Mercantéis e moliceiros, bateiras e traineiras

Os Povos da Beira-Ria...
Ninguém os pode parar...
Seus labores são dois amores...
Que a Ria obriga a abraçar!

Ora à terra, ora ao mar!
Se um lavra, outro pesca!
Ala arriba! É para ajudar!
Há lá gente como esta!

Mercantel voga na ria...
Pé fincado na amurada!
Ganha-pão de mais um dia.
Branco sal à canastrada!

Moliceiro, sem bolina...
Vara ao peito, vento à cara!
Vai no canal da salina!
Vai o barco ou atola a vara?!

Um que vai, outro que vem...
Mercantel e moliceiro!
Vida e beleza que tem
A luz na Ria de Aveiro!

Mercantel da Fonte Nova
Carrega tijolo e cal
Quando volta da Murtosa,
Ele é junco, é pão, é sal!

Mercanteis no cais do Fojo?
Grande feira das cebolas!
Enquanto descarga e carga,
Namoriscam-se as moçoilas!

"Saleiro" vem da salina,
"Anda à vara" e "anda à vela"
Voga, nas calmas, pela Ria,
Vem da festa "Botadela!"

Voga o barco, vai "à vela"
Na Ria, em ledo saleiro,
Marnotos da "botadela"
Cantam motivos de Aveiro!

Bem carregada de junco
Vaia bateira na Ria.
Vai tão macio tapete...
Perfumar que romaria!?

Do Boco vim, de bateira,
Larguei junco e outra tralha...
Perdi-me, junto à Ribeira.
Encalhei na tua "malha!"

As águas, do Vouga, deixo...
Bebendo bom vinho de bagos...
Vou, sem provar águas de Eixo,
Pelo Boco, de barco, a Vagos!

Fui ao moliço, ao Lameiro,
Fui ao junco, à Ribeira,
Perdi-me, no nevoeiro,
Encontrei-te, na Torreira!

Desde Mira até Ovar...
Cada povo com seu cais!
Mercantéis e moliceiros
Como dantes, nunca mais!

Vai, traineira, ao nosso mar,
Traz-nos fresca pescaria!
Mor sabor de caldeirada
Tem mar, tem rio, tem ria!
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Textos retocados e com cortes.

Aveiro - 1989-1990
 

 

09-01-2021