nas antigas hostes não
havia clareiras:
a metralha varava.
porém, outros peitos
tapavam as brechas –
na coluna certeira
a voz cantava: “ó
homens que dormis,
vinde ao clamor das
lutas viris!”. sim, lembrai
que assim foi. mas,
olhai! onde estão os homens?
de que carne e de que
sonhos agora feitos?
e onde os peitos?
apenas clareiras vejo
e a metralha manda… e
onde é que resistem
os homens, onde? inda
será que existem
onde a mentira planta
cardos e o desejo
castra vontades?
acordai. eh! acordai
dos silêncios mais vis
e outra vez marchai
no passo do futuro.
vinde: avançai
por onde a planície
espera o fruto maduro
regado pela
resistência. que só os mortos
justificam sua falta
de comparência
mas desistência nunca.
acordai as águas
e acordai os ventos
–
cantai também os hinos.
nem as mágoas ousam
esmagar liberdades
mesmo que as
hipocrisias nos firam e matem,
mesmo que as sereias
nos entorpeçam os votos.
despertai agora os
sinos pra que rebatem
nas nossas vilas as
terríveis tempestades.
sobretudo sonhai – oh,
sonhai e fazei,
que nunca é crime
combater a ímpia lei.
ou então: desesperando
a causa,
ide aos covais e dizei
aos mortos
que sequer houve lutas
finais.
chamai-os nas tumbas –
voltarão!
não há vivos? lutem os
fantasmas;
não há presente? não
faltarão
nem as vozes, os
braços, as armas.
o futuro não aceita
pausa.
a náusea, sim: é ela
que deve esperar.
os que já tombaram
mandam-nos avançar. |