Índice do Almanaque.
 

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

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O Livro Vivo

Pesquisa de Graça M. V. Anjos Jordão

 

Como seria o primeiro livro?

Seria impresso ou escrito à mão? Seria de pano ou de qualquer outro material? E se, por acaso, ainda existe, poderá ser encontrado em qualquer biblioteca?

Conta-se que houve uma vez um homem suficientemente ingénuo para querer procurar este primeiro livro em todas as bibliotecas do mundo. Passava dias inteiros a rebuscar em montes de livros carcomidos e amarelecidos pelo tempo. Já tinha o fato e o calçado cobertos de uma espessa camada de pó como se acabasse de chegar de uma longa viagem por uma estrada poeirenta. Por fim, caiu de uma daquelas grandes escadas que se apoiam nas prateleiras das bibliotecas e morreu. Mas ainda que ele tivesse vivido mais cem anos, as suas pesquisas não teriam dado quaisquer resultados, apesar do primeiro livro ter aparecido na terra muitos milhares de anos antes de ele nascer.

O primeiro livro conhecido pela Humanidade em nada se parece com os dos nossos dias. Em nada se parece, porque tinha pés e mãos e não estava arrumado numa prateleira. Andava, sabia falar e até cantar; e deslocava-se de terra em terra. Enfim, era um livro vivo: era um homem!

Nesses tempos remotos, quando os homens não sabiam ler nem escrever, quando não existiam nem livros, nem papel, nem tinta e muito menos canetas, as tradições dos antepassados ficavam guardadas nas memórias dos mais velhos. As leis e as crenças não se conservavam em prateleiras, mas na memória dos homens. Estes morriam, mas as tradições continuavam vivas e transmitiam-se de pais para filhos. Ao passarem de boca em boca, as histórias modificavam-se um tanto. Tal como os pontos que se acrescentam nos contos, também aqui os retransmissores acrescentavam umas coisas e esqueciam-se de outras. Tal como as águas dos rios nas superfícies das pedras, o tempo polia-as e tornava-as mais lustrosas e atraentes. A lenda de um bom guerreiro tornava-se a história de um gigante que não temia nem os dardos nem as setas, que corria pelos bosques como um lobo e que dominava as alturas como uma águia.

Nos recantos ignorados deste mundo há ainda uns velhos que contam estas histórias de que nunca poderíamos encontrar a origem escrita; chamam a essas histórias contos de fadas ou lendas.

Há muito tempo, na Grécia, costumava-se cantar a Ilíada e a Odisseia, que eram as histórias das guerras havidas entre Gregos e Troianos. E passaram-se séculos antes que alguém escrevesse o que se cantava, porque foi preciso inventar a escrita e os respectivos suportes. E desde os primeiros papiros, tabulas de argila ou cobertas de cera, entre outros, até à invenção do papel, muitas águas tiveram de correr nos rios.

Um cantor, ou aedo, como lhe chamavam os Gregos, era sempre bem recebido numa festa.

Imaginemo-lo sentado, encostado a uma coluna larga, com a lira pendurada por cima dele. O banquete está quase no fim, estão vazias as grandes travessas de carne e vazios estão também os cestos de pão. Acabaram de retirar as taças de ouro de duas asas; os convidados estão satisfeitos e esperam a música.

O aedo pega na lira, tange as cordas e começa a longa história do audacioso Ulisses e do valoroso Aquiles.

Os cantos dos aedos eram lindos, mas os nossos livros são muito mais agradáveis. Com alguns euros, podemos comprar uma edição da Ilíada ou da Odisseia e transportá-la facilmente nas nossas algibeiras, se tivermos o cuidado de escolher uma edição de bolso. E estes livrinhos não nos pedem nada, porque não precisam nem de comer, nem de beber, nunca estão doentes e podem desafiar o desgaste de Cronos, que nos vai consumindo de minuto a minuto. Tal como os deuses da mitologia greco-latina, os nossos livros impressos também são imortais, se tivermos um mínimo de cuidado e os soubermos preservar.

E isto faz-me lembrar uma história: ...

(in: O Homem e o Livro) – adaptado

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