Mas permitam-me divagar um pouco, filosoficamente sobre o mundo activo
de cada um de nós, não para exibir conhecimentos aprendidos nos bancos
das escolas sobre sebentas escritas por outros, que as foram alinhavando
e compilando para os alunos aprenderem, mais ou menos decoradas, a
formarem doutores e catedráticos que um dia serão jubilados, porém e só
sempre a lerem e aprender o que no conjunto outros palavraram.
Quando no terceiro quarteirão do século XIX, Carlos Darwin estabeleceu a
teoria da evolução das espécies vivas, e cerca de um século mais tarde,
Einstein definiu e estabeleceu, a teoria da relatividade, a
inteligência dera um enorme passo e salto no conhecimento dos homens, a
atingir um grau de agudeza que, seja qual for a questão e tema, eles
procurando encontram não apenas explicações como soluções.
No Mundo, quer Infinito, como no Solar, em especial no Globo Terrestre,
tudo é transitório e em evolução, com o seu começo ou nascimento e a ter
seu fim.
O Infinito, onde os radioastronautas já verificaram e concluíram
estar-se alargar a velocidades inconcebíveis, até aqui julgáveis
impossíveis de algo se deslocar, já verificaram a existência de outras
Galáxias e Sois, onde haverá, possivelmente, viver, à nossa semelhança.
Já não restam dúvidas que, a Terra fora uma massa disforme, vinda não se
sabe ainda donde nem quando, constituída por cerca de duas vezes e meia,
massa líquida e uma parte
de sólida, que entrada no circuito e influência da estrela Sol, em
rodopio, como hoje ainda acontece na formação dos ciclones, fora por ele
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aquecida e por si própria, ao longo de milhões de anos, arrefecida, até
que, em momento e estádio próprio, de reacção química, o raio solar
faiscou, fazendo tremelicar as células vegetais, onde a vida começou.
Fora a partir daqui e da evolução das espécies, que o Mundo crescera,
sempre a evoluir, crescer e ensinar que, tudo quanto nasce evolui, até
principiar a definhar e morrer.
Fatalmente, assim acontecerá ao nosso Mundo desde o Big Bang, matéria e
energia vindas há muitos milhares de milhões de anos, e com certeza,
como acontece a tudo que tem princípio, terá fim e também morrerá. Daqui
a quantos milhões de anos? Não sei e julgo ainda ninguém calcular.
Do que julgo saber, é que todos os seres inteligentes têm por dever e
obrigação aprenderem a ser cidadãos do Mundo Social que, o mesmo é
dizer, colaborante com a maior parte, acima dos seus interesses
pessoais.
Mas perdoem o meu longo intermisso e desvio da Costa de Portugal e muito
especialmente da Costa de Aveiro, ao que vou voltar, especialmente
arenosa criada na reentrância entre as serras de Espinho a norte e a da
Boa Viagem, ao sul.
Dos povos mais remotos que devem ter por aqui passado, mar fora entre
tantos outros, foram os fenícios, que alguns dos nossos contemporâneos,
dizem e especulam terem deixado raízes humanas, exemplificando com os
ilha vos, gente tendenciosa pela imensidão dos mares e oceanos.
Ora, entre muitas outras conjecturas, e especulações sobre os fenícios,
que obviamente, muito depois de Hércules ter separado o Calpe do Ábila,
vindos dos confins do Mediterrâneo, a explorar as cassiterites
hispânicas, ao costear a Lusitânia para o norte, dobrado o cabo S.
Vicente e atingida a baia de Cascais onde, por certo, terão feito
aguada, além de idos, por leste dentro com a maré, depois dali saírem,
seguindo ainda a norte e dobrado o Cabo Mondego, sempre a roçar a praia,
que era assim então
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como se navegava para se orientarem, ao passar entre hoje Mira e Ovar,
notaram, no colo da preia-mar, que o Oceano entrava pela terra adentro e
por aí se deixaram ir, com o fluxo da onda de maré, até aportarem na
Laguna, cujo nome, só dois milénios depois, veio a ser de Alavario.
Curiosamente, depois de entrados, a maré desceu e eles verificaram que,
a abertura ao mar largo, por onde haviam entrado, tinha desaparecido
dando lugar a lomba de areia que ali se manteve, até ao preia-mar
seguinte.
Mas a Laguna era imensa, e os fenícios que até aí tinham vindo, de proa
na estrela Polar, assim continuaram, porém agora, curiosamente, com
terra por bombordo, sem nada avistarem por seu estibordo, até abicarem
às marinhas, nas imediações do actual Ovar, ou talvez mais a
lés-nordeste, onde outros, ali também chegados e vindos de longe,
fundaram a Talábriga (?) que, três milénios mais tarde, seriam herança
de Mumadona Dias.
Terá sido ali então que, terão encontrado pescadores normandos, bretões
e britânicos, julgo eu carregando sal, colhido nas reentrâncias naturais
das praias interiores, onde espontaneamente se acumulava, e sido a eles
que, terão ouvido falar do estanho e do cobre, da velha Albion e até da
rota a seguir.
Nesse tempo, há cerca de quatro mil anos, já a lomba arenosa avolumava,
durante as baixas mares, como atrás foi dito, a ligar os promontórios de
Espinho e Boa Viagem, porém sempre mais adelgaçada, entre o que hoje são
Ovar e Mira, pela obstrução das águas pluviais, caídas das serranias
interiores.
Na evolução desta lomba, cuja altura foi crescendo em função de quadras
de bom tempo e mar, com maior acumulação, obviamente, em períodos de
acalmia, acontecia que, quando vinha a tempestade e muito especialmente
se coincidente e conjugada à onda de maré viva, em especial nas
sizigias, era arrasada e alargada, no sentido oeste-leste, a criar base
de sustentação, para outras próximas acumulações.
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Assim foi crescendo e alargando, particularmente a sul de Espinho e
norte do Mondego, onde rapidamente se ligou ao maciço continental.
No decurso do processo deste alargamento, grande parte das areias
movimentadas, não se fixou na lomba, mas seguiu para o interior da
Laguna, suspensas na maresia, até o fluxo de maré parar e as decantar no
fundo.
Assim se formaram milhentas ilhotas, que entretanto se agruparam em
ilhas, a obstar os estuários dos ribeiros e rios, obrigados a curvas e
desvios, até se juntarem, desaguando no mais caudaloso, o Vouga, do qual
se tornaram afluentes.
Entretanto este, cada vez mais pujante, foi-se opondo à obstrução das
areias, nas quais abriu cales e canais, cujo destino e direcção foi o
mar, entre Ovar e Mira, a manter aí a lomba, mais frágil e sujeita a
fracturas, ou, mais precisamente, derrubamentos.
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