Atlântico Norte, a Laguna de Alavário e o porto de Aveiro – pp. 13-16


III – Um pouco de divagação filosófica

Mas permitam-me divagar um pouco, filosoficamente sobre o mundo activo de cada um de nós, não para exibir conhecimentos aprendidos nos bancos das escolas sobre sebentas escritas por outros, que as foram alinhavando e compilando para os alunos aprenderem, mais ou menos decoradas, a formarem doutores e catedráticos que um dia serão jubilados, porém e só sempre a lerem e aprender o que no conjunto outros palavraram.

Quando no terceiro quarteirão do século XIX, Carlos Darwin estabeleceu a teoria da evolução das espécies vivas, e cerca de um século mais tarde, Einstein definiu e estabeleceu,  a teoria da relatividade, a inteligência dera um enorme passo e salto no conhecimento dos homens, a atingir um grau de agudeza que, seja qual for a questão e tema, eles procurando encontram não apenas explicações como soluções.

No Mundo, quer Infinito, como no Solar, em especial no Globo Terrestre, tudo é transitório e em evolução, com o seu começo ou nascimento e a ter seu fim.

O Infinito, onde os radioastronautas já verificaram e concluíram estar-se alargar a velocidades inconcebíveis, até aqui julgáveis impossíveis de algo se deslocar, já verificaram a existência de outras Galáxias e Sois, onde haverá, possivelmente, viver, à nossa semelhança.

Já não restam dúvidas que, a Terra fora uma massa disforme, vinda não se sabe ainda donde nem quando, constituída por cerca de duas vezes e meia, massa líquida e uma parte
de sólida, que entrada no circuito e influência da estrela Sol, em rodopio, como hoje ainda acontece na formação dos ciclones, fora por ele
/ 14 / aquecida e por si própria, ao longo de milhões de anos, arrefecida, até que, em momento e estádio próprio, de reacção química, o raio solar faiscou, fazendo tremelicar as células vegetais, onde a vida começou.

Fora a partir daqui e da evolução das espécies, que o Mundo crescera, sempre a evoluir, crescer e ensinar que, tudo quanto nasce evolui, até principiar a definhar e morrer.

Fatalmente, assim acontecerá ao nosso Mundo desde o Big Bang, matéria e energia vindas há muitos milhares de milhões de anos, e com certeza, como acontece a tudo que tem princípio, terá fim e também morrerá. Daqui a quantos milhões de anos? Não sei e julgo ainda ninguém calcular.

Do que julgo saber, é que todos os seres inteligentes têm por dever e obrigação aprenderem a ser cidadãos do Mundo Social que, o mesmo é dizer, colaborante com a maior parte, acima dos seus interesses pessoais.

Mas perdoem o meu longo intermisso e desvio da Costa de Portugal e muito especialmente da Costa de Aveiro, ao que vou voltar, especialmente arenosa criada na reentrância entre as serras de Espinho a norte e a da Boa Viagem, ao sul.

Dos povos mais remotos que devem ter por aqui passado, mar fora entre tantos outros, foram os fenícios, que alguns dos nossos contemporâneos, dizem e especulam terem deixado raízes humanas, exemplificando com os ilha vos, gente tendenciosa pela imensidão dos mares e oceanos.

Ora, entre muitas outras conjecturas, e especulações sobre os fenícios, que obviamente, muito depois de Hércules ter separado o Calpe do Ábila, vindos dos confins do Mediterrâneo, a explorar as cassiterites hispânicas, ao costear a Lusitânia para o norte, dobrado o cabo S. Vicente e atingida a baia de Cascais onde, por certo, terão feito aguada, além de idos, por leste dentro com a maré, depois dali saírem, seguindo ainda a norte e dobrado o Cabo Mondego, sempre a roçar a praia, que era assim então / 15 / como se navegava para se orientarem, ao passar entre hoje Mira e Ovar, notaram, no colo da preia-mar, que o Oceano entrava pela terra adentro e por aí se deixaram ir, com o fluxo da onda de maré, até aportarem na Laguna, cujo nome, só dois milénios depois, veio a ser de Alavario.

Curiosamente, depois de entrados, a maré desceu e eles verificaram que, a abertura ao mar largo, por onde haviam entrado, tinha desaparecido dando lugar a lomba de areia que ali se manteve, até ao preia-mar seguinte.

Mas a Laguna era imensa, e os fenícios que até aí tinham vindo, de proa na estrela Polar, assim continuaram, porém agora, curiosamente, com terra por bombordo, sem nada avistarem por seu estibordo, até abicarem às marinhas, nas imediações do actual Ovar, ou talvez mais a lés-nordeste, onde outros, ali também chegados e vindos de longe, fundaram a Talábriga (?) que, três milénios mais tarde, seriam herança de Mumadona Dias.

Terá sido ali então que, terão encontrado pescadores normandos, bretões e britânicos, julgo eu carregando sal, colhido nas reentrâncias naturais das praias interiores, onde espontaneamente se acumulava, e sido a eles que, terão ouvido falar do estanho e do cobre, da velha Albion e até da rota a seguir.

Nesse tempo, há cerca de quatro mil anos, já a lomba arenosa avolumava, durante as baixas mares, como atrás foi dito, a ligar os promontórios de Espinho e Boa Viagem, porém sempre mais adelgaçada, entre o que hoje são Ovar e Mira, pela obstrução das águas pluviais, caídas das serranias interiores.

Na evolução desta lomba, cuja altura foi crescendo em função de quadras de bom tempo e mar, com maior acumulação, obviamente, em períodos de acalmia, acontecia que, quando vinha a tempestade e muito especialmente se coincidente e conjugada à onda de maré viva, em especial nas sizigias, era arrasada e alargada, no sentido oeste-leste, a criar base de sustentação, para outras próximas acumulações. / 16 /

Assim foi crescendo e alargando, particularmente a sul de Espinho e norte do Mondego, onde rapidamente se ligou ao maciço continental.

No decurso do processo deste alargamento, grande parte das areias movimentadas, não se fixou na lomba, mas seguiu para o interior da Laguna, suspensas na maresia, até o fluxo de maré parar e as decantar no fundo.

Assim se formaram milhentas ilhotas, que entretanto se agruparam em ilhas, a obstar os estuários dos ribeiros e rios, obrigados a curvas e desvios, até se juntarem, desaguando no mais caudaloso, o Vouga, do qual se tornaram afluentes.

Entretanto este, cada vez mais pujante, foi-se opondo à obstrução das areias, nas quais abriu cales e canais, cujo destino e direcção foi o mar, entre Ovar e Mira, a manter aí a lomba, mais frágil e sujeita a fracturas, ou, mais precisamente, derrubamentos.