Vezes
sem conta, algumas delas a despropósito, fomos/somos metralhados com
frases do tipo “o direito de propriedade é sagrado”, “a casa de um
homem é o seu castelo”, e outras que tais. Entretanto, lentamente,
muito lenta e discretamente, pelo menos até certa altura, ia
crescendo e ganhando forma uma nova corporação, a dos caçadores. Não
dos caçadores a que estávamos habituados, mas uma outra espécie. Uma
casta que tudo pode.
Por um lado, financeira e economicamente, dominando as grandes
herdades onde galopam grandes manadas de veados e pastam javalis com
fartura, não havendo, naturalmente, qualquer outro tipo de produção.
Por outro lado, há os outros que não dominando as propriedades
através do poder do dinheiro, as devassam e desrespeitam os seus
proprietários, de forma incrível, violando todas regras e leis.
Impunemente ensaiam as espingardas disparando contra as paredes das
casas dos montes, abatem tudo o que mexe, apropriam-se de
“recordações”, apanham azeitonas para a conserva, e se aparece algum
descuidado//desenfiado borrego ou frango a jeito, também não lhes
escapa.
Os elementos desta nova e poderosa casta (temos que reconhecer o se
poder), de camuflado vestidos, quais frustrados últimos”guerreiros
do império”, metem despudoradamente as viaturas dentro de uma
qualquer propriedade, onde à hora entendida por conveniente
confeccionam/comem o repasto do almoço,
Arrancam pernadas das árvores para fazerem esconderijos, sem
qualquer respeito pelo tipo de árvore ou escolha da pernada, para
além do mais fácil.
Se os devotados cães, por qualquer motivo não cumprem as ordens (até
podem ser mal dadas) especiais/operacionais da caçada, são muitas
vezes abandonados, quando não abatidos na hora.
Se alguém, mesmo dono da propriedade, lhes faz algum reparo, quando
não lhe apontam a arma é, no mínimo, enxovalhado.
Obviamente que nem tudo na caça é mau e nem todos os caçadores são
vis.
Mas algo/muita coisa vai mal neste sector . Urge disciplinar. O
respeito é bonito e todos dele gostamos.
Luís Jordão
Março de 2000
Ilustração
Guilherme Alves Coelho |