Atlântico Norte, a Laguna de Alavário e o porto de Aveiro – pp. 5-7


I – No mundo remoto de...

No mundo remoto de há cerca de 3.000 anos, cuja história clássica, mais romanceada do que objectiva e real, por a mente humana sempre ter sido e ainda hoje é, mais atreita aos sofistas do que às coisas e agentes reais, o homem vivia limitado ao seu mundo, globalizado ao grande Oceano Mediterrâneo, parado no tempo, com o Sol a rolar diariamente ao seu redor e o Oceano, subdividido nos Sete Mares. Ligurio, Tirreno, Adriático, Jónio, Egeu, da Marmara e o Azof prolongado no Negro.

Porém, com o andar dos anos, no tempo, outros homens, mais irrequietos e viajados do que os primeiros, foram constatando e vendo que o mundo afinal, era mais lato do que os seus maiores contavam, e no seu conservadorismo instrutivo, guardaram a expressão literária dos Sete Mares e alargaram-na aos Mar Vermelho, Mar da China, aos Mares de África Oriental e África Ocidental, o Índico e o Pérsico.

Até que em pleno século XVII, com Galileu Galilei a negar a teoria de Ptolomeu de Alexandria que, não era o Sol que se movia, mas sim parado, com o nosso Globo Terrestre rodopiando diariamente, a mostrarmo-lo em cada manhã!

Fora então que, alguém servindo-se ainda dos Sete Mares, subdividiu a grande massa líquida do nosso planeta Terra, nos sete grandes oceanos. Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico Sul, Índico, Glacial Árctico e Glacial Antárctico, baseados nos ventos alísios predominantes, em que cada um deles impera.

Chegado a este ponto da história, dos antigos Sete Mares, que desde os seus primórdios, sempre serviram a muito boa gente, / 6 / para dela falar e escrever, aqui e a mim também servirá como intróito, ou talvez melhor dito ao que pretendo, como rampa de lançamento, ao que a seguir irei contar.

Mais por destino de vida e peripécias de família, do que por gosto e intuição própria, acabei a adolescência por ser marinheiro, não obstante meus pais, com quatro filhos rapazes, tudo tenham feito, para que no Ílhavo, mundo de então, o destino corrente e comum de seus meninos não ser o Mar.

Dos três primeiros e mais velhos, pelo menos na aparência, o desvio não fora difícil, não apenas por os pais ainda jovens, vigorosos e determinados, mas também por assim ter calhado.

Porém, os anos passaram rápidos, quase esfogueteados, e eu que era o mais novo, e como tal menos reverente, enquanto eles, idosos, cansados e por conseguinte menos rigorosos, acabei a minha vida de jovem menino, por ir parar no mar largo e aos tombos pelos Oceanos. Assim, nos Transportes Comerciais Marítimos, de um porto para o outro, no Mar.

Estes sempre iguais, imensos e sem beleza, salvo quando tempestuosos, emocionantes por ajudado pelos ventos sibilantes, a obrigá-los a bradar e a investir connosco a querer-nos abocanhar.

De resto e para sul, a ultrapassar o Equador, directo às ex-colónias, era tudo quanto restava ao viver de marinheiro.

Em guerra, entre 1939/1945, não das estrelas de Orson Wells, mas para mim sempre de colete de salvação vestido, apenas a ser recoveiro, nem sempre a saber de certeza a mercadoria que transportava, rotulada por fora, sem ter a certeza de ser isso mesmo dentro. Com submarinos, repentinamente, a emergir e interrogar qual a carga transportada.

Em tal situação, sem nada a estudar e eu aprender, resolvi continuar marinheiro porém pescador. Seria mais duro, violento e sofredor? Porém mais dinâmico, estimulante e compensador.

Desde a mais tema idade, que me reconhecera ser, ligeiramente / 7 / diferente do comum dos meus conhecidos e amigos, pois sempre que observavam fosse o que fosse, coisa, pessoa ou fenómeno, ficavam com muito que contar, por reterem na sua memória, pormenores de pequenas coisas, como cores destacadas, que a mim passavam despercebidas, por eu na minha olhada, sobre a mesma paisagem ou objectiva, só abarcar o seu todo e genérico, enquadrado no seu lugar.

Se virtude ou defeito não sei, mas apenas que, em mim e no meu pensamento, ficava a ruminar e a impor-me, sobre a questão, pensar e repensar mais pormenorizadamente e melhor.

Recordo ainda criança, ao banho no mar, na praia da Costa Nova, o Ti Pataneco, velho banheiro, gritar do alto da lomba, a fazer das mãos megafone, e dizer: "cuidado, olha que a ressaca vai, com muita força, ao sul". O que eu sentia e logo atentava, no porquê de, uns dias seguidos isto acontecer, enquanto noutros, nem sentir a corrente e ainda até ir a norte, e nestes casos, o mar fazer crescer mais de que uma lomba de areia, onde a ondulação quebrava e seguia pela linha da costa acima, a fazer lagoeiro, a que nós denominávamos de piscina, onde crianças e adultos nadavam, despreocupadamente.

Entretanto os anos foram passando e eu crescendo, e na escola aprendendo que, no Oceano Atlântico e seu hemisfério norte, haver um curso de água, nascido na região do Equador, de nome Golf Stream, cujo destino ao longo da costa do continente americano, segue a norte.