Além disto, como já antes referi, o caso de, além de ser marinheiro,
também pescador, mas do mar largo e alto, não só a proporcionar-me, ver
e observar a corrente do Golf Stream, em si e ao vivo, mas mais do que
isto, estudá-la auto didacticamente, não apenas o seu curso, como também
os seus efeitos e pormenores.
Ora este Golf Stream, chegado à excrescência que é a Ilha da Terra Nova,
em relação ao continente americano, onde começa o Oceano Glacial
Árctico, com parte dele por ser água mais quente, assoalhar-se sobre a
superfície fria do Árctico, pressionando-a a se afundar contra o fundo
sólido e rochoso, a iniciar aqui, uma corrente fria no sentido do
Equador, como a compensar pelo fundo, a quantidade que, à superfície o
Golf Stream lhe retira ininterruptamente.
Entretanto e ainda no Árctico, a outra parte da Stream que não consegue
na sua totalidade, sobrepor-se em toda a imensidão das águas frias e
geladas, que formam aquele Oceano Glaciar, animada pela rotação da Terra
no sentido oeste leste, vai-o condicionando até embicar na península da
Escandinávia, norte da Europa, que a obriga a seguir a sul, e passar na
Ibéria, com o nome de corrente das Canárias, em direcção ao Equador.
Ora tudo isto não passaria deste genérico esquema, se eu,
profissionalmente, não tivesse de perseguir os cardumes de canídeos, a
viverem na confluência das correntes de água quente e fria, tentando
capturá-los.
Nesta situação, em vez de perder o meu tempo, só analisar os astros e
seu cariz, calculando as condições de tempo para o dia seguinte, mais do
que isto aplicava a minha atenção a
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calcular, qual a linha de rumo em que fugiam ou se deslocavam
tendenciosamente os ditos cardumes de bacalhau, que eu perseguia e
pescava, como seu grande predador.
Fora então que, repentinamente me lembrei, os peixes só nadarem de
cabeça metida contra a corrente d'água, e que no meu caso, os cardumes
quando os consegui seguir, sempre terem desaparecido, na direcção do
centro das baixas pressões próximas, que formadas no Equador,
acompanhavam usualmente o Golf Stream a seguir para o norte.
Embora e, nesse momento, não tenha pensado ter descoberto a pólvora,
fora para mim, muito mais do que isso, pois abriu-se no meu
entendimento, a razão das piscinas no mar da praia da Costa Nova e a
própria formação da Laguna de Aveiro, que erradamente, e não sei porquê,
deram para a chamar de Ria.
Compulsar a história em busca de fontes documentais e arqueológicas que
nos falem e digam alguma coisa da formação, primórdios e evolução da
muito velha laguna, nascida na reentrância costeira, entre as serras de
Espinho e Boa Viagem, é, quanto a mim, obra impensável, por impossível
de concretizar.
Qualquer observador atento, ainda que só por curto lapso de duas
gerações, aos fenómenos e mutações produzidas nas nossas praias de mar,
antes de transformadas nas actuais costas rochosas e alcantiladas, pela
intromissão de toneladas de pedregulhos, para ali atirados pelo homem,
em protecção ao avanço do mar, concluiria que os oceanos, neste caso o
nosso Atlântico, devido ao seu progressivo crescimento em altura e em
função do normal aquecimento do Globo Terrestre, não param de subir e
comprometer grande parte do que, nós homens programamos e fizemos, ao
longo dos tempos, sem quaisquer estudos, ou pelo menos, noção da
evolução, incluso o aquecimento do Planeta, que é aqui que está o
busílis do problema.
O aumento de temperatura da Terra é norma e natura indiscutível que, até
acelera a evolução de todas as espécies
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animais, vegetais e até minerais, não obstante ainda aparecerem alguns
pretensos doutores, cujo saber resulta, exclusivamente de estudos
didáctico pregados por outros nos salões das escolas, baseados apenas em
supostos registos termo laboratoriais atmosféricos locais, compilados ao
longo de anos, sem ter em atenção e comparativamente o aumento em todos
os continentes da desertificação e nos mares, o aumento do seu volume.
Dos seres vivos, animais e vegetais, não são precisas muitas décadas
para se constatar a evolução, com umas a definharem-se e outras a
notar-se a evolução.
Quem não reconhece que os mamíferos hominais se têm desenvolvido quer em
altura, elegância e até intelectualmente, por as hormonas das várias
gerações e força de novas culturas fixado outras resistências residuais.
Mas parecendo desviado da Laguna, cujo meu fim e intenção é dela falar,
especulando e explicando a sua formação.
Fundamentar o aparecimento deste nosso incidente costeiro arenoso,
aparentemente contra natura, na acção erosiva e carreadora das águas,
que das serras, especialmente da Lapa, se despenham com relativa
mansidão e se lançavam então, directamente no Atlântico, será, quanto a
mim, ignorar em absoluto a força e o impacto, quer da arrebentação das
ondas, da ressaca e da corrente d'água ali na praia, como sobreavaliar o
caudal do Vouga e seus afluentes, além de minimizar a dureza granítica e
xistosa dos seus leitos e margens.
Posto isto, numa altura em que, dobrado o cabo dos anos, já não dá gosto
e muito menos gozo, exibir saber que me distinga ou realce, tentarei, no
entanto aqui, desenvolver o tema da Laguna, sua formação e evoluir,
assunto que sempre me cativou e ao qual dedicámos e demos o melhor da
nossa atenção, usando nisto entretanto, a par de saber, também alguma
imaginação.
O documento histórico, mais longevo que se conhece a falar das coisas da
Laguna, remonta a Janeiro de 959, em testamento da
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Condessa Mumadona Dias, ao Convento de Guimarães, onde são doadas as
suas terras e marinhas em Alavario, nome essencialmente latino que deve
ter evoluído exactamente como todos os vocábulos, mercê da simples e
fácil dicção do povo, que obvio a primeira coisa que perdera fora o
prefixo AI. Além de justo comprovante e bastante de há cerca de mil anos
a exploração de sal na Laguna, ser já então, actividade economicamente
rentável, de importância reconhecida e digna de ser doada.
Antes disto porém e em concreto, nada mais sabemos, julgando até nada
existir de credível e capaz de servir de base à história deste ponto
notável, mas terrivelmente instável, da costa portuguesa. Na sua falta
porém, e por não me pesarem pergaminhos, de geofísico, hidrógrafo ou
historiador, que não sou nem quero parecer, mas bem estribado em
observações, analises e respectivos efeitos comparativos, em centenas de
milhares de locais diferentes e de consequências semelhantes, ao longo
da corrente que tem inicio no lado leste do Pólo Norte, a se estender ao
longo da costa nordeste do Canadá, pelo Mar de Baffim, estreito de
Davis, baia de Hudson e Costa do Lavrador, do qual recebe o seu nome, e
que ao chegar ao Estreito de Belle Isle, no extremo norte da ilha da
Terra Nova, se subdivide em dois ramos, um dos quais banha o Golf de S.
Lourenço, descendo pela Nova Escócia, a morrer no Mame, norte dos E.U.A.
O outro ramo, mais caudaloso, passa em frente a Bell Isle, seguindo a
sul, a banhar e estender-se pelos bancos do leste da Terra Nova, atingir
toda a costa sul da ilha, para se ir afundar e submergir, na fundura, ao
sul dos bancos, a caminho da zona equatorial, como a compensá-la, por
baixo e em águas frias, o que por cima sobre aquecidas, se esvai, no
Golf Stream.
À imagem do ocorrido com a corrente do Lavrador, o mesmo ou semelhante
se passa, com a corrente dita do Spitzberg, também nascida no Pólo,
porém no lado oeste do que, em função do movimento curto e rápido da
Terra nas zonas polares, a corrente é lançada para leste, a passar no
arquipélago das Spitzbergs e atirada
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contra a costa leste da Groenlândia, ao longo da qual desce, para sul
até ao Cabo Farwell, onde no extremo, carregada de imensos campos e
ilhas de gelo, se afunda completamente, contra a pujança do Golf Stream.
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