No meu país, europeu, hoje, a injustiça continua a grassar sem peias, os
pobres, no mais doloroso sentido do termo, contam-se aos milhões. Há
quem nem sequer consiga tratar das mais simples maleitas, especialmente,
como sempre, os velhos e/ou desfavorecidos, porque os médicos não chegam
a/para eles. O fosso entre ricos e pobres é cada vez mais largo e mais
fundo. A cultura é tratada como coisa de somenos importância.
Alimenta-se, de modo científico, o consumismo até ao absurdo. A trilogia
dos efes é de novo (se é que alguma vez deixou de o ser) utilizada para
desviar a atenção de todos e de cada um de nós dos reais e
incontornáveis problemas do quotidiano (como dizia, com irónica
tristeza, a minha avó Maria: pobretes mas alegretes), acenando-nos os
futpatriotas (de bizarros e apalhaçados atavios) com bandeirinhas
portuguesas de papel, os batinados (crucifixo de ouro ao pescoço) com o
lindo futuro de doces anjinhos, se não levantarmos ondas, cantando-nos
os outros o destino tendo em fundo os harmoniosos e inocentes acordes da
viola e da guitarra.
Entretanto, como acima dizemos, distraída e descontraidamente, vamos
comprando de tudo um pouco (supérfluo incluído) mesmo sem dinheiro,
criando dividas que nunca mais acabam, enchendo assim, com juros sobre
juros e mais juros dos juros, tudo legal, os alforges de todos os
agiotas, especialmente os pomposamente chamados de instituições
bancárias.
No meu país, europeu, hoje, o desemprego e o trabalho incerto, criam e
alimentam a duvida e a dor. A corrupção, a fraude, o tráfico de
influências e o proxenetismo são coisas banais. Por isso, cresce a olhos
vistos o medo das represálias e, logo, por concomitância, a terrível
auto censura comportamental, não vá o diabo tecê-las...
Face a isto e ao muito mais do mesmo, obviamente, a tão
ambicionada/sonhada liberdade porque muitos lutaram, continua a ser uma
coisa perdida na lonjura por entre a bruma da utopia.
Portanto, e sem qualquer sombra de dúvida, no meu país, europeu, hoje,
como conclui, cansado do papão do défice, consciente e sempre
inconformado, o meu patrício João Tapadas: embora em contexto diferente,
é certo, o vento ainda "cala a desgraça" no meu país, a arte e a escrita
dos não vendidos são um grito de revolta, e a cantiga ainda "é uma arma"
que tem que continuar a ser usada, porque é da maior importância não
deixar de "avisar a malta".
Luís Jordão |