Começo
esta crónica com as palavras com que encerrei um colóquio «Sobre o toiro
de lide e a evolução da pega». Realizou-se na tarde de 23 de Julho de
2004, na Igreja de Santiago, no mesmo dia, dia tórrido de 40 graus, em
que se estreou o Grupo de Forcados Amadores de Monsaraz, às 22 horas,
numa praça desmontável instalada no campo de futebol do Telheiro. No
castelo actuava, também nessa noite, o Bernardo Sassetti que a morte,
tão prematura, levou em 10 de Maio de 2012. A música, a sua arte,
ficarão para sempre. Tantas coincidências numa mesma data!!! O mundo
está cheio delas. O que temos é de saber procurá-las… O final da minha
palestra acabou assim: «Nestes campos de Monsaraz pasta uma ganadaria
brava. No seu castelo continuam a realizar-se espectáculos de toiros.
Hoje estreia-se o seu Grupo de Forcados. Há tradições que mantêm viva a
paixão pela “Fiesta”, neste recanto do Alentejo, crestado, profundo, mas
cheio de encantos. Por estes montes, onde os nossos antepassados
deixaram marcas profundas, que atestam, de forma clara, o seu remoto
povoamento, andou o poeta e escritor Miguel Torga que, em 31 de Maio de
1986 escreveu, nos seus “Diários”, um poema dedicado ao menir do
Outeiro:
«Salve, falo sagrado,
Erecto na planura
Ajoelhada!
Quente e alada
Tesura
De granito,
Que, da terra emprenhada,
Emprenhas o infinito!».
Com
estas palavras de Torga termino esta palestra, confiante que o Toiro, o
Senhor Rei da Festa, terá sempre, nestas paragens transtaganas, onde é
quase idolatrado, o seu lugar cimeiro, como o menir erecto na planura
imensa, mantendo viva uma cultura ancestral que todos temos obrigação de
preservar.»
Nessa
noite os Forcados Amadores de Monsaraz tiveram a sua primeira actuação,
comandados pelo Mário Gomes e apadrinhados pelos Amadores de Montemor,
chefiados pelo Rodrigo Correa de Sá. Pegaram-se novilhos-touros da
ganadaria da herdade da Machoa do Eng.º Luís Rocha, provedor da Santa
Casa da Misericórdia de Monsaraz, e também ele, forcado dos Amadores de
Santarém na sua juventude. A cavalo actuaram os ainda cavaleiros
praticantes António Maria Brito Paes, Manuel Ribeiro Telles Bastos e
Duarte Pinto. Os três, toureiros de dinastia. O tempo passou… O grande
lago do Alqueva encheu. Os forcados de Monsaraz, porque é deles que vos
falo, percorreram estes anos pegando toiros e levando o nome desta Terra
altaneira a outras paragens, agora chefiados pelo cabo David Rodrigues.
Dos seus
elementos actuais faz parte um sobrinho meu que, num mail que enviou
em Janeiro de 2010, me dizia: «O Grupo de Monsaraz é um grupo de uma
região pequena, mas o que o caracteriza não é o tamanho, mas sim a
União, a Amizade, o Companheirismo e, acima de tudo, o gosto de pegar
touros bravos! É um grupo de amigos que gosta de pegar touros. É em
Monsaraz que consigo encontrar tudo isto, pois este Grupo é uma
Família.» Foram estas as palavras do meu sobrinho Sebastião e estou
certo que elas definem a vossa forma de estar na Festa. Desejo que a
vontade, a garra, o querer e a afición destes portugueses das jaquetas
de ramagens, honrarão sempre uma Arte e uma Terra com raízes tão
profundas.
Quando
pisarem as arenas, nunca esqueçam que há muitos que estão a rever em vós
o castelo e a hospitalidade de uma das mais emblemáticas terras
portuguesas.
A. J.
Zuzarte, Maio de 2012 |