Os séculos foram passando, e a Vila Notável que, no seu auge – 1560 –
atingia 15.000 habitantes, começou a definhar em acentuado declínio,
devido por um lado ao crescente nível
das águas pluviais que tudo submergiam, por falta de escoamento, e
por outro, em consequência das epidemias que daí resultavam. E de tal
modo a situação se agravou e a vivência se degradou que, em fins do séc.
XVIII, a população de Aveiro
estava reduzida, a menos de 3.000 almas.
É então que, os cagaréus, em 1758, perdida a fé em qualquer milagres da
sua Princesa Santa e a esperança, num qualquer pau da barca onde,
naquele naufrágio, se pudessem
agarrar que, por
mero acaso e desígnio do destino, conseguem virar o curso da sua
história, de vida medíocre e decadente, ao manifestarem-se, publica e ruidosamente, contra o antipático D. José de Mascarenhas,
seu donatário, a repudiar o nefando crime de, ter encabeçado o gorado
atentado, contra a vida do rei D.
José, que o Marquês de Pombal lhe apontara.
Desta atitude da Câmara de Aveiro, que o Marquês muito
apreciou e aproveitara, logo a agonizante Vila passou, do abandono a que
tinha estado botada, a conseguir do poder constituído, tudo quanto até
então parecera inimaginável.
Primeiro, foi elevada à categoria de cidade e de seguida, proposta a
Roma a criação da diocese, que o Papa Clemente XIV homologou pela Bula Militatis Eclesiae Gubernacula.
Mas não se ficou por aqui o Marquês, em recompensas ao
apoio moral recebido!
Enquanto aniquilava o Duque de Aveiro e os Távoras, seus
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familiares, além de quase toda a insubmissa nobreza da época, criou
primeiro a Superintendência das Obras da Barra de Aveiro, que imediatamente
lançou o imposto de real de
água, a pagar por todas as câmaras municipais da Comarca de Esgueira,
aplicado ao vinho e à carne, comercializados nesta área. Depois, deu
autorização a João de Sousa
Ribeiro, Capitão Mor de Ílhavo, para, à sua custa, abrir um regueirão na
lomba, onde antes estivera a barra, na tentativa de escoamento da
Laguna, mas cujo resultado foi negativo.
O dinâmico impulso dado, pelo esclarecido Pombal, às coisas desta
região, tomou tal inércia que, nunca mais parou, indo até ainda, para
além da sua condenação e consequente
afastamento,
por D. Maria I
À gorada tentativa do Capitão Mor de Ílhavo, seguiram-se, em 1777, as
obras de Guilherme Eldsen e Isidro Paulo Pereira que,
apesar de subsidiadas e executadas, fracassaram obviamente, a exemplo de
todas as que posteriormente foram tentadas.
Segue-se em 1780, nova tentativa, de João Esegi e, em 1788, de Guilherme
Valery, das quais, também nada de positivo resultará
à drenagem da Ria.
Já no reinado de D. Maria, em 1791, o Superintendente das
Obras da Barra de Aveiro, Nuno Faria de Matos Amorim, apresentou ao
Governo, um plano para a abertura de uma barra em S. Jacinto que, tendo
sido aprovado, dotado e
executado por Estêvão Cabral e Luís de Allincourt, o mar logo a fechou,
como já acontecera a todas as anteriores tentativas, pois o mundo ao
tempo, caminhava lento e de olhos
fechados, pelo menos entre nós, onde os estudiosos e bem informados,
eram-no, apenas em línguas e literaturas, especialmente latim e grego,
porém, julgando-os segundo o meu
critério actual,
com a obrigação de pelo menos entenderem e discernir que, uma corrente
d' água intermitente, ao passar sobre uma lomba de areia, tem
dificuldade em permanecer correndo,
muito
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especialmente em sentido contrário, aonde começara tentando passar.
Cerca de 1798, o Príncipe D. João, que ao tempo era quem já governava,
isto muito antes de ser na verdade o rei João VI,
por alienação mental de sua mãe, a rainha D. Maria I, ordenara a
Reinaldo de Oudinot, um francês de muita fama e saber, que estudasse e
traçasse um projecto para abertura da
barra de Aveiro que, de facto nunca fora barra, só assim chamada pelo
povo ignaro e simples, pois barra é passagem livre de entrada e saída do
mar, entre dois pontos fixos, o
que nos are ais da costa de Aveiro, jamais existira.
O que ali se pretendia ao tempo, era o que hoje se chama de sanear a
Laguna que, pela mesma Natureza que lhe dera
origem e forma, depois do último período glaciar, a fechara
hermeticamente, ao rondar os finais do século XVI, isto é ao tempo dos
reis Filipes, e de tal forma que, não obstante as
várias
tentativas de a reabrir, as águas doces dos rios e invernias,
continuaram a tudo inundar, por mais cerca de 200 anos, do que resultara
apodrecimento, tornando-se enorme foco
infeccioso de febres e epidemias que ,não só a cidade como todas o Baixo
Vouga, desertificaram.
E de tal modo que a população, só em Aveiro e no século XVI chegara
atingir os 16.000 habitantes, dois séculos depois ao chegar à última
década do ano de 1700, não ia além
das 3.000 almas quer por mortos ou fugidos para outras paragens.
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