crescer
mais uns poucos de metros o paredão norte, mar dentro, e a Natureza
aceitara a solução.
Assim, atingida a corrente das Canárias que, desde o principio do mundo
sempre por ali perto passou e continua a passar sul
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abaixo, ao encontrar agora o acrescente do molhe recentemente
construído, esbarra nele, inflectindo barra adentro, não só a levar
consigo a onda de maré, como também as areias
que antes ali se depositavam desde 1808 a formar banco e, obviamente, a
cerrar a barra, por esta ter sido aberta por norte do paredão projectado
pelo Oudinot.
Fora então e a partir daqui que, agora as areias correm no
fluxo da maré barra adentro, para chegado o colo da preia-mar parar e
nesta paragem decantarem. E curiosamente o refluxo, isto é a vazante, se
tornar mais rápida por o retardo em
relação à passagem da Lua, pelo meridiano do lugar ter diminuído e assim
criado um desnível a fazer correr mais a vazante do que o fluxo ou
enchente tinha demorado.
Posto isto e para terminar, permito-me o simples conselho de
que ninguém se
deixe entusiasmar apenas por aparências, alongando mais o molhe norte
além do indispensável. Pois até
eu mesmo
admito que, na escuridão do profundo Oceano, possa estar errado; e, em vez
de areias movediças, que penso haver, o profundo Oceano seja rijo, duro e
perigoso levar a cabeça do
molhe mais fora do que o conveniente e trazer outros inconvenientes.
Por isso apelo ao cuidado, parafraseando Miguel Ângelo:
«não vá o sapateiro além da chinela.»
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