No mundo remoto de há cerca de 3.000 anos, cuja história clássica, mais
romanceada do que objectiva e real, por a mente humana sempre ter sido e
ainda hoje é, mais atreita aos sofistas do que às coisas e agentes
reais, o homem vivia limitado ao seu mundo, globalizado ao grande Oceano
Mediterrâneo, parado no tempo, com o Sol a rolar diariamente ao seu
redor e o Oceano, subdividido nos Sete Mares. Ligurio, Tirreno,
Adriático, Jónio, Egeu, da Marmara e o Azof prolongado no Negro.
Porém, com o andar dos anos, no tempo, outros homens, mais irrequietos e
viajados do que os primeiros, foram constatando e vendo que o mundo
afinal, era mais lato do que os seus maiores contavam, e no seu
conservadorismo instrutivo, guardaram a expressão literária dos Sete
Mares e alargaram-na aos Mar Vermelho, Mar da China, aos Mares de África
Oriental e África Ocidental, o Índico e o Pérsico.
Até que em pleno século XVII, com Galileu Galilei a negar a teoria de
Ptolomeu de Alexandria que, não era o Sol que se movia, mas sim parado,
com o nosso Globo Terrestre rodopiando diariamente, a mostrarmo-lo em
cada manhã!
Fora então que, alguém servindo-se ainda dos Sete Mares, subdividiu a
grande massa líquida do nosso planeta Terra, nos sete grandes oceanos.
Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico Sul, Índico,
Glacial Árctico e Glacial Antárctico, baseados nos ventos alísios
predominantes, em que cada um deles impera.
Chegado a este ponto da história, dos antigos Sete Mares, que desde os
seus primórdios, sempre serviram a muito boa gente,
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para dela falar e escrever, aqui e a mim também servirá como intróito,
ou talvez melhor dito ao que pretendo, como rampa de lançamento, ao que
a seguir irei contar.
Mais por destino de vida e peripécias de família, do que por gosto e
intuição própria, acabei a adolescência por ser marinheiro, não obstante
meus pais, com quatro filhos rapazes, tudo tenham feito, para que no
Ílhavo, mundo de então, o destino corrente e comum de seus meninos não
ser o Mar.
Dos três primeiros e mais velhos, pelo menos na aparência, o desvio não
fora difícil, não apenas por os pais ainda jovens, vigorosos e
determinados, mas também por assim ter calhado.
Porém, os anos passaram rápidos, quase esfogueteados, e eu que era o
mais novo, e como tal menos reverente, enquanto eles, idosos, cansados e
por conseguinte menos rigorosos, acabei a minha vida de jovem menino,
por ir parar no mar largo e aos tombos pelos Oceanos. Assim, nos
Transportes Comerciais Marítimos, de um porto para o outro, no Mar.
Estes sempre iguais, imensos e sem beleza, salvo quando tempestuosos,
emocionantes por ajudado pelos ventos sibilantes, a obrigá-los a bradar
e a investir connosco a querer-nos abocanhar.
De resto e para sul, a ultrapassar o Equador, directo às ex-colónias,
era tudo quanto restava ao viver de marinheiro.
Em guerra, entre 1939/1945, não das estrelas de Orson Wells, mas para
mim sempre de colete de salvação vestido, apenas a ser recoveiro, nem
sempre a saber de certeza a mercadoria que transportava, rotulada por
fora, sem ter a certeza de ser isso mesmo dentro. Com submarinos,
repentinamente, a emergir e interrogar qual a carga transportada.
Em tal situação, sem nada a estudar e eu aprender, resolvi continuar
marinheiro porém pescador. Seria mais duro, violento e sofredor? Porém
mais dinâmico, estimulante e compensador.
Desde a mais tema idade, que me reconhecera ser, ligeiramente
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diferente do comum dos meus conhecidos e amigos, pois sempre que
observavam fosse o que fosse, coisa, pessoa ou fenómeno, ficavam com
muito que contar, por reterem na sua memória, pormenores de pequenas
coisas, como cores destacadas, que a mim passavam despercebidas, por eu
na minha olhada, sobre a mesma paisagem ou objectiva, só abarcar o seu
todo e genérico, enquadrado no seu lugar.
Se virtude ou defeito não sei, mas apenas que, em mim e no meu
pensamento, ficava a ruminar e a impor-me, sobre a questão, pensar e
repensar mais pormenorizadamente e melhor.
Recordo ainda criança, ao banho no mar, na praia da Costa Nova, o Ti
Pataneco, velho banheiro, gritar do alto da lomba, a fazer das mãos
megafone, e dizer: "cuidado, olha que a ressaca vai, com muita força, ao
sul". O que eu sentia e logo atentava, no porquê de, uns dias seguidos
isto acontecer, enquanto noutros, nem sentir a corrente e ainda até ir a
norte, e nestes casos, o mar fazer crescer mais de que uma lomba de
areia, onde a ondulação quebrava e seguia pela linha da costa acima, a
fazer lagoeiro, a que nós denominávamos de piscina, onde crianças e
adultos nadavam, despreocupadamente.
Entretanto os anos foram passando e eu crescendo, e na escola aprendendo
que, no Oceano Atlântico e seu hemisfério norte, haver um curso de água,
nascido na região do Equador, de nome Golf Stream, cujo destino ao longo
da costa do continente americano, segue a norte.
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